Por: André | 15 Dezembro 2015
“O critério para determinar a moralidade de seu uso não consiste em perguntar se são naturais ou artificiais, mas em reconhecer sinceramente se seu uso é digno e responsável. Seu uso será responsável quando se respeitar mutuamente a saúde, a sensibilidade e a dignidade das pessoas.”
A reflexão é de Juan Masiá é publicada por Religión Digital, 10-12-2015. A tradução é de André Langer.
Eis o artigo.
Lemos em Religión Digital o seguinte: “O cardeal Peter Turkson, principal conselheiro do Papa Francisco para questões climáticas, afirmou à BBC que “a Igreja nunca se opôs ao planejamento familiar (sempre e quando for feito de forma natural)”.
Se a citação estiver correta e corresponder às palavras do cardeal, será preciso recomendar à Sua Eminência para que insista no uso das aspas ou do itálico para destacar a expressão “de forma natural”. Por quê? Porque não se pode dizer que o uso digno e responsável de um preservativo ou de uma pílula ou de um dispositivo intra-uterino, etc. seja algo antinatural ou não natural. Não é antinatural usar óculos com lentes de graus.
Artificial não significa antinatural. O contrário do natural não é o artificial, mas o antinatural. Tanto os chamados “métodos naturais” como os chamados “métodos artificiais” (ambos entre aspas) podem ser usados de uma forma muito natural ou de uma forma muito antinatural (por ser indigna ou irresponsável).
Usar devidamente o artificial é natural. Por outro lado, quando se fala de evitar uma gravidez, deixando de ter relações coitais nos dias férteis da mulher e tendo-as unicamente nos dias inférteis, não se deve designar estes métodos com o nome de “métodos naturais”. Ou, caso forem chamados assim, será preciso colocar “naturais” entre aspas ou em itálico, para que fique claro que também o recurso aos outros métodos, chamados artificiais, é natural.
Ou seja, que uns e outros podem ser usados de uma maneira muito natural, como é muito natural usar óculos (que são um artefato, algo artificial), se correspondem aos graus da própria vista. Não seria natural se não fossem do grau correspondente.
Devemos acabar de uma vez por todas e para sempre com o grande mal-entendido da encíclica Humanae Vitae do Papa Paulo VI (1968) e deixar de pensar que os chamados impropriamente “métodos naturais” são a única regulação da natalidade moralmente válidos.
O critério para determinar a moralidade de seu uso não consiste em perguntar se são naturais ou artificiais, mas em reconhecer sinceramente se seu uso é digno e responsável. Seu uso será responsável quando se respeitar mutuamente a saúde, a sensibilidade e a dignidade das pessoas.
Mas, a verdade é que estas discussões serão estéreis no marco de uma teologia que não se decide a abandonar o lastro de distinções escolásticas sobre pseudoproblemas de sexualidade.
“Disse um discípulo ao mestre: eu tirei toda a carga e me libertei por completo. Agora, o que me resta fazer? Respondeu-lhe o mestre: estás em um verdadeiro apuro. Apressa-te o quanto antes para tirar o muito que te resta. Mas se já não me resta nada e tirei tudo, disse pesaroso o discípulo. Bom, se te empenhas em não ser, continua assim. Continua com tua carga nas costas” (Do cap. 55 de Vivir: Espiritualidad en pequeñas dosis. Desclée, 2015).
E isso é justamente o que acontece com a Igreja com os pseudoproblemas da sexualidade...
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Natalidade responsável: usar dignamente o artificial é natural - Instituto Humanitas Unisinos - IHU