14 Dezembro 2015
"A convocação do Ano Santo da Misericórdia foi realmente um ato profético do papa, e as pessoas entenderam como ele é importante hoje." O cardeal teólogo Walter Kasper é o autor, dentre outros, de um texto que Francisco citou no primeiro Ângelus do seu pontificado, no dia 17 de março de 2013, "é um livro que me fez muito bem": intitulava-se "Misericórdia".
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 10-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Eminência, você concelebrou com cardeais e bispos a missa de abertura. Acredita que o dia foi condicionado pelo medo?
Eu penso nas pessoas que vieram e superaram o medo. É compreensível que haja um pouco de temor depois de Paris. Mas esses fiéis mostraram, como também dizia o papa, que não devemos ter medo: se nos deixássemos intimidar, seria uma primeira vitória daqueles que semeiam o terror.
Alguns dizem que podia ter havido mais gente, outros calculam também as outras dezenas de milhares que chegaram até a noite.
Eu não sei, também seria preciso levar em conta a transmissão ao vivo, o fato de que a celebração foi longa. Mas o essencial é o testemunho de confiança em Deus e na Igreja dos muitos que estavam lá. Com a sua presença, quiseram dizer que não deixamos ditar a nossa atitude por essas pessoas fanáticas e malvadas.
Francisco disse: a Igreja precisa deste Jubileu.
Certamente, todos nós precisamos dele, mais do que nunca neste tempo: precisamos de solidariedade, de uma sociedade menos fria e mais humana, de cuidar do outro. Além disso, a mensagem da misericórdia é o exato oposto do que os terroristas fazem. Nós defendemos a misericórdia: para ajudar e não destruir, não matar. Essa é a verdadeira alternativa, a única que, no fim, pode vencer.
Por que o papa diz que as reformas estruturais não são suficientes?
Porque, sozinhas, embora necessárias, elas não podem mudar a mentalidade. Permaneceriam como algo de exterior. Mesmo as estruturas hierárquicas devem ser um serviço de misericórdia, não de poder. Quando Francisco fala de "conversão pastoral", ele nos diz que a primeira reforma diz respeito ao coração: para ser um pastor que está com o seu rebanho, que tem o cheiro das ovelhas.
Como você viveu o primeiro dia?
Eu me comovi. Foi bonito ver que Bento XVI também cruzou o limiar da Porta Santa, um gesto que mostra a continuidade entre os dois papas. E ouvir Francisco que falava da abertura ao mundo do Concílio, do encontro com os homens do nosso tempo. Abre-se um ano de misericórdia e de recepção, aplicação e continuação do Vaticano II.
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Jubileu, o testemunho de uma sociedade menos fria e mais humana. Entrevista com Walter Kasper - Instituto Humanitas Unisinos - IHU