04 Dezembro 2015
"Dedicar um Jubileu à misericórdia significa lembrar que o nome de Deus não é nada mais do que isso. Não há fé nem cristianismo sem misericórdia." Era o dia 17 de março de 2013. O papa, durante o seu primeiro Ângelus, citou aquele que era então o último livro do cardeal Walter Kasper, Misericordia (Ed. Queriniana). Francisco, como o próprio cardeal presidente emérito do Pontifício Conselho para o diálogo ecumênico, "fez com que se entendesse que esse seria o sentido mais profundo do seu pontificado".
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 02-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
O papa também falou de Isaías.
O profeta Isaías afirma que, mesmo que os nossos pecados fossem vermelho-escarlate, o amor de Deus os tornará brancos como a neve. É assim para todos.
Você entregou o seu livro a Francisco. O que o papa lhe disse?
Ele me disse que a misericórdia é o nome de Deus. É o único critério sobre o qual seremos julgados. Não seremos perguntados se fomos à missa todos os domingos – isso, sim, é importante, mas o critério do juízo de Deus será a misericórdia que tivemos com relação aos outros.
É por causa dessa mensagem que Francisco também consegue ir ao encontro daqueles que estão longe da fé?
Francisco é uma figura profética. Ele entendeu qual mensagem profunda de Deus é preciso dar ao mundo. E, de fato, muitos o compreendem.
O recente Sínodo dos bispos levou a Igreja pelo caminho da misericórdia, sem ainda abrir à comunhão aos divorciados. Por quê?
O Sínodo deu um passo sobre a necessidade de abrir as portas da Igreja a todos. Sobre a comunhão aos divorciados, esperaremos o que o papa vai dizer. Mas dissemos que todos, se quiserem, devem fazer parte da Igreja. Lembrou-se o caminho já aberto por Tomás na sua Summa Theologica, segundo a qual, sem pôr em causa a indissolubilidade, a Igreja pode se curvar sobre as situações individuais, caso a caso, além do rigorismo e do laxismo.
A misericórdia é uma palavra forte em chave ecumênica e inter-religiosa.
Lutero se perguntava como ter um Deus misericordioso. E muitas suras do Alcorão se abrem com uma invocação a Alá, o misericordioso.
Os recentes fatos de Paris dizem que nem todo o Islã compartilha isso.
Quem cometeu esses crimes não pode sequer se dizer muçulmano. São apenas fanáticos, seguidores de uma ideologia própria.
Uma Igreja misericordiosa, porém, não renuncia a um tribunal próprio. O que você pensa sobre o Vatileaks?
Acho que é justo condenar aqueles que, de dentro do Vaticano, divulgaram as cartas, se foram cometidos crimes. Porém, as cartas mostram uma Cúria ainda a ser reformada. Mas muitos documentos, nesse sentido, são velhos: o papa já resolveu muita coisa. E, aliás, estou certo de que ele vai até o fim.
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"Ninguém será excluído da Igreja de Francisco." Entrevista com Walter Kasper - Instituto Humanitas Unisinos - IHU