02 Dezembro 2015
"Os crimes ambientais desde o Ciclo do Ouro no Brasil Colonial até nossos dias não foram punidos e ficam apenas como registros históricos. E o futuro das barragens?", questiona Juracy Nunes, médico e pequeno produtor rural em Monteiro, em artigo publicado por EcoDebate, 01-12-2015.
Eis o artigo.
A comoção que o mundo está vivendo com o rompimento da barragem em Mariana (MG) em 05 de novembro de 2015 merece comentário e condolências de nossa parte às famílias enlutadas e ao meio ambiente. A barragem do Fundão era uma entre muitas outras existentes no Brasil para coletar dejetos (lixo) de mineradoras. No Nordeste do Brasil, região muito açudada o termo açude ou barragem é sinônimo de recurso hídrico precioso. São obras feitas no passado com as mãos magras e calejadas dos filhos da terra e a com a força dos jumentos e dos bois de carro. A finalidade destas barragens ainda hoje é coletar água de chuva para evitar que aquela riqueza vá para o mar que de água já está farto. A água das barragens nordestinas serve para matar a sede de gente e de bichos nas secas que sempre voltam. São fontes alimentadoras de importantes ecossistemas.
Na região montanhosa de (MG) o conceito de barragem é outro. O conteúdo das barragens das mineradoras não alimenta nem dessedenta ninguém. É terra, pedra e água suja, formando uma misturada venenosa com capacidade de exterminar seres vivos e contaminar o solo.
Lá, grandes pedras que formam montanhas que são bens da natureza, são quebradas, lavadas, peneiradas a procura de metal, do ouro ao minério de ferro para ser vendido pelo mundo afora. Coletado o que tem valor, na fonte chamada mina fica a cratera, a pedra sem valor comercial, a terra, com pó de pedra e os elementos químicos componentes das rochas que ali expostos passam a constituir fatores de risco para a humanidade e para o meio ambiente.
A barragem do Fundão não suportou o peso da carga represada e estourou naquele dia fatídico para MG, para ES, para o Brasil e para o mundo. Desceu pelo caminho das águas do Rio Doce a lama tóxica destruindo tudo. No percurso de mais de mais de 700 km de sua origem até o mar, ficou para sempre o rastro da destruição.
O Rio Doce perdeu o sentido da origem de seu nome. O povo daqui pra frente tem medo de pôr os pés nas areias das praias capixabas. A lama turva misturada com a água do Atlântico segue para o Norte da direção da Bahia e para o Sul na direção do Rio de Janeiro. Agora, três semanas após a catástrofe sem precedente no Brasil, restos humanos dos desaparecidos ainda são encontrados nos escombros. Os crimes ambientais desde o Ciclo do Ouro no Brasil Colonial até nossos dias não foram punidos e ficam apenas como registros históricos. E o futuro das barragens?
Na nossa modesta opinião, uma frase de uma só linha, escrita por quem de direito daria uma esperança de melhores dias a este pedaço do Planeta Terra chamado Brasil. A frase seria mais ou menos assim:
“Está proibida por tempo indeterminado a prática de mineração no Brasil”
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O futuro das barragens das mineradoras - Instituto Humanitas Unisinos - IHU