Por: André | 16 Novembro 2015
“Seguramente, muitas pessoas não conseguem imaginar a atualidade de tudo isso. Agora se diz, em todo o mundo, que importantes “mandachuvas” da cúria romana não toleram o Papa Francisco. E a história se repete. Assim, nos encontramos diante de uma situação que se parece (mais do que alguns suspeitam) com aquela que ocorreu na vida de Jesus.”
A reflexão é do teólogo espanhol José María Castillo, e publicada por Religión Digital, 13-11-2015. A tradução é de André Langer.
Eis o artigo.
Os Evangelhos nos dizem, repetidas vezes, que as pessoas que exerciam o máximo poder na sociedade judaica do tempo de Jesus, tinham medo (Mc 11,18; 12,12; Mt 14,5; 21,26.46; Lc 20,19; 22,2). Concretizando mais, aqueles que tinham medo eram os “sumos sacerdotes”, os “senadores” (“anciãos”) e os “escribas” ou mestres da Lei (Mt 21, 26. 46; Lc 20, 19; Mc 11, 18; Lc 22, 2). Ou seja, os assustados eram os homens do poder, aqueles que mandavam naquela sociedade.
E de quem tinham medo? Simplesmente do “povo” (Mc 11,18; Mt 21,26; Lc 20,6, etc.). Ou seja (segundo a expressão que os Evangelhos usam), aqueles que mandavam tinham medo do “óchlos”, da “multidão”, do povo simples, de condição modesta, aqueles que eram considerados ignorantes e até malditos (Jo 7,48). Dito com poucas palavras: os mais poderosos, entendidos e privilegiados tinham medo dos fracos, dos ignorantes e daqueles que eram vistos como gente indesejável.
Tudo isso é ainda mais estranho se considerarmos que aqueles governantes assustados não eram apenas governantes civis, mas, além disso, governantes também religiosos. Ou seja, concentravam todo o poder, toda a riqueza e todos os privilégios.
Então, por que tinham medo? Há uma diferença fundamental entre os governantes de agora e os daquela época. Agora, a diferença entre o poder civil e o poder religioso é suficientemente clara e bem delimitada. No tempo de Jesus – e concretamente na Palestina – o poder que mandava era, sobretudo, o poder “religioso”, o poder do Sinédrio. Os romanos encarregavam-se de modo especial das tarefas de impor a ordem civil e cobrar os impostos. Sendo assim, os “homens da religião” não queriam, de modo algum, dar pretexto para que houvesse tumultos populares. Porque Roma não o tolerava. Por isso, o Sinédrio decidiu finalmente que teria que matar Jesus (Jo 11,47-53).
Seguramente, muitas pessoas não conseguem imaginar a atualidade de tudo isso. Agora se diz, em todo o mundo, que importantes “mandachuvas” da cúria romana não toleram o Papa Francisco. E a história se repete. Assim, nos encontramos diante de uma situação que se parece (mais do que alguns suspeitam) com aquela que ocorreu na vida de Jesus. Por que alguns cardeais se afanam agora dizendo em público que eles não são contra o Papa Francisco? Independentemente de se é verdade ou não o que esses eminentes cardeais estão dizendo, não há dúvida de que em Roma (e fora de Roma) há hierarcas que têm medo, talvez muito medo.
Medo de quem? Dos pobres, dos doentes, dos anciãos, das multidões que aclamam Francisco por onde ele passa. E por que esse medo? Porque o poder religioso não se impõe pela “coação”. A força do poder religioso está na “sedução”. Jesus seduzia os sofredores pelo motivo que fosse. Os cardeais, por mais caudas e roupagens que vestirem, não atraem ninguém. E o fato claro, ao qual estamos assistindo, é que em Francisco deixa transparecer a presença de Jesus. Nos cardeais que fazem intrigas às escondidas, o que e quem deixam transparecer? Vamos ficar por aí.
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“Em Roma, há hierarcas que têm muito medo do Papa Francisco”. Artigo de José Maria Castillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU