16 Novembro 2015
O Papa Francisco, em todas as frentes, é atacado, admirado, adulado. A sua ação e as reações que ele desperta não deixam os fiéis indiferentes. Alguns deles compartilharam as suas reflexões, como o frei dominicano francês Alain Durand, de La Tourette.
O artigo foi publicado no sítio da revista Témoignage Chrétien, 12-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Os perigos de uma popularidade
O Papa Francisco goza de uma popularidade excepcional. Por quanto tempo? Ninguém sabe, mas todos podem desejar que possa durar até o fim do seu pontificado. A sua popularidade é notável entre os católicos, mas supera amplamente o quadro desta Igreja, não só entre outros cristãos, mas também entre crentes de outras religiões e de não crentes.
Quando se é sensível à linha de profunda renovação que ele representa, não se pode deixar de se alegrar. Há décadas se esperava na Igreja Católica Romana tal mudança na cúpula!
Pessoalmente, espero que essa popularidade que me agrada, porém, seja provisória. Não para que o papa se torne menos ou nada popular, mas simplesmente porque o lugar que ele ocupa perderia muito da sua importância. Porque o perigo dessa popularidade é o de reforçar a centralidade do papa na mente e na prática dos católicos e nas imagens que se tem da Igreja Católica de fora.
Falou-se antigamente de "papolatria" entre os católicos, e essa expressão, de significado evidentemente crítico, dizia respeito a uma situação em que os católicos derramavam um verdadeiro culto sobre o "Romano Pontífice", e cada palavra dele dispensava a verdade para se crer e os comportamentos a serem adotados.
Esse culto prestado ao papa era como o completamento do edifício hierárquico que mantinha uma ordem doutrinal e disciplinar considerada imutável, ainda mais imutável enquanto o conhecimento da história real do papado no passado a Igreja era completamente banido.
Portanto, de maneira bastante paradoxal, a popularidade de Francisco, devido à novidade do seu estilo e à sua vontade de reforma, reforça a centralidade tradicionalmente concedida ao "Romano Pontífice" no funcionamento da igreja.
Chega-se a esta situação, ao mesmo tempo estranha e compreensível, em que aqueles que não perdiam uma única oportunidade para criticar os papas anteriores (com exceção de João XXIII), continuam tecendo os louvores do papa atual. Assim, a renovação importante introduzida pelo Papa Francisco funciona, no fim das contas, em favor de um reforço da centralidade do seu papel.
Podemos esperar que essa situação seja apenas temporária, como uma passagem obrigatória ligada ao passado. Mas isso só torna mais urgente o sucesso das reformas de descentralização esperadas por muitos.
Sim, o paradoxo consiste em esperar que a renovação e o reforço da centralidade do lugar do papa na Igreja atual permitam, justamente por causa do estilo adotado pelo Papa Francisco, a sua inversão em um futuro próximo.
Uma das alavancas essenciais dessa inversão será a operação de descentralização realizada em favor das Igrejas locais, dos seus bispos e do laicado. Trata-se de efetuar institucional e espiritualmente a passagem para uma igreja "policêntrica".
Que um poder se reforme para diminuir a sua influência é realmente pouco habitual, mas também é o que podemos esperar com confiança... justamente por causa da própria personalidade deste papa.
Não há nenhuma dúvida de que tal "kénosis" ("abaixamento") pontifícia se enraizaria apenas na kénosis que fundamenta a nossa fé, a de Cristo, que soube se anular para nos dar a vida.
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A importância de uma "kénosis" pontifícia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU