Por: André | 11 Novembro 2015
O secretário da Clacso explicou por que mais de 25 mil pessoas se inscreveram para participar do debate sobre o futuro com a presença de políticos como Lula, Mujica e García Linera e de intelectuais como Quijano, Zaffaroni e Ferrer.
A reportagem é de Martín Granovsky e publicada por Página/12, 09-11-2015. A tradução é de André Langer.
“O pensamento crítico na América Latina está mais vivo do que nunca”, disse, no domingo, a este jornal o secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso), Pablo Gentili. Tarde da noite chegou a Medellín Raúl Zaffaroni. Na segunda-feira, chegou Luiz Inácio Lula da Silva, que ficará até quarta-feira. Na terça-feira esteve em Medellín Pepe Mujica. E próceres fundadores da Clacso como Theotonio dos Santos e Aldo Ferrer. Todos estão participando da VII Conferência de Ciências Sociais que vai até sexta-feira com 26.500 participantes.
“É a maior Conferência das Ciências Sociais do mundo”, disse Gentili. “E não apenas pelo número de participantes, que marcam um recorde, mas pela quantidade simultânea de painéis, oficinas de trabalho e conferências magistrais”.
“Lula ou Mujica não vêm para a Colômbia para um encontro de quatro amigos”, afirmou o secretário-executivo da Clacso. “Sabem que serão partícipes de um grande foro do pensamento aberto, com o foco posto nos processos de transformação democrática, na justiça social e na luta pela paz na América Latina e no mundo. Um intelectual lendário como Aníbal Quijano é convidado permanentemente por todos os lados. Muitas vezes diz não. Mas participa das atividades da Clacso. E o mesmo acontece com o português Boaventura de Sousa Santos”.
Além de Lula e Mujica, fizeram conferências especiais o vice-presidente da Bolívia Alvaro García Linera, a senadora uruguaia Lucía Topolansky, o ex-chefe de governo da Cidade do México, Cuauhtemoc Cárdenas, e o cubano Juan Valdés, que falará sobre as mudanças institucionais na Ilha.
“A mudança da situação mundial coloca os países da América Latina diante da necessidade de continuar com políticas progressivas, nacionais, populares, de esquerda e cidadãs, de acordo como são classificadas em cada país ou região”, explicou Gentili. “Talvez a grande quantidade de inscritos se deva a uma grande avidez não tanto para ouvir um balanço, mas os desafios sobre o futuro na Argentina, no Brasil, no Equador e na Venezuela. É um espaço da esquerda mundial muito plural, muito aberto, porque a esquerda não quer produzir pensamentos dogmáticos, mas propor controvérsias e discutir para onde vamos”.
“O que fica claro é que, ao serem as saídas tão complexas e dilemáticas, é importante recorrer à análise”, afirmou Gentili. “Sabemos o que foi feito e o que não foi feito com a pobreza, com a desigualdade, com a segurança cidadã, com o Estado, com as instituições democráticas, com a participação social e com as migrações. Mas, para entender o que aconteceu e quais são os desafios do futuro os intelectuais precisam da política. Caso contrário, como entender que com um aumento da inclusão social se tenham atingido em alguns países níveis tão elevados de violência e de violência policial? Não devemos ter medo da discussão”.
Ricardo Sánchez Angel e Arturo Escobar explanarão sobre os cenários futuros da Colômbia em meio ao processo de paz e com derivações da guerra civil mais antiga do mundo, cujas consequências serão sentidas por décadas, como o efeito das violações aos direitos humanos, os milhões de deslocados e as mudanças na propriedade da terra.
“É uma guerra que envergonha a todos, porque a América Latina em seu conjunto não conseguiu ajudar a Colômbia a encontrar uma solução”, assinalou Gentili. “Por isso, a Conferência de Ciências Sociais e a XXV Assembleia da Clacso manifestarão seu apoio à paz não de um modo paternalista, mas como uma forma de contribuir para a solidez do processo pacificador no futuro”. E acrescentou Gentili: “Não podemos avançar nos processos de integração regional, pensar na América Latina como um continente articulado e integrado, se um dos nossos países estiver em guerra”.
De acordo com o secretário-executivo a colaboração entre a Clacso e a política foi entendida por personalidades como Evo Morales e seu ministro secretário-geral de governo, Juan Ramón Quintana Taborga. “Evo participou de reuniões promovidas pela Clacso com organizações sociais e Quintana foi um bolsista da Clacso”. Por isso, “aqueles que pesquisam devem entender como são geridas as políticas e como os ritmos da política, sobretudo na gestão, não são os mesmos da pesquisa acadêmica”.
“Particularmente nos últimos três anos estabelecemos para nós o desafio de pesquisar e ao mesmo tempo intervir politicamente colaborando com conhecimentos que sirvam para elaborar políticas públicas, e para isso aprendemos melhor como aproximar esses conhecimentos daqueles que são responsáveis por sua execução”.
“O pensamento social crítico é guiado pelos princípios da igualdade, da justiça social, do fortalecimento e da radicalização da democracia, pela necessidade de destruir os poderes opressores, pela luta contra o racismo e contra toda forma de violência”, disse Gentili. “É um pensamento libertário e inconformista, que sempre quer mais porque a democracia sempre pode ser fortalecida”.
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“O pensamento crítico está mais vivo do que nunca”, afirma Pablo Gentili - Instituto Humanitas Unisinos - IHU