Por: André | 03 Novembro 2015
No dia 19 de março de 2013, no dia da missa da inauguração do pontificado de Francisco, Sergio Sánchez, o carrinheiro amigo de Jorge Bergoglio, esteve na primeira fila, vestido com roupa de trabalhador, ao lado dos poderosos do mundo: uma mensagem clara. E esta [sábado, 31 de outubro] tarde, em outra mensagem clara de que nada mudou e de que a prioridade para o seu pontificado seguem sendo os últimos, os pobres, os excluídos do mundo, o Papa batizou o seu filho de sete meses na Capela de Santa Marta. O nome escolhido? Francisco.
Fonte: http://bit.ly/20nu9Zm |
A reportagem é de Elisabetta Piqué e publicada por La Nación, 31-10-2015. A tradução é de André Langer.
“É o primeiro filho do ‘carrinheiro do Papa’, nasceu no dia 20 de março passado e queríamos que Francisco o batizasse. O nenê esteve tranquilo, comportou-se bem”, contou Sánchez ao jornal argentino La Nación, ele que outra vez se apresentou no Vaticano orgulhosamente vestido de carrinheiro para a ocasião. “Não vestimos o Chiquinho com trajes de gala, mas de trabalhador, com uma calça e uma camisa branca, normal”, acrescentou, sem ocultar sua felicidade.
Sergio, de 50 anos, já tem outros dois filhos, de 13 e 15 anos, mas o “Chiquinho” é o primeiro filho do seu novo casamento com Jacqueline Gómez, de 27 anos, que está grávida de três meses, esperando desta vez uma menina. “Sim, Francisca”, disse rindo Sergio, que destacou que a pequena já recebeu uma bênção, porque o Papa abençoou a barriga da sua mulher. Para ela, o batismo foi um sonho. “Foi a primeira vez que vi o Papa. Foi uma emoção muito grande estar ao lado de alguém tão importante. Foi uma experiência única o fato de que batizasse o meu primeiro filho, chorei um pouco e fiquei sem palavras. É uma bênção o que estou vivendo”, disse Jacqueline, visivelmente emocionada.
“O batismo do Chiquinho não é apenas importante para a minha família, para a minha mulher, mas é importante para todo o povo. Porque significa voltar à Argentina, que vive um momento de mudança e de incerteza, e compartilhar seu apoio à nossa luta pelos excluídos, pela economia popular, pelos movimentos, pelos carrinheiros, pelos vendedores ambulantes, pelos recicladores, pelos artesãos, pelos guardadores de carro, pelos camponeses, pelos indígenas e pelo direito aos três “T” que o Papa pediu pela segunda vez no Encontro dos Movimentos Populares em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, em julho passado: terra, teto e trabalho”, afirmou Sánchez.
Somente em Buenos Aires há cerca de 15 mil carrinheiros, dos quais 5 mil registrados. No entanto, são milhões os que sobrevivem reciclando papel, como ele, em todo o mundo.
Fonte: http://bit.ly/20nu9Zm |
A cerimônia de batismo, muito íntima, foi às 17h na capela da residência de Santa Marta. Além de ungir a frente e o peito do bebê com os óleos, em um novo sinal da importância de que haja trabalho para todos, o Papa também ungiu as mãozinhas do pequeno Francisco Sánchez, como ele mesmo explicou durante a cerimônia. Entre os poucos presentes na capela também estava o padre jesuíta Michel Czerny, número dois do cardeal Peter Turkson, presidente do Pontifício Conselho de Justiça e Paz. Por vontade do Papa, Czerny sempre se ocupou dos movimentos populares, que conseguiram pisar pela primeira vez na história no Vaticano em novembro de 2014.
O padrinho de batismo foi o advogado Juan Grabois, militante da Confederação dos Trabalhadores da Economia Popular. “Foi uma coisa maravilhosa. Sergio é um dirigente que não é nenhum bajulador: por sua sinceridade e honestidade, tem um vínculo muito especial com Francisco e o batizado foi muito lindo, muito emocionante”, contou. “Em um momento tão particular da Argentina, de incerteza, de algum modo foi reivindicar os direitos deste setor de trabalhadores”, acrescentou. “O Chiquinho é um bebê que nasceu em um lar de uma família pobre, lutadora, de Villa Fiorito, que briga na base, não individualmente, mas de maneira coletiva para um futuro melhor para todos”, também destacou Grabois.
Conhecido em todo o mundo como “o carrinheiro amigo do Papa”, Sánchez fundiu-se um abraço com ele quando se reencontraram no Vaticano. A última vez que se tinham visto foi em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, em julho passado. “Quando me vê, Francisco sempre sorri. E me pediu para que continuemos rezando por ele, fortalecendo os nossos povos e trabalhando para que não haja exclusão social”, disse. “Ele está muito bem; dei-lhe nomes de companheiros para que rezasse por eles, falei com ele sobre a chácara de reabilitação na qual estamos trabalhando e disse que vai me dar uma carta para os rapazes, para encorajá-los em sua luta”, acrescentou.
Sergio detalhou que a viagem para Roma, onde chegou na manhã do sábado e ficará até segunda-feira, onde terá diversas reuniões de trabalho, exigiu um grande esforço, já que teve que pagar a passagem para a sua esposa. E justamente porque conseguiu passagens a preços baixos, teve uma “odisseia” de 27 horas de viagem até Roma, com diversas escalas. Mas, seguramente valeu a pena.
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Novo gesto do Papa: batizou o filho do seu amigo carrinheiro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU