29 Outubro 2015
Com Giacomo Biffi, nomeado arcebispo da diocese da cátedra de São Petrônio em 1984, e, depois, com Carlo Caffara, que substituiu o prelado lombardo em 2003, a Igreja de Bolonha se caracterizou como "ponto de referência do catolicismo conservador", conforme a definição do teólogo Vito Mancuso.
A reportagem é de Valerio Varesi, publicada no jornal La Repubblica, 28-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
A nomeação de Matteo Zuppi, o padre dos últimos, é uma ruptura muito forte com o passado. O que vai acontecer?
O novo arcebispo vai iniciar uma pastoral concreta, segundo a direção da Igreja bergogliana. Francisco não prega conversões, mas se põe a serviço de algo maior do que ele, caminhando entre as pessoas. Ele será um pastor com o "cheiro das ovelhas", alinhado com a visão solícita de uma Igreja "hospital de campanha". Até agora, tivemos em Bolonha uma Igreja-fortaleza, que se sentiu assediada pela sociedade e pela modernidade, que gostava de ser povoada por cavaleiros que desafiam o seu tempo. Na antiga gestão vaticana, nunca se pensaria em alguém como Zuppi. Assim como não se pensaria no pároco antimáfia Corrado Lorefice para Palermo.
O clero bolonhês vai segui-lo ou ele vai encontrar resistências?
O clero tem uma parte conservadora e uma parte progressista, mas, no meio, há o grande centro, que se adapta e segue o seu bispo. Em Milão, os padres que estavam com Martini, em grande parte, passaram, depois, para o lado de Scola.
E os fiéis, os católicos bolonheses que cresceram com Biffi, Caffara e Vecchi?
Eu acho que a maioria também vai seguir o novo curso, porque percebem a nova recomposição pastoral na sintonia entre o seu bispo e o papa. Antes, essa uniformidade não existia, já que Caffara é um dos 13 signatários da carta dos contestadores contra a sistematização do Sínodo.
Na sua opinião, a relação entre a Cúria e o poder secular será menos invasiva?
Zuppi vai buscar o diálogo. Ele não é um expoente daquele catolicismo que se levanta em oposição à cultura dominante. Ao menos no papel, parece-me que o novo prelado vai adotar essa relação. Mas, acima de tudo, eu acho que ele vai tentar adotar uma linguagem capaz de interceptar a sensibilidade generalizada de uma cidade acostumada com a discussão e o pluralismo.
Revitalizando uma sociedade "saciada e desesperada", conforme a expressão de Biffi?
Bolonha não está mais desesperada do que outras cidades. A tarefa de um bispo é restituir a paixão pela humanidade. Hoje, não cremos acreditamos em nós mesmos, nem mesmo na humanidade. Ele deve ser um bom samaritano que não trata apenas o corpo, mas também a alma.
Você quer dizer que ele deve restituir esperança, aquilo de que mais se precisa hoje, talvez?
Sim, é aquilo de que o nosso tempo mais precisa. É preciso identificar um horizonte para além da dimensão econômica. Abraçar ideais que nos permitam encontrar o valor de estar juntos. É preciso uma urdidura que mantenha unida a comunidade, e a Igreja deve contribuir com tudo isso, mas sem se contrapor aos políticos, mas infundindo esperança com ações concretas.
Que significado tem a proveniência de Zuppi da Comunidade de Santo Egídio?
A Santo Egidio é muitas coisas: é a mesa ao lado dos pobres, mas também a diplomacia de Dom Vincenzo Paglia.
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"Em Bolonha, uma sintonia inédita entre o bispo e o pontífice" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU