Por: André | 20 Outubro 2015
O problema não são as posses. Não. Mas o vínculo muito forte com as posses. Cristo não condena as riquezas, mas o apego às riquezas, que muitas vezes divide as famílias e provoca guerras. As afirmações são do Papa Francisco e feitas durante a homilia da missa da segunda-feira na Capela da Casa Santa Marta, segundo indicou a Rádio Vaticano.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr e publicada por Vatican Insider, 19-10-2015. A tradução é de André Langer.
O Pontífice advertiu: “O apego às riquezas é uma idolatria”; e depois recordou que não é possível servir a dois senhores: ou o Senhor ou as riquezas. O Filho de Deus “não é contra as riquezas em si”, mas chama a atenção para o perigo de colocar a própria segurança no dinheiro, que pode inclusive converter a religião em “uma agência de seguros”.
O apego ao dinheiro divide e destrói, como afirma o Evangelho que fala dos “dois irmãos que brigam pela herança”. Francisco convidou para pensar nas “muitas famílias que conhecemos que brigaram, brigam, não se saúdam, se odeiam por causa de uma herança. Este é um dos casos. O mais importante não é o amor pela família, o amor pelos filhos, pelos irmãos, pelos pais, não, mais o dinheiro. Isso destrói. Também as guerras, as guerras que vemos hoje destroem. Sim. Existe um ideal, mas por trás está o dinheiro: o dinheiro dos traficantes de armas, o dinheiro daqueles que tiram proveito das guerras. Isso acontece na família. Todos nós conhecemos pelo menos uma família assim. Jesus é claro: ‘Tenham cuidado e fiquem longe de todos os tipos de cobiça: é perigoso’. A cobiça nos dá a segurança que não é verdadeira e nos leva sim a rezar – você pode rezar, ir à igreja –, mas também ter um coração apegado, e no fim isso termina mal”.
Jesus, recordou Bergoglio, relata a parábola de um homem rico, “um bom empresário”, cujo “campo produziu tão abundantemente” que “estava cheio de riquezas”; “e em vez de pensar: ‘Compartilharei isso com meus trabalhadores, com os meus funcionários, para que eles também tenham um pouco mais para suas famílias’, pensava consigo mesmo: 'O que vou fazer, pois eu não tenho onde colocar a minha colheita? Ah, farei assim: vou demolir os meus celeiros e construirei outros maiores’. Cada vez mais. A sede do apego às riquezas nunca termina. Se você tem seu coração ligado à riqueza – quando você tem tanta – você quer mais. E este é o deus da pessoa que está apegada às riquezas”.
O caminho da salvação, afirmou o Papa, é o das Bem-aventuranças: “a primeira é a pobreza de espírito”, isto é, não estar apegado às riquezas que, se você as possuir, devem estar “a serviço dos outros, para compartilhar, para que tanta gente vá em frente”.
E o sinal de que não temos “este pecado da idolatria” é dar esmola, é dar “àqueles que têm necessidade”, e dar não do supérfluo, mas do que me custa “alguma privação”, porque talvez “seja necessário para mim”. “Este é um bom sinal. Isso significa que é maior o amor por Deus que o apego às riquezas”. Portanto, há três perguntas que podemos nos fazer, disse Francisco: “Primeira pergunta: ‘Dou? Segunda: ‘Quanto dou?’ Terceira pergunta: 'Como dou? Como Jesus dá, com a carícia do amor ou como quem paga um imposto? Como dou?' ‘Mas padre, o que o senhor quer dizer com isso?’ Quando você ajuda alguém, você olha nos olhos? Toca a sua mão? É a carne de Cristo, é o seu irmão, sua irmã”.
E concluiu: “E você, naquele momento, é como o Pai que não deixa faltar o alimento para as aves do Céu. Com quanto amor o Pai dá. Peçamos a Deus a graça de estar livres desta idolatria, do apego às riquezas; a graça de olhar para Ele, tão rico em seu amor e tão rico em generosidade, na sua misericórdia; e a graça para ajudar os outros com o exercício da caridade, mas como ele faz. ‘Mas, padre, Ele não se privou de nada ...’. Jesus Cristo, sendo igual a Deus, se privou disso, abaixou-se, aniquilou-se, e também Ele se privou”.
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O Papa: o apego à riqueza divide as famílias e provoca guerras - Instituto Humanitas Unisinos - IHU