10 Outubro 2015
Para além do que se lê em alguns meios de comunicação, o clima que se está vivendo no Sínodo é de grande fraternidade: é o que afirma o cardeal Francesco Coccopalmerio, presidente do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos.
A reportagem é de Fabio Colagrande, publicada no sítio da Radio Vaticana, 08-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Eu diria que, acima de tudo, há muita fraternidade, especialmente nos círculos menores: agora que nos conhecemos melhor, falamos muito livremente – e esse é um grande valor, porque o papa pediu isso fortemente – e valorizando mais facilmente as opiniões dos outros, embora sejam diferentes das suas. Isso me parece ser uma coisa muito boa. Depois, esperamos que as coisas continuem com essa liberdade e fraternidade."
Eis a entrevista.
O papa, na missa inaugural, disse que uma Igreja com as portas fechadas trairia a si mesma. Você também sentem o compromisso de estarem unidos, às vésperas do Jubileu da Misericórdia?
Mas é claro! Veja, a abertura das portas, da qual também é símbolo a abertura da Porta Santa no Jubileu, é fundamental para a Igreja. Certamente, a Igreja tem uma doutrina que deve manter firme, mas, se olhar diretamente para a doutrina e depois para a pessoa, pode ter mais dificuldade para entender a pessoa. Ao contrário, se olhar diretamente para a pessoa e para os seus sofrimentos, para as suas necessidades concretas, depois encontrará na doutrina uma luz para ir ao encontro da pessoa. Mas, olhando diretamente para a pessoa, para os seus sofrimentos, para as suas necessidades concretas, encontra-se aquele estímulo que não se tem, ao contrário, olhando mais abstratamente apenas e diretamente para a doutrina.
Pode-se dizer que é um Sínodo pastoral e não doutrinal? Está certa essa definição?
Eu não contraporia "doutrinal" a "pastoral", porque a doutrina é para a pessoa, para o bem da pessoa, e a pastoral é o bem da pessoa. Às vezes, porém, a doutrina deve levar em conta a situação da pessoa ou, melhor, deve-se tornar luz para dar uma resposta às necessidades concretas. Portanto, se poderia dizer: contraponhamos doutrina abstrata e pastoral, mas não doutrina e pastoral. A doutrina deve servir, no seu núcleo profundo, para iluminar e para resolver os problemas concretos.
Nesse sentido, o Santo Padre, com o motu proprio que dizia respeito à racionalização do processo canônico matrimonial, deu uma indicação ao Sínodo, na sua opinião?
Sim. Ele deu uma resposta àquilo que o Sínodo havia pedido na sua primeira sessão: tornar mais rápidos os procedimentos de investigação sobre a validade ou não do matrimônio e, portanto, sobre a declaração de como o matrimônio se encontra. Assim, ele deu uma resposta a essas demandas. É preciso sempre levar em conta que o procedimento para a declaração de nulidade matrimonial é um procedimento "pro rei veritate", ou seja, deve chegar a ver – portanto, a declarar – se este matrimônio é válido ou não. Razão pela qual, mesmo com a maior velocidade, sempre deve levar em conta esta finalidade: declarar se a realidade é esta ou outra. Esse é um postulado fundamental. A velocidade, porém, não vai em detrimento da veracidade do inquérito e da declaração.
Algumas notícias estão contando o Sínodo como um lugar onde se confrontam diversas facções de bispos, onde há correntes em disputa. Do lado de dentro, como o senhor o está vivendo?
Existem opiniões diferentes, e isso realmente é bom, porque, se todos pensassem do mesmo modo sobre realidades que, evidentemente, são suscetíveis de pensamento diferente, seria uma coisa muito pobre, muito negativa. Ao contrário, essas formas de pensar diferentes são uma riqueza. E é uma grande riqueza poder expressar o próprio parecer, mesmo que seja diferente do de outros irmãos, de outros Padres sinodais ou mesmo diferente da maioria dos pareceres dos outros coirmãos ou Padres sinodais. Portanto, eu diria que são duas riquezas: a de se ter pensamentos diferentes e a de poder expressar o próprio pensamento com liberdade e alegria.
Vai ser possível encontrar uma síntese, confiando-se ao Espírito Santo?
Certamente! Devemos ter plena confiança no Espírito Santo e também devemos expressar isso na oração: isto é, não apenas pedir a luz, mas também dizer ao Espírito Santo: "Nós temos certeza de que Tu vai nos ajudar a encontrar um entendimento, uma síntese final de comunhão". Justamente hoje, na leitura do Evangelho, diz-se: "O Pai certamente dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem", porque o único objeto certo da oração, que certamente o Pai não pode evitar, é o do pedido do Espírito Santo. Portanto, eu acho que pedi-Lo, nestes dias, mesmo que com uma breve oração repetitiva, é realmente muito importante.
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"Não há contraposição entre doutrina e pastoral." Entrevista com Francesco Coccopalmerio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU