01 Outubro 2015
A pouco menos de um ano o prefeito da Congregação para o culto divino, por nomeação de Francisco, o cardeal africano Robert Sarah passou à imprensa, além do volume antecipado por Repubblica sobre os temas do Sínodo (aos 4 de outubro) escrito junto a outros dez cardeais, o livro “Deus ou nada. Conversações sobre a fé com Nicolas Diat” (Cantagalli). O texto foi interpretado como uma tomada de posição contra uma mudança que Francisco estaria pondo em campo e contra as correntes de mudança da doutrina e da pastoral matrimonial que têm no cardeal Walter Kasper o seu expoente de ponta.
A entrevista é de Paolo Rodari, publicada por Repubblica, 30-09-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis a entrevista.
Eminência, é realmente assim?
Absolutamente não. Não é um livro de polêmica e sim uma serena, sincera e firme defesa do Evangelho. Ofenderam-me injusta e profundamente dizendo que me oponho ao Papa. Mas é ridículo crer que o Papa se oponha ao Evangelho. Falar de uma oposição de alguns cardeais ao Papa é somente um modo de criar cizânia na hierarquia eclesiástica e um modo para destruir a Igreja. Enquanto a verdade, ao invés, é que os cardeais necessitam do Papa e o Papa dos cardeais.
O livro foi apreciado por Bento XVI que falou de “sua corajosa resposta aos problemas da teoria do gênero” que “põe a claro, num mundo obnubilado, uma fundamental questão antropológica”.
Bento XVI escreveu-me uma carta que me comoveu, dizendo-me que o livro o ajudou espiritualmente. Também como cardeal Ratzinger jamais entrou em batalhas sem fundamento. E assim não faz hoje. Simplesmente escreve com clareza de pensamento sobre os problemas atuais. E analisa os problemas hodiernos à luz do Evangelho e da revelação divina.
Recentemente o senhor, juntamente com os presidentes das conferências episcopais do continente, se encontrou em Accra para preparar o próximo Sínodo. É verdade que eraam de acordo em contrapor-vos á “estratégia do Inimigo do gênero humano” sobre divórcio e uniões homossexuais?
Estive em Accra para preparar o próximo Sínodo. Junto ao bispos e cardeais nos encontramos na defesa dos valores fundamentais da família e do matrimônio. Queremos combater o colonialismo ideológico ocidental que quer destruir a doutrina católica, opor — se à revelação divina, ao matrimônio entre homem e mulher, até a abertura à vida dos cônjuges. Pretendemos defender a família, sua riqueza para toda a sociedade. É na família que o homem aprende hoje a crescer, amar e a servir os outros com humildade e gratuidade.
Por que as uniões homossexuais são um problema para a Igreja?
Não são um problema para a Igreja, mas para a humanidade. São um regresso da cultura e da civilização. Nenhuma cultura não ocidental vai na direção da aprovação das uniões homossexuais. Na cultura africana ninguém os olha com olhar favorável. Porque é uma união não aberta à vida. As uniões homossexuais são totalmente contrárias ao plano de Deus, que criou o homem e a mulher para que se completem mutuamente. E desta união nasce a família e o futuro da sociedade. Uma união homossexual não tem futuro, não dá vida. Repito: não é um problema da Igreja, mas humano.
Não considera possível um caminho pelo qual os casais separados, após um período de discernimento operado por um sacerdote e após um percurso de penitencia, possam aceder a uma nova união abençoada pela Igreja?
Se queremos trair o Evangelho que diz que o homem não pode separar o que Deus uniu, podemos fazê-lo. Mas, ninguém na Igreja poder trair o Evangelho. Há dois mil anos é assim e não se pode mudar hoje o pensamento de Deus sobre a família. Além disso, as dificuldades das famílias não são de hoje. Toda a história humana conhece estas dificuldades, mas a Igreja jamais poderá aceitar dois matrimônios válidos. Seria uma decisão que não respeita a Revelação. É uma rebelião contra Deus. Se aceitarmos as novas uniões me pergunto por qual motivo deveremos definir-nos cristãos.
Na África existe a tradição, quando a gente se casa, de fazer os cônjuges comerem uma metade de um fruto por cabeça, que se chama “kola”. Depois, quem celebra o matrimônio pede que lhe seja reconsignado o fruto e os cônjuges respondem que não podem. Por quê? Porque o matrimônio é único e definitivo. E também quando se separam permanece tal. Tanto é que, se uma mulher deixa um homem e vai ao encontro de outras uniões, quando ela morre é o primeiro marido que torna a sepultá-la. E vice-versa, é a primeira mulher que volta a lavar o corpo do marido defunto.
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"Dar a comunhão aos divorciados trai o Evangelho. A Igreja não pode rebelar-se contra Deus", diz cardeal africano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU