29 Setembro 2015
Dizer que o capitalismo é a causa da pobreza não faz sentido. O fato é que "a maioria dos norte-americanos está surpresa com o uso equívoco que o Santo Padre faz do termo 'capitalismo', descrito como algo de que pouco sabemos". Assim como é muito mal compreendido, aliás, o significado de desigualdade e de inequidade: "Quando Deus criou a hierarquia dos anjos, criou cada um deles de forma diferente. Mais, eu não diria que é uma injustiça o fato de que uma vaca não é um cavalo ou um anjo. Tudo isso está em Tomás de Aquino. Se todas as coisas são iguais, não se pode encontrar qualquer distinção nas coisas".
A reportagem é de Matteo Matzuzzi, publicada no jornal Il Foglio, 25-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
James Schall, padre jesuíta e até poucos anos atrás professor da cátedra de Filosofia Política da Georgetown University, em Washington, dezenas de livros publicados (o mais recente é On Christians & Poverty, 2015), discute com o jornal Il Foglio alguns aspectos-chave da viagem papal aos Estados Unidos, começando pela pobreza.
Francisco, ao Congresso, encorajou representantes e senadores a "não se esquecerem de todas aquelas pessoas presas no círculo da pobreza". Pediu que lhes deem esperança e desejou que "a luta contra a pobreza e a fome" seja "combatida em muitas frentes".
Em primeiro lugar, explica Schall, "se nem todos são pobres, o mérito é justamente do capitalismo, entendido como inovação, crescimento, lucro, distribuição e produtividade". O dado irrefutável "é que o percentual de pobres no mundo está em queda constante, e esse é um aspecto que é muito pouco reconhecido e explicado".
E o que impede que aquela parte da população que ainda vive na indigência se levante "certamente não é o capitalismo, mas certas ideias políticas ou religiosas unidas a alguns fenômenos de corrupção. Trata-se de forças que trabalham em sentido contrário à redução da pobreza".
A causa, diz o interlocutor, deve ser buscada nas políticas implementadas pelos governos dos Estados modernos, especialmente aqueles que adotam "certas variações típicas de um socialismo mais ou menos aberto. E o pensamento social católico raramente reconheceu que os próprios governos, com a sua ganância, são os primeiros obstáculos na ajuda aos pobres".
O padre Schall dá um exemplo esclarecedor: "As ideias econômicas latino-americanas muitas vezes parecem uma herança do mercantilismo colonial, em vez de serem uma expressão de um capitalismo monopolista de Estado". Afinal, "o livro mais famoso da história da economia se intitula 'A riqueza das nações', e não 'A pobreza das nações'. No princípio, todos eram pobres. Mas o problema não é explicar por que o pobre era pobre, mas por que alguns não eram".
Schall recupera Santo Agostinho quando ele defendia que "tanto o rico quanto o pobre podem ser pecadores ou virtuosos. O rico, em suma, não deve se tornar pobre para ser virtuoso, muito menos o pobre deve se tornar rico. Aristóteles também vem em nosso socorro, já que, na sua opinião, a maioria das pessoas precisam de uma quantidade suficiente de bens para serem virtuosas".
E é justamente isso o que o verdadeiro crescimento econômico tenta realizar. O próprio papa fala dos seus amigos ricos como de homens bons e generosos. "Quase todos reconhecem que a ganância é um vício, embora provavelmente não tão destrutivo quanto a inveja, a longo prazo", diz o interlocutor.
É uma espécie de inversão dos padrões: "Aristóteles também esclareceu que um homem rico não é necessariamente injusto porque é rico, e o homem pobre não é virtuoso apenas pelo fato de ser pobre. Cada um pode salvar a sua alma na condição em que se encontra".
Para não se distanciar muito da realidade cristã, o padre Schall cita a Bíblia: "Quando folheamos essas páginas, devemos nos perguntar de que modo os ricos adquiriram as suas riquezas. Sabemos de onde vieram os pobres, enquanto os ricos certamente não só roubaram. As suas riquezas derivaram apenas da exploração? Mas a parábola dos talentos nos diz outra coisa. O homem que tem dez talentos, como consequência do seu investimento, obtém outros dez, sendo elogiado por isso. O homem que não faz nada, ao contrário, é castigado. Pois bem, pode-se argumentar que o capitalismo é um sistema que universaliza esses princípios básicos".
O importante é não fazer das Sagradas Escrituras uma espécie de "manual de economia": "Deus não revelou a nós tudo o que é preciso para prosperar, mas apenas algumas coisas que, na verdade, não conseguimos compreender sozinhos. Ele nos deu um cérebro, mãos e tempo, deixando-nos a responsabilidade de entender como poderíamos prover a nós mesmos".
E a humanidade entendeu isso, ao menos em parte: "A descoberta de como superar o problema da pobreza em nível mundial é recente, assim como também é recente, porém, a descoberta dos métodos para controlar a vida humana". As duas coisas andam juntas, explica Schall: "A maioria dos movimentos totalitários tinham se apresentado e ainda se apresentam como sistemas voltados à ajuda dos pobres, que, na realidade, se tornam objeto de manipulação ideológica e de autojustificação. Pobres e ricos precisam uns dos outros, e aquilo de que todos precisam é crescimento".
O decano de Filosofia Política da Georgetown defende que os pobres deveriam sair sozinhos da sua condição, sem muitas contribuições externas, e nega que isso seja algo revolucionário: "É simplesmente outro modo de afirmar o princípio de subsidiariedade. Acima de tudo, nós queremos que as pessoas não sejam pobres. Depois, queremos que esses indivíduos encontrem o seu caminho no mundo. Muitas vezes, os pobres não sabem como fazer para não serem pobres, mas o problema é que, mais frequentemente, os seus governos também não sabem. Para sair da sua condição, então, eles não podem fazer nada mais do que aprender com aqueles que já entenderam como não ser mais pobres. É preciso dar um incentivo. Eu diria que a diferença entre as nações 'de sucesso' e as nações 'de insucesso' no campo da redução da pobreza é medida pelo grau em que elas aprenderam como a liberdade, a propriedade, o mercado, a empresa, o estado de direito e a virtude podem andar de mãos dadas".
Além disso, acrescenta, "a maioria dos homens e das mulheres deseja não ser mais pobre. Então, trata-se de aprender a percorrer as ruas para encontrar a riqueza. Pode-se fazer isso com a educação, o exemplo e também com a concorrência presente nos mecanismos de mercado".
Em suma, "quem precisa de ajuda deveria ser ajudado por quem sabe ajudar. A pedra angular do livre mercado encontra-se justamente no fato de permitir que os pobres saiam do estado de pobreza graças às suas próprias forças".
Às vezes, em relação à percepção equivocada do capitalismo mencionada pelo interlocutor, uma certa "narrativa apocalíptica" própria do papa pode ter o seu papel? Depende.
"Se falamos de 'narrativa apocalíptica' em relação à ecologia, pode-se dizer que o Santo Padre a usa para falar dos desastres causados pelo aquecimento da Terra. Mas eu suspeito – destaca o padre Schall – que, de fato, essas teses se fundamentam em bases científicas e práticas bastante controversas. Os discursos sobre as eras glaciais recorrentes e sobre as épocas temperadas parecem tão velhas quanto a própria Terra. Na minha opinião, o percentual de cada problema ambiental provocado pela atividade humana é relativamente modesto, e é possível enfrentar as emergências graças ao nosso conhecimento e tecnologia. Um pouco de aquecimento, aliás, parece ser até mesmo benéfico."
Ao contrário, se falamos de "narrativa apocalíptica segundo o que Robert Hugh Benson escrevia no livro O senhor do mundo, referência frequentemente citada por Francisco, em que é representado o fim dos tempos, devo usar as palavras de São Paulo: 'Não conhecemos nem o dia nem a hora'. Hoje – continua – conseguimos reverter a maioria dos princípios fundamentais da lei natural nas nossas políticas públicas, a tal ponto que o Estado moderno e a cultura muitas vezes se distinguem apenas por serem contrários ao que o ensino clássico indicou. Eu acho que é dever do papa admoestar um mundo que está se formando contra o explícito ensino da razão e do Evangelho".
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"O papa está errado sobre o capitalismo e o aquecimento global", afirma jesuíta dos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU