Por: André | 21 Agosto 2015
O Vaticano minimizou nesta quinta-feira o gesto do Papa Francisco de receber um cartaz que incentiva o diálogo entre a Argentina e o Reino Unido sobre as Ilhas Malvinas, conflito que derivou em uma guerra entre os dois países na década de 1980.
Fonte: http://bit.ly/1Ln8RCN |
A reportagem é publicada por Religión Digital, 20-08-2015. A tradução é de André Langer.
“Trata-se de uma fotografia feita no contexto da audiência geral (das quartas-feiras), durante a qual numerosos fiéis oferecem ao papa muitos objetos, muitas vezes com o único objetivo de tirar uma fotografia”, explicou Ciro Benedettini, porta-voz adjunto do Vaticano.
A fotografia do Papa Francisco sorrindo quando lhe entregaram o cartaz com os dizeres: ‘É tempo de diálogo entre a Argentina e o Reino Unido pela Malvinas’, teve ampla repercussão na imprensa argentina, seu país de nascimento.
A Argentina e o Reino Unido disputam a soberania das ilhas desde 1983, quando tropas britânicas se apoderaram do arquipélago austral e expulsaram uma pequena população argentina. Ambos os países se enfrentaram em uma guerra por esse arquipélago em 1982, que terminou com a rendição da Argentina e a morte de 649 argentinos e 255 britânicos.
O Vaticano recalcou que o papa sempre quis manter o contato físico com os féis que participam das audiências e com frequência recebe presentes, objetos, abraça e beija as pessoas e inclusive chega a tomar um mate, bebida típica que seus compatriotas lhe oferecem.
O porta-voz do Vaticano disse que deixar-se fotografar não pode ser interpretado como uma tomada de posição específica.
A presidenta argentina, Cristina Kirchner, incentivou a divulgação da imagem, assim como representantes do Governo, que postaram a imagem do papa com o cartaz nas redes sociais.
A causa argentina pelas Malvinas conta com o apoio da América Latina e de numerosos países do mundo. A fundação argentina Diálogo pelas Malvinas lançou uma campanha mundial para que se cumpra a resolução 2065 das Nações Unidas, aprovada há 50 anos, que incentiva o Reino Unido e a Argentina a se sentarem para negociar.
Francisco recebeu o cartaz das mãos de Gustavo Hoyo, coordenador da campanha, que recebeu o apoio de políticos, como o presidente boliviano Evo Morales e numerosas personalidades do mundo da cultura.
No ano passado, Francisco saudou e dedicou vários minutos a um grupo de ex-combatentes argentinos da guerra das Malvinas durante uma audiência das quartas-feiras. “Exortou-nos a seguir trabalhando pela paz”, contou um dos 39 participantes do encontro.
O cardeal Jorge Mario Bergoglio, hoje Papa Francisco, assegurou em 2012 que as Ilhas Malvinas eram um território “usurpado”. “São nossas”, declarou, uma afirmação que suscitou reações no Reino Unido quando foi eleito como representante da Igreja católica, em março de 2013.
Imediatamente depois de ser eleito pontífice, a presidenta Kirchner solicitou a Francisco sua mediação para que Londres aceite negociar sobre a soberania do arquipélago. O tema não foi abordado durante a reunião no ano passado no Vaticano entre a rainha da Inglaterra, Isabel II, e o Papa.
O então embaixador britânico na Santa Sé, Nigel Baker, recordou que o Vaticano manteve-se historicamente neutro sobre o assunto.
O Governo argentino, por sua vez, celebrou nesta quinta-feira o fato de que o Papa Francisco aceitasse segurar publicamente um cartaz que pede diálogo sobre a soberania das Ilhas Malvinas e disse que, com seu gesto, tomou posição a favor da demanda de Buenos Aires para que o Reino Unido se sente para negociar.
“Hoje não há nenhum país do mundo que reconheça direitos sobre as Ilhas ao Reino Unido e o papa simplesmente pediu o que se vem reclamando em todos os foros, que se sentem para dialogar”, disse na quinta-feira o chefe de Gabinete do Governo, Aníbal Fernández, durante a sua entrevista coletiva diária.
O pontífice, disse Fernández, “não é qualquer pessoa” e intervém quando “vê as coisas que não estão bem”, como no caso da situação do Oriente Médio ou a relação entre Cuba e Estados Unidos, nos quais “sempre se pronunciou a favor do diálogo”.
O Governo britânico nega-se a negociar com o argumento de que a decisão corresponde aos malvinenses, que se pronunciaram em 2013 a favor de serem britânicos em um referendo não reconhecido internacionalmente.
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O Vaticano minimiza o gesto do Papa Francisco a favor das Malvinas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU