17 Agosto 2015
Massacres, linchamentos, guerras fratricidas, perseguições religiosas e políticas. Os tempos sombrios previstos por Hannah Arendt não conhecem fronteiras, e expõem a fratura entre o potente avanço tecnocientífico que experimentamos enquanto humanidade e a face periclitante de uma ética que surge apenas em tempos de conveniência. O alvorecer da modernidade não teria feito desaparecer a intolerância que parecia ser uma prerrogativa de outras eras? Os fatos aos quais assistimos não apenas no Brasil, mas no mundo todo, nos mostram que fomos otimistas demais. Para refletir a relação paradoxal entre a modernidade e o recrudescimento do ódio, da intolerância e da indiferença, a IHU On-Line ouviu inúmeros pesquisadores e pesquisadoras.
O professor Roberto Romano, da Universidade de Campinas – Unicamp, faz um longo e pertinente recorrido histórico e teórico para explicar que “a semente do ódio germina em setores que existiam antes da secularização laica e depois dela”.
Para o filósofo Guilherme Castelo Branco, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, o ódio destinado ao Outro no Brasil está enraizado, em última instância, na cultura escravocrata que cria parcelas da população “menos importantes” que as outras. Num contexto mais expandido, vivemos um momento do neoliberalismo no qual há uma tendência à eliminação de padrões de solidariedade.
Francisco Foot Hardman, da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, recorda o caso da menina Kayllane, 11 anos, praticante de candomblé, apedrejada ano passado por professar uma fé não respeitada por outras confissões religiosas. “Este é o Brasil real em que vivemos, onde a barbárie moderna está plenamente instalada.”
Também refletindo acerca da intolerância religiosa, o teólogo Roger Haight da Union Theological Seminary, de Nova Iorque, pondera que precisamos ir além de uma simples tolerância: é preciso “nos esforçarmos para aprender uns com os outros”. Em termos gerais, acrescenta, a intolerância pode ser considerada um vício.
Dimitri D’Andrea, da Universidade Degli Studi di Firenze, observa que há uma conexão muito próxima entre a modernidade e a intolerância. E completa: “O caminho da luta contra a intolerância parece-me ser o da máxima liberdade de opiniões (todas) e ao mesmo tempo a máxima vigilância civil e os testemunhos pessoais”.
Giuliana Di Biase, da Universidade D'Annunzio of Chieti-Pescara, Itália, analisa os escritos de John Locke contra a intolerância, e explica que esse autor teria muito a dizer ao capitalismo desenfreado de hoje, esteio da exclusão e da globalização da miséria e da indiferença.
Para Maria Laura Lanzillo, da Universidade de Bologna, a intolerância não é resultado exclusivo da modernidade, mas um processo complexo que se atualiza nos desdobramentos históricos da história humana.
O filósofo francês Charles Yves Zarka, da Universidade Paris Descartes – Sorbonne, reflete acerca dos massacres de Paris, de 7 a 9 de janeiro deste ano. Segundo ele, “a barbárie jamais é espontânea, tampouco natural, ela não é o ato de ‘loucos solitários’, ela resulta de um doutrinamento das mentes que é ainda mais eficaz porque se enraíza numa forma de religião secularizada”.
Duas entrevistas analisam a situação financeira do Rio Grande do Sul. Lucas Henrique da Luz, professor na Unisinos e colaborador do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, busca entender as questões de fundo da crise econômica do estado gaúcho, desde a perspectiva da financeirização. João Gilberto Lucas Coelho, ex-vice-governador do RS, destaca que para superar este momento difícil é preciso pensar para além da lógica binária e da dicotomia de conceitos entre esquerda e direita
Na segunda-feira, dia 24 de agosto, será lançado na Unisinos, o Dossiê Abrasco: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. O importante trabalho da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco, foi amplamente debatido nas Notícias do Dia, publicadas na página do IHU.
Agora o Instituto Humanitas Unisinos – IHU, em parceria com o PPG em Saúde Coletiva da Unisinos, promove o Seminário Agrotóxicos: Impactos na Saúde e no Ambiente, com a presença do Prof. Dr. Fernando Carneiro, da FIOCRUZ Ceará e Universidade de Brasília – UnB, Dr. Leonardo Melgarejo, da Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural – ASCAR e Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER-RS e a Profa. Dra. Karen Friedrich, FIOCRUZ e UNIRIO. As entrevistas com os dois primeiros mencionados podem ser lidas nesta edição.
Territórios e metrópoles: uma abordagem a partir do design e da biopolítica, Processos criativos, colaborativos e participação nas metrópoles e As experiências colaborativas e o impacto na conjuntura atual são os temas a serem abordados pela Profa. Dra Natacha Silva Araújo Rena, da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, nos dia 20 e 21 de agosto, no 2º Ciclo de Estudos Metrópoles, Políticas Públicas e Tecnologias de Governo. Territórios, governamento da vida e o comum. Os temas a serem trabalhados são descritos na entrevista publicada nesta edição.
A revista IHU On-Line inicia nesta semana uma parceria com o Curso de Relações Internacionais da Unisinos publicando, em cada edição, a coluna Crítica internacional. Em cada edição será publicado um artigo elaborado por professores e professoras do curso sobre Política Internacional. O artigo desta edição é “A encruzilhada do Curdistão socialista” elaborado pelo Prof. Dr. Bruno Lima Rocha.
Carlos Gadea, professor da Unisinos, reflete sobre os Estudos Culturais e a sua aliança populista no artigo Os “filhos de Marx e da Coca-Cola”.
Enfim, Peter Phan, teólogo vietnamita, pesquisador da Georgetown University de Washington, analisa, a partir de um ponto de vista asiático, o pontificado do Papa Francisco, especialmente as duas viagens à Ásia.
A revista IHU On-Line estará disponível nesta página, nas versões html, pdf e ‘versão para folhear’, na segunda feira, a partir das 17h.
A edição impressa circulará na terça-feira, no campus da Unisinos, a partir das 8h.
A todas e a todos uma boa leitura e uma ótima semana!
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O ovo da serpente. Intolerância no ninho da modernidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU