Por: Jonas | 07 Agosto 2015
“O que nos salvará é a honradez, a honestidade, a transparência, a justiça, a bondade. A espiritualidade profunda, que, é claro, respeita a missa, mas que encontra vida e futuro na ceia. Como disse São João da Cruz: ‘a ceia que recria e apaixona’”, escreve o teólogo espanhol José María Castillo, em seu blog Teología sin Censura, 05-08-2015. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/kogz9x |
Eis o artigo.
Jesus instituiu a eucaristia em uma ceia, não em uma missa. Quer dizer, Jesus instituiu a eucaristia em uma refeição partilhada, não em um ritual religioso. E sabemos que Jesus acrescentou: “Fazei isto em memória de mim” (1 Cor 11, 24. 25; Lc 22, 19 b). A memória de Jesus está inseparavelmente unida ao fato de realizar o que realizou Jesus. E qualquer um que leia os evangelhos sabe que, exatamente nos evangelhos e em 1 Cor 11, 23-26, a eucaristia está associada à refeição partilhada. Nos seis relatos da multiplicação dos pães, especialmente no do evangelho de João (6), e na última ceia de Jesus com seus apóstolos, eucaristia e companhia são realidades inter-relacionadas. Ou seja, a eucaristia está vinculada ao fato de partilhar com outras pessoas o que se tem para comer. A eucaristia não está vinculada – nem somente, nem principalmente – a um ritual sagrado que se observa exatamente de acordo com o estabelecido nas normas.
No entanto, acontece que, com o passar do tempo, a eucaristia se tornou um ritual sagrado e deixou de ser uma ceia partilhada. Não é possível saber exatamente quando isto aconteceu. Parece que ocorreu no século III. O fato é que assim, mais uma vez e em um assunto de tanta importância como este, a Religião se sobrepôs ao Evangelho. Uma desventurada mudança, que ocorreu muitas vezes na Igreja, e que é a causa de um fenômeno muito frequente e que muitas vezes nem percebemos. Porque certamente somos mais fiéis à Religião do que ao Evangelho.
E olha que – como estamos vendo – a religiosidade está em crise. O que é verdade. Temos desprezado a Religião. Contudo, temos desprezado ainda mais o Evangelho. Afinal de contas, missas, casamentos, batizados, comunhões, confrarias, padres e bispos, nós continuamos tendo. Mas, e os ensinamentos de Jesus sobre a honradez, a justiça, a sinceridade, sobre o dinheiro e a riqueza, sobre a sensibilidade diante do sofrimento humano, sobre a liberdade diante dos poderes que oprimem e dominam as pessoas mais fracas e desamparadas?
Se aqui falo sobre estas coisas, não é porque eu pretenda que substituamos as missas por ceias. Isto nem é possível. Também não resolveria as coisas. O problema mais sério, que nesse exato momento temos, é que vemos que a economia melhora, mas não temos políticos que saibam administrar as coisas de forma que essa melhora sirva para todos, especialmente para aqueles que mais precisam. E as coisas se acanalharam até o extremo de preferir – ou assentir – que nossos mares sejam um imenso cemitério de desesperados, desde que esses desesperados não venham nos incomodar. Aqui, não falo apenas da Espanha ou da Europa. Falo do mundo todo.
É claro que há pessoas boas. Muito mais do que imaginamos. Diante do fracasso da economia, da política, das mais avançadas tecnologias, inclusive também diante da incapacidade das religiões para remediar tanta dor, cresce e cresce o número de pessoas que para isto não veem outra solução a não ser a busca de nossa mais profunda humanidade. O que nos salvará é a honradez, a honestidade, a transparência, a justiça, a bondade. A espiritualidade profunda, que, é claro, respeita a missa, mas que encontra vida e futuro na ceia. Como disse São João da Cruz: “a ceia que recria e apaixona”.
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Uma missa não é uma ceia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU