27 Julho 2015
"É mais fácil esconder cinco elefantes debaixo de uma axila do que um cinaedus." Esse provérbio, que chegou até nós a partir do século II d.C. graças à pena de Luciano de Samósata, atesta que a fabulosidade não era "água" – para usar uma expressão da cultura camp – nem mesmo na antiguidade clássica. O cinaedus do qual se magnifica a capacidade de chamar a atenção, de fato, é um personagem que hoje poderíamos chamar de "bicha". E que, evidentemente, já nessa época, se fazia notar muito pela loquacidade, pelo senso estético, no mínimo, acima do normal e pela predileção pelo teatro de rua.
A reportagem é de Gianni Rossi Barilli, publicada no jornal Il Manifesto, 22-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O exemplo é mais do que suficiente para levar a sério o que defende Giovanni Dall'Orto no seu grande livro sobre a história da homossexualidade masculina da Bíblia aos nossos dias, publicado pela Saggiatore (Tutta un’altra storia, 730 páginas): a identidade homossexual, aliás, não é uma invenção tão moderna como certos acadêmicos dizem, porque, há 2.000 e velhos anos, existiam tipos humanos que eram "deduzidos" a partir das suas peculiares inclinações sexuais.
E não só e não tanto os viris amantes dos rapazes sobre os quais nos foram transmitidas inúmeras notícias através da arte e da literatura grega e romana. Estes poderiam muito bem se enquadrar na norma, contanto que preservassem a sua masculinidade de acordo com os critérios da época.
Os cinaedi, ao contrário, eram aqueles que estavam do outro lado do fosso de honra, por se devotarem a uma paixão exclusiva pelos homens que os tornavam semelhantes às mulheres, física e/ou psicologicamente. A tal categoria eram atribuídos indiferentemente gays, travestis e transgêneros ante litteram, considerando que o seu comportamento indecoroso era fruto de uma condição interior, isto é, uma orientação sexual. "Portanto – diz Dall'Orto –, se vocês buscam o homossexual antigo, ei-lo aqui".
O poder sobre a sexualidade
Certamente, a palavra "homossexual" parece um pouco fora de contexto, já que ela entrou na linguagem médica no século XIX e na comum no século XX. Mas se trata de um uso intencionalmente polêmico, porque um dos principais objetivos do autor é o de desmentir a chamada teoria construcionista, que decorre das reflexões históricas e filosóficas de Michel Foucault e segundo a qual "a homossexualidade seria uma construção social criada pelo Poder para reprimir a livre sexualidade humana". Ela teria sido inventada para esse fim pela medicina no século XIX, enquanto, antes disso, já existiam comportamentos homossexuais, mas não uma "espécie" propriamente dita.
Para os estudiosos que defendem essa visão, acusados também de monopolizar o debate acadêmico sobre a história da homossexualidade, Dall'Orto cria o provocativo apelido de "invencionistas" e duela com eles à distância durante todo o percurso das suas reflexões, através de 30 séculos de história ocidental.
Primeiro, objeta ele, a sexualidade humana não é determinada apenas pela cultura, mas também por um instinto irredutível que, quando você tenta expulsá-lo da porta, ele sempre entra novamente pela janela, como demonstram, dentre outras coisas, muitos séculos de perseguições aos sodomitas e aos homossexuais.
Com este inevitável dado de fato, a cultura teve que fazer as contas desde muito antes do século XIX, fazendo-se perguntas que, da antiga Grécia até hoje, mudaram surpreendentemente pouco (veja-se o debate plurimilenar sobre as causas da inclinação homossexual).
Além disso, os historiadores "invencionistas", sempre na opinião do autor, propõem um esquema marcado por "falhas epistemológicas", em que cada paradigma cultural substitui e elimina o anterior nos "discursos do poder". Mas, considerando válida uma única concepção da sexualidade de cada vez, cria-se uma espécie de incomunicabilidade entre as várias épocas e se acaba por representar como aliens totais os habitantes daquelas épocas antigas que pensavam segundo paradigmas diferentes.
São coisas que acontecem, conclui Dall'Orto, quando se parte das teorias para dar um sentido às fontes históricas, e não vice-versa. Propondo-se a fazer o contrário, "a documentação mostra que cada sociedade, seja no passado, seja hoje, tende a cultivar ao mesmo tempo várias concepções sobre a homossexualidade, até mesmo contraditórios e irreconciliáveis, e essas concepções se sobrepõem, se fundem, se misturam e se transformam reciprocamente, em uma contínua dialética entre 'discursos' e 'contradiscursos', na qual é totalmente arbitrária toda pretensão de indicar a concepção da homossexualidade em um dado momento histórico".
Surge daí uma polifonia bagunçada e também lacunosa, porque o silêncio e a censura foram uma das estratégias mais válidas para limitar os danos produzidos pela difusão do pecado indizível. Mas conforta descobrir através das páginas de Tutta un’altra storia como se enriqueceu o quebra-cabeça nos últimos 30 anos, graças à efervescência da pesquisa no modo anglo-saxônico e na Europa Ocidental.
O texto e as densíssimas 160 páginas de notas incomodamente situadas no fim do livro nos submergem em citações e referências bibliográficas a partir das quais pode-se constatar que muita memória de primeira mão já foi desenterrada pelos estudos das últimas décadas, e ainda muito mais memória está só à espera de que algum jovem apaixonado lhe tire a poeira de cima, como Dall'Orto nunca deixa de observar quando se apresenta a oportunidade.
Tudo isso que já foi redescoberto nos restitui, no entanto, uma imagem um pouco mais definida do passado e permite tentar um novo balanço provisório. Aliás, essa é a substância do livro, que não é nem um manual, nem uma enciclopédia de história gay, mas o balanço pessoal de um historiador, que, depois de mais de 30 anos de pesquisas de campo e de fortes debates com amigos e inimigos, tenta fazer o ponto da situação através da documentação disponível.
E, respeitando a motivação original do seu trabalho, ele decide contar "uma história dos homossexuais e não dos homofóbicos", privilegiando "os pontos de vista dos perseguidos, em vez dos perseguidores".
O paraíso que não existe
Giovanni Dall'Orto, de fato, vem do movimento LGBT e foi (é) um ponto de referência indiscutível para a pesquisa histórica produzida dentro ou ao lado do movimento italiano, na convicção de que reconstruir uma memória coletiva confiável era um passo necessário para a igualdade, acima de tudo, psicológica.
Fazer a história dos homossexuais expulsando os homofóbicos do quadro é utópico, até mesmo porque boa parte dos testemunhos que nos restam são traços das perseguições sofridas por uns por obra de outros. Mas, por outro lado, os pontos de vista e as existências das vítimas também falam através da memória dos carnífices.
E o que nos relatam? Já mencionamos o fato de que Grécia e Roma não eram o "paraíso" que várias gerações de protomilitantes gays haviam descrito para legitimar a si mesmas e que estudos mais recentes redimensionaram muito.
O dado inegável de que, em certos casos, práticas e afetos homossexuais eram ao menos tolerados, quando não até recomendados, não isenta que fossem objeto da reprovação pública aqueles que confundiam papéis e gêneros, anulando as distinções "naturais" entre quem domina e quem é dominado.
E nem mesmo que o verdadeiro laboratório da homofobia de Estado oficializada pelo cristianismo foi a antiguidade pagã, ainda mais do que a judaica, em um fio condutor que une Platão aos estoicos, para chegar a São Paulo e, daí, prosseguir para uma fileira de santos e teólogos posteriores.
De sua parte, o cristianismo nos pôs o anátema divino, igualando na culpa os homossexuais ativos aos passivos e fornecendo interpretação anacrônica do episódio de Sodoma e Gomorra, que, com o tempo, teria estimulado o recurso às fogueiras. Das quais, porém, não há rastros verificáveis, ao menos na Europa Ocidental, durante toda a Idade Média.
A regressão da civilização urbana fez desaparecer, durante séculos, até mesmo a possibilidade de subculturas "gays" a se reprimir, enquanto, "entre os séculos VI e VIII, a repressão dos comportamentos homossexuais passou das mãos do Estado para as da Igreja, que os punia com penitências, mandando para o esquecimento a pena de morte e, ainda mais, a pena do fogo prevista pelos últimos imperadores romanos".
O cenário muda depois do ano 1000, com o novo desenvolvimento urbano e as convulsões sociorreligiosas dos séculos XI-XIII. É aqui que se aperfeiçoa a figura do sodomita, periodicamente sacrificada nas fogueiras da metade do século XIII à Revolução Francesa em grande parte da Europa a cada onda de rigor moral e de alerta social.
Nesse meio tempo, porém, começamos a ter a certeza de que os próprios sodomitas aprendem a se perceber como tais e tentam se organizar. A partir das crônicas dos processos à enxurrada de medidas de polícia dirigidas a conter o fenômeno, chegamos ao conhecimento dos mapas gays e das redes sociais de cidades grandes ou pequenas, mas também chegam até nós, finalmente, as vozes dos sodomitas, que cada vez mais frequentemente põem hereticamente em discussão a gravidade do seu pecado.
Com o tempo, entre impulsos e contraimpulsos, será a sociedade ocidental inteira que fará isso, e isso levará à abolição da pena de morte, mas não ao fim das perseguições. E aqui chegamos a um ponto crucial, quando, no século XIX, nasce oficialmente o conceito de homossexualidade, depois que também começam a se ocupar do assunto médicos e psiquiatras, além de pregadores, juízes e policiais.
A opinião de Dall'Orto a respeito é de que a medicina não inventou, de fato, a homossexualidade, mas se limitou a patologizá-la. Com consequências imprevisíveis, no entanto, porque o desenvolvimento do debate científico ofereceu um espaço privilegiado para "furar a capa de segredo" da moral dominante e discutir abertamente, oferecendo pela primeira vez aos próprios homossexuais a oportunidade de intervir na discussão e de influenciar com as suas teorias e testemunhos os discursos médicos.
Histeria homofóbica
Difundiram-se os memoriais e as confissões, em que os pacientes tentavam abertamente puxar os médicos para o seu lado, até mesmo conseguindo isso, algumas vezes. Depois disso, os homossexuais começam a se organizar realmente e a reivindicar o direito de viver como tais à luz do sol. Especialmente na Alemanha, onde apenas a violência nazista conseguiu arrancar o mais avançado experimento de libertação homossexual jamais visto até então.
Fascismo e nazismo, junto com a versão stalinista do comunismo e, nos Estados Unidos, do macartismo e afins (sem esquecer a Grã-Bretanha, que suicidou Alan Turing) constituem igualmente peças daquele que Dall'Orto define como "o pico mais alto de histeria homofóbica de toda a história humana".
Mas foi depois da reação a essas perseguições que, nos Estados Unidos, nasceu o movimento gay contemporâneo, que propagou por todo o planeta os próprios estilos, linguagens e modelos organizativos.
O resto é crônica da aparentemente irrefreável marcha de integração das minorias LGBT em todo o Ocidente. Com a notável exceção da Itália, que, aliás, admite o autor, não é os Estados Unidos.