23 Julho 2015
Sentada em uma colcha rosa povoada por bichinhos de pelúcia. Foi assim que o New York Times descreveu a menina palestina Reem Sahwil, encontrada na sua casa na periferia de Rostock, no norte da Alemanha, onde ela vive há cinco anos com os seus pais e dois irmãos mais novos: é ela a menina de 14 anos cujas lágrimas deram a volta ao mundo (e à rede) há alguns dias, quando Angela Merkel, diante do pedido de poder permanecer na Alemanha, respondeu-lhe, diante das câmeras, que não é possível acolher todos os migrantes, e que a política, às vezes, deve ser dura.
A reportagem é de Paolo Di Stefano, publicada no jornal Corriere della Sera, 22-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A chanceler havia sido profissional demais: poderia ter usado palavras mais leves diante de uma menina cheia de angústias e de esperanças para si e para a sua família. Diante daquele choro incontido, Merkel se aproximou da menina, fazendo-lhe uma carícia, embora, talvez, desajeitadamente; mas, no conjunto, havia ganhado a sublevação do povo social por causa da frieza excessiva da resposta.
Melhor a frieza ou a hipocrisia? Na dúvida, há poucos dias, para tranquilizar os indignados de coração terno, a ministra alemã das políticas migratórias, Aydan Oezoguz, interveio: "Eu não conheço a situação pessoal da menina, mas ela fala alemão perfeitamente e vive aqui há algum tempo. Justamente para pessoas como ela, recém-modificamos a lei, dando, aqui entre nós, uma perspectiva aos jovens que se integraram".
Portanto, um final feliz? Talvez. "Eu fui bem tratada", disse Reem, que, ainda nos últimos dias, expressou tudo sobre o caso, exceto críticas ou ressentimentos. "Eu lidei muito com guerras e inseguranças. Por isso, estou feliz por estar aqui, porque me sinto segura", dissera ela, simplesmente.
Desejo mais do que compreensível para uma menina que, na sua curta vida, já viu muitas guerras (demais) e que agora vive com a sua família em um apartamento financiado pelo governo de Berlim e frequenta uma escola pública.
No seu alemão livre de incertezas, ela acrescentara que, depois da escola, gostaria de se matricular na universidade: "Fazer alguma coisa, estudar para melhorar o futuro". Palavras objetivamente incomuns, até mesmo para ouvidos não necessariamente ternos. E depois especificou o seu projeto: ela gostaria de ser intérprete ou professora, para ajudar os outros a superarem as barreiras de comunicação.
A história de Reem é excepcional, não só porque é uma infância palestina: ela nasceu (prematuramente) em 2000, em um campo de refugiados libanês. Quando começou a chorar, ninguém teria dito, olhando-a na TV, que um defeito cerebral paralisou-lhe parcialmente o lado esquerdo, tornando-lhe problemático o ato de caminhar.
Não foi fácil enfrentar as despesas médicas para o pai operário. Não é simples, em geral, seguir em frente para a família Sahwil: depois de uma breve fuga para a Síria, o retorno para o Líbano. E com a má sorte que parece se enfurecer contra a menina: um acidente, uma fratura na perna direita ("aquela boa", brinca ela, agora), uma ferida na cabeça que lhe deixou uma cicatriz no belo rosto triste.
Rejeitado pela Suécia, o visto foi concedido pela Alemanha para os tratamentos médicos, com a viagem paga pelo empregador do pai. Agora, em Rostock, a saúde vai melhor. A vida e a segurança também.
Roland Methling, o prefeito de Rostock, disse que fará de tudo para que as famílias que vivem nas mesmas condições de Sahwil obtenham o asilo na sua jurisdição. E acrescentou que a Alemanha, a Europa e a Palestina precisam de figuras como Reem. Como dizer que ele está errado?
Está contente porque começaram as férias? "Claro – disse a menina –, mas, quando estou na escola, sinto que estou fazendo algo de útil para a minha vida."
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Reem, a menina que chorou diante de Merkel - Instituto Humanitas Unisinos - IHU