Aqueles gestos papais ''muito de esquerda'' que incomodam os bispos

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13 Julho 2015

As duas primeiras etapas da viagem de Francisco são um sinal para as hierarquias católicas, as da América Latina, mas também as do resto do mundo. Em quase todo discurso, o papa recordou a raiz evangélica do compromisso com os pobres.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no jornal La Stampa, 10-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Recém-chegado na Bolívia, ele disse: "A voz dos pastores, que deve ser profética, fala à sociedade em nome da Igreja mãe, a partir da opção preferencial e evangélica pelos últimos".

Tanto no período das ditaduras militares, quanto no dos governos presididos por católicos que não brilharam em buscar novas formas de inclusão, muitos bispos latino-americanos preferiram não levantar a voz diante das injustiças.

A América Latina tornara-se a última fronteira da luta contra o marxismo. Bispos e missionários próximos do povo, mortos pelos regimes de direita, foram considerados até dentro da Igreja como "comunistas". Ou, ao menos, como pessoas que "procuraram" isso.

Com as suas palavras e os seus gestos – a beatificação de Dom Romero, a valorização dos movimentos populares na quinta-feira, a visita à prisão Palmasola na sexta-feira –, o papa mostra aos bispos como a Igreja deve estar perto do povo. Porque a atenção aos pobres "está no Evangelho e está na tradição da Igreja, não é uma invenção do comunismo".

Na quarta-feira à noite, detendo-se no lugar onde foi abandonado o corpo do jesuíta Luis Espinal, assassinado pelos paramilitares bolivianos em março de 1980, Francisco disse que ele foi "vítima de interesses que não queriam que se lutasse pela liberdade da Bolívia. Ele pregou o evangelho, e esse evangelho incomodou, e por isso o eliminaram".

Foi esse jesuíta, poeta e cineasta, estudante da Universidade Católica de Milão, que apoiava na Bolívia os protestos dos mineiros, que projetou a escultura do Crucificado na foice e no martelo presenteada pelo presidente Morales ao papa. "Eu não sabia", respondeu Bergoglio.

"Não era uma interpretação marxista da religião por parte de Espinal", explicou o porta-voz vaticano, padre Lombardi, acrescentando com um sorriso: "Certamente, não se pode colocá-lo na igreja".