Por: André | 09 Julho 2015
A maior organização indígena do Equador se queixou por ter sido excluída da agenda do Papa Francisco durante a sua visita ao Equador, onde o grupo tem divergências com o presidente Rafael Correa.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 08-07-2015. A tradução é de André Langer.
O presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador, Jorge Herrera, disse que representantes da Igreja católica nunca responderam aos pedidos de sua organização para encontrar-se diretamente com Francisco em algum momento da sua visita ao Equador. “Pelo que parece, não nos estão permitindo ter uma voz direta”, disse Herrera.
Severnino Shapuri, dirigente territorial e de recursos naturais da Confederação Indígena, manifestou seu “mal-estar” porque durante a reunião que aconteceu na terça-feira do Papa com membros da sociedade civil falaram três representantes, dois deles empresários e nenhum indígena. “O Papa coloca no centro do seu discurso os pobres e o meio ambiente e nós representamos ambas as causas, e não os empresários”, explicou Shapuri.
“Tivemos que quebrar o protocolo para poder entregar uma carta ao Papa, porque fomos excluídos”, assinalou. Para isso, o grupo de 25 indígenas presentes na reunião utilizou uma criança que se aproximou do Pontífice para lhe entregar a carta. No texto, a maior associação indígena do país denuncia “o verdadeiro rosto do governo de Rafael Correa em relação ao meio ambiente”, entre outros pontos.
Os indígenas alegam que foram recebidos há 30 anos pelo Papa João Paulo II, mas que desta vez não foi possível falar durante o encontro, como solicitaram há mais de um mês. “Não descartamos que o governo de Correa tenha pressionado para impedir que expuséssemos a grave situação pela qual passa a Amazônia e os defensores do meio ambiente, explicou Shapuri.
Francisco disse que os indígenas são os guardiões vitais do meio ambiente e os mais atingidos pelo desmatamento e pela poluição provocada pela indústria.
A confederação, conhecida por sua sigla CONAIE, considera que por essa razão Francisco deveria outorgar-lhes certo privilégio para encontrar-se em algum momento dos três de sua visita ao Equador, antes de partir para a Bolívia e o Paraguai. Francisco não teve nenhum evento previsto no país para reunir-se especificamente com indígenas, mas houve alguma representação desses grupos.
Pela manhã da terça-feira, uma das leituras da missa campal presidida pelo Papa foi feita em quéchua, a língua indígena dominante no Equador. Além disso, 25 delegados indígenas foram convidados para o encontro que o Papa teve na igreja de São Francisco com representantes da “sociedade civil”, que inclui um leque de organizações, desde empresariais até esportivas e culturais.
A CONAIE teve confrontos com praticamente todos os governos desde que foi criada, em 1986, e seus protestos de rua contribuíram para a saída do presidente em 2000.
Também lutou contra os esforços do presidente Correa de implantar projetos de mineração e petroleiros na Amazônia equatoriana e vários de seus ativistas foram presos por sua participação nas manifestações.
A agenda do Vaticano geralmente procura evitar provocações políticas com o governo anfitrião. Poucas pessoas conseguem audiências privadas.
No Equador, há 18 grupos indígenas que representam um terço dos 15 milhões de habitantes. A maioria deles é quéchua, grupo ao qual pertence Herrera. Apesar dos números, apenas cerca de um milhão deles se identificam como indígenas, segundo o censo de 2010.
O Papa Francisco, por sua vez, deu a bênção nesta quarta-feira a uma mulher de 100 anos em uma parada não prevista que fez durante o trajeto no papamóvel, antes de presidir sua segunda e última missa campal no Equador.
O papamóvel estava andando há vários minutos sem parar por entre os espaços destinados para o seu deslocamento no meio de centenas de milhares de pessoas quando, na zona norte do Parque Bicentenário, parou depois que Francisco tocasse nos ombros do motorista.
Policiais equatorianos e membros da equipe de segurança do Papa juntaram suas forças para elevar a anciã em sua cadeira de rodas até Francisco, que a recebeu com um sorriso, deu-lhe um beijo no rosto, abençoou-a e disse-lhe algumas palavras.
Com a voz entrecortada pela emoção, a idosa disse à televisão que estava “feliz”, pois nunca imaginou que isso lhe fosse acontecer: “receber a bênção de Deus na minha idade, que já tenho 100 anos”. Francisco Garcés, jornalista da Ecuavisa que fez as imagens do momento, comentou que a senhora chegou ao local, acompanhada de sua filha, poucos minutos antes de o Papa passar por ali e que a Polícia a ajudou a se colocar num lugar visível, onde Francisco a viu. A mulher não foi identificada, mas sua filha Liliana Rueda disse que “nunca” imaginou poder alcançar essa graça para a sua mãe que “está muito contente, muito feliz”.
“Isto é uma alegria inimaginável e Deus grande que nos ajudou para isso, que nos abençoa a todos, a todo o Equador”, acrescentou Rueda ao comentar que elas acabavam de chegar ao local. “Eu a trouxe aqui para que desse uma volta e se distraísse um pouco, mas Deus quis que o Papa nos desse a bênção”, disse Rueda visivelmente emocionada.
O Papa Francisco, que presidiu a missa com a presença de centenas de milhares de pessoas, abandonou o Parque Centenário no papamóvel, no qual percorreu avenidas da capital equatoriana rumo à Nunciatura.
No percurso, centenas de pessoas lhe acenaram enquanto era aguardado por outras centenas de pessoas na frente da Nunciatura, em busca de sua bênção e de uma imagem do papa, antes de deixar o Equador.
O Papa, que chegou a Quito no domingo, visitará, na sequência, a Bolívia e o Paraguai em sua primeira visita pastoral à América Latina.
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Indígenas do Equador se queixam por exclusão da agenda papal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU