18 Junho 2015
O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, reuniu dados sobre as religiões em São Leopoldo a fim de subsidiar a discussão sobre esta realidade.
A análise destes dados foi realizada pelo professor Inácio José Spohr, coordenador do GDIREC. Spohr possui graduação em Filosofia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos e mestrado em Ciências Sociais pelo Instituto Latinoamericano de Estudios Sociales, de Santiago do Chile.
Eis a análise.
Religiões e religiosidades no município de São Leopoldo, RS: Uma breve análise dos dados da amostra dos censos demográficos do IBGE relativos à década 2000-2010
Através deste texto, busco apresentar uma breve análise dos dados da amostra dos censos demográficos do IBGE relativos à década 2000-2010, enfocando o desempenho do movimento religioso no município de São Leopoldo. Seu propósito visa ainda reescrever e ampliar uma publicação de 2013, então divulgada nas páginas eletrônicas do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, que teve por título “Opções Religiosas em São Leopoldo” . Naquela oportunidade o texto veiculava dados que constam tão somente no censo de 2010. No texto atual procuro, portanto, reorganizar os dados já divulgados, confrontando-os com os do censo do ano de 2000, ampliando sua informação numérica e analítica.
São Leopoldo encontra-se situada na região do Vale do Rio dos Sinos, a aproximadamente 30 km de Porto Alegre. Faz limite com os municípios de Novo Hamburgo, Estância Velha, Portão e Sapucaia do Sul. De acordo com o Censo 2010, conta com uma população de 214.087 habitantes. Sua taxa de urbanização engloba 99,7% dos habitantes, contra 0,30% na área rural. Desde 1825 São Leopoldo é considerada berço da colonização alemã no Brasil, por ter sido aqui que aportaram os primeiros imigrantes alemães no País.
O município de São Leopoldo possui um diversificado parque industrial, além de um expressivo setor comercial e de serviços. Em sua área de atuação encontramos grandes empresas internacionais, tais como Stihl, SAP, Ensinger, H.T. Micron e Gedore. Mais do que isto, o município abriga ainda, vinculado à Universidade do Vale do Rio dos Sinos, o maior polo de informática do estado do Rio Grande do Sul, o Tecnosinos.
Em São Leopoldo, desde os primórdios da cidade, predomina a religiosidade cristã, sobretudo a vinculada à Igreja Católica Apostólica Romana e à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Hoje, embora o catolicismo romano continue sendo a opção religiosa da grande maioria dos leopoldenses, outras frentes religiosas vão encontrando cada vez mais adeptos. Particularmente vão ganhando espaço grupos ligados ao movimento evangélico de origem pentecostal, espiritismo, religiões afro-brasileiras e, de forma similar a outras regiões do Estado e País, cresce o número dos que se declaram sem religião, ateus e agnósticos, como veremos a seguir.
Entre as diversas mutações religiosas por que passou o município de São Leopoldo na década 2000-2010, a que mais chama a atenção atinge particularmente a Igreja Católica Apostólica Romana (cf. tabela 01), pois durante este período o catolicismo romano cedeu 10,88% de seus adeptos a outras formas de crer. Se, de acordo com o Censo de 2000, o catolicismo detinha então 148.638 habitantes, o que corresponde a 76,8% da população, estes, em 2010, passam a somar tão somente 141.117 habitantes, número que corresponde a 65,92% do total da população.
Não obstante, apesar da avassaladora perda de adeptos, o catolicismo romano continua sendo um modo de crer altamente majoritário no município de São Leopoldo, visto que aproximadamente 2/3 da população entrevistada pelo censo de 2010 (65,92%) declaram adesão à fé católica.
Outros credos “católicos”, como bem anota o IBGE, apresentam participação ínfima no quadro religioso do município. A Igreja Católica Apostólica Brasileira conta, em 2010, com apenas 0,1% dos habitantes (perdeu 0,33% de seus adeptos na década). Já a Igreja Católica Ortodoxa, com apenas 22 declarantes (0,01%) em 2000, obteve um acréscimo considerável de 0,1% sobre a população do município. Passa a contar, portanto, com 240 declarantes (0,11%).
Igrejas Evangélicas de Missão
O grupo de Igrejas “Evangélicas de Missão” (tabela 02), de acordo com as amostras dos censos de 2000 e 2010, apresenta as alternativas Luterana, Presbiteriana, Metodista, Batista, Congregacional, Adventista e “outras” formas de pertença às “evangélicas de missão”. Mas, ao examinarmos a nominata das igrejas que constam no levantamento do IBGE em São Leopoldo, chama particular atenção o fato de que a pesquisa desta instituição deixa de mencionar explicitamente segmentos evangélicos tradicionais deste município. Cito, por exemplo, a “Igreja Episcopal Anglicana do Brasil” (IEAB), a “Igreja Evangélica Luterana do Brasil” (IELB) e a “Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil” (IECLB). Provavelmente os adeptos destas denominações se encontram sob o guarda-chuva da expressão “Luterana” ou, quiçá, sob o item “outras evangélicas de missão”. Mas o mais provável é que boa parte dos “evangélicos de missão” pode ser encontrada sob a alternativa “evangélica não determinada”, que em 2010 contempla 6,38% da população do município (cf. tabela 04, a ser examinada um pouco mais adiante).
Posto isto, vemos que o índice de evangélicos de missão (tabela 02) abrange 5,15% da população de São Leopoldo. Desses, como mostra o censo de 2010, 3,72% cabem à Igreja Evangélica Luterana, 0,95% à Igreja Evangélica Adventista, 0,36% à Igreja Evangélica Batista, 0,03% à Igreja Evangélica Metodista, 0,02% à Igreja Evangélica Presbiteriana, 0,02% à Igreja Evangélica Congregacional e 0,05% a outras igrejas evangélicas de missão.
Assim como o catolicismo romano, as evangélicas de missão tiveram uma diminuição que engloba 2,6% da população do município durante a década 2000-2010. Perderam adeptos as Igrejas Luterana (2,69%), Batista (0,32%) e outras evangélicas de missão (0,03%). Ganharam mais adeptos as Igrejas Adventista (0,4%) e Presbiteriana (0,02%), enquanto neste mesmo período a Igreja Evangélica Metodista manteve estáveis 0,03% de adeptos; a Igreja Evangélica Congregacional, sem registros em 2000, conquistou 0,02% dos habitantes em 2010.
Igrejas Evangélicas de origem pentecostal
Dentre as denominações religiosas de origem pentecostal (tabela 03) merece destaque a Igreja Assembleia de Deus. Esta Igreja reúne 6,84% dos leopoldenses (14.641 habitantes), enquanto outras igrejas, como a Universal, a Congregação Cristã do Brasil, a Evangelho Quadrangular e a Deus é Amor, entre outras, somam menos que a metade da opção evangélica de “origem pentecostal”. Também no elenco das opções religiosas dessa mesma origem, o termo “outras” chama atenção: 7.641 adeptos (3,57%) representam um grau de incerteza relativamente alto quanto à pertença religiosa pentecostal no município.
Ao contrário das tradições religiosas católica e evangélica de missão, as religiões evangélicas de origem pentecostal tiveram significativo acréscimo de adeptos na década. Se em 2000 este conjunto de igrejas detinha um total de 16.763 declarantes (8,67%), em 2010 este número se eleva para 26.133 (12,22%). O fato corresponde a um acréscimo equivalente a 3,55% da população do município. Participam desse crescimento as Igrejas: Assembleia de Deus (com mais 1,44%), Deus é Amor (0,27%), Evangélica renovada não determinada (0,02%) e “Outras Evangélicas de origem pentecostal” (2,84%).
Mas nem todas as religiões integrantes do grupo de origem pentecostal obtiveram igual desempenho durante a década. Como podemos observar na tabela 03, algumas destas igrejas se destacam pela trajetória inversa à do crescimento do grupo como um todo. Diminuíram de tamanho as igrejas: Congregação Cristã do Brasil (com menos 0,05%), O Brasil para Cristo (0,01%), Evangelho Quadrangular (0,13%) e Universal do Reino de Deus (0,82%). Esta última perdeu parte de seus adeptos, embora seja muito conhecida em toda a região por sua alta presença nos meios televisivos.
Igrejas Evangélicas sem vínculo institucional e não determinada
Em relação ao grupo de igrejas aqui denominado “evangélicas sem vínculo institucional e não determinada” (tabela 04), cabe esclarecer que o censo de 2000 pesquisou as alternativas “evangélicos sem vínculo” (0,11%), “evangélicos de origem pentecostal sem vínculo” (0,27%) e membros de “outras religiões evangélicas” (0,24%). As três alternativas somam, portanto, 1.208 aderentes, um índice igual a 0,62% da população do município.
Já no censo de 2010 as alternativas acima foram substituídas pela opção “evangélica não determinada”, ocasião em que o IBGE obteve 13.662 respostas positivas, um contingente de adeptos que corresponde a 6,38% da população. Este número, comparado ao do censo de 2000, indica que houve um incremento de 5,76% sobre os habitantes no município de São Leopoldo. Significa também que um grande contingente de entrevistados não declararam (ou não souberam definir) o nome de seu credo evangélico. Ou, ainda, não se sentiram representados pelas alternativas que constam na tabela 02, como assinalei acima.
Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias, Testemunhas de Jeová, Espiritualista e Espírita
No grupo de religiões da tabela 05 encontramos uma tendência de crescimento bastante significativa, tanto em São Leopoldo quanto em outras regiões do Vale do Rio dos Sinos. Trata-se, no caso, do importante crescimento do Kardecismo, aqui denominado Religião Espírita . Se no censo de 2000 os espíritas contavam somente com 2.282 representantes (1,18%), em 2010 passam a contar com 5.502 habitantes (2,57%). O incremento proporciona uma variação positiva superior ao dobro do número de membros espíritas obtidos no censo anterior .
De acordo com o censo de 2010, as práticas religiosas reunidas sob a denominação Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e Testemunhas de Jeová, já bastante diminutas em 2000, ficaram ainda menores. A primeira passou de 0,24% dos habitantes para tão somente 0,17%, e a segunda migrou de 0,73% para 0,65%. A religião Espiritualista, sem representantes em 2000, passa a contar em 2010 com 0,06% da população do município.
Religiosidades de Matriz Africana
É sobejamente conhecido o fato de que as Religiões Afro-Brasileiras, devido à sua herança histórica, são numericamente sub-representadas, principalmente quando se trata de dados emanados dos censos. Isso porque nem sempre os adeptos desses credos encontram condições suficientes que permitam deixar inequivocamente clara sua pertença religiosa. Com frequência marcam a opção “católica” (religião dominante e socialmente mais palatável), quando efetivamente fazem parte da Umbanda, do Batuque ou mesmo do Espiritismo.
Por conseguinte, é possível afirmar que os dados apresentados pela amostra dos censos demográficos de 2000 e 2010 (tabela 06) denotam estas mesmas ou outras inconstâncias, quando se trata das religiões Afro-Brasileiras no município de São Leopoldo? Senão vejamos.
De fato, os dados da tabela 06 informam que, de acordo com o censo de 2010, há somente 2.472 praticantes (1,15%) que declaram pertença a uma religião Afro-Brasileira no município de São Leopoldo. Destes, 2.252 (1,05%) declararam ser da Umbanda, 41 (0,02%) se identificam com a expressão religiosa “Candomblé” e outros 176 (0,08) declararam tomar parte em “Outras religiosidades Afro-Brasileiras”. Comparado ao resultado do censo de 2000, que reuniu então apenas 0,66% da população, os 1,15% da população de São Leopoldo em 2010 representam um incremento de 0,49% de adeptos no meio religioso afro-brasileiro.
Ainda assim os dados dos censos de 2000 e 2010 transmitem a sensação de estarem aquém do esperado. Em recente visita a terreiros (entre 2012 e 1013), sobretudo em datas festivas de Ogum, Iemanjá e Oxum, o movimento religioso africanista (como gostam de se apresentar) dá mostras de que podem existir, na realidade, indicadores bem mais alentados do que estes apresentados pelos censos. Segundo dados reunidos pela Associação Afro-Umbandista de São Leopoldo e pela Associação Leopoldense de Candomblé, Umbanda e Cultos Afro-brasileiros (Alcucab), estão em funcionamento no município proximamente 468 Casas de Religião Africana. Se cada uma delas tiver, em média, 10 a 20 adeptos, a soma destes ultrapassaria, distante, o número registrado pelo censo. Contudo, sem um censo específico que tenha foco na experiência religiosa africanista, torna-se difícil averiguar o que, de fato, acontece neste meio .
Por último cabe, também, um alerta quanto à nomenclatura usada no censo. No Rio Grande do Sul o nome “Candomblé”, por ser pouco conhecido, pode ter contribuído pelo exíguo número de registros afro-brasileiros. Mais conhecidas são as denominações Batuque (termo muito popular), Religião (dizem comumente: “fulano é de religião”), Nação, Religião Africana e Africanismo, entre outras.
Outro aspecto que chama atenção dos que tratam do tema religiões de matriz africana aborda questionamentos quanto à “raça” e à “cor” do contingente que frequenta as casas desse grupo de religiões. No caso, os dados do censo de 2010 informam que, de um total de 2.473 habitantes que frequentam casas de religião africana, 1.768 (71,49%) são da cor “branca”, enquanto 370 (14,99%) são da cor “preta” e outros 335 (13,55%) são da cor “parda”.
Pretos e pardos somam, portanto, 28,51% nestas casas, enquanto os “brancos africanistas” (permita que os designe dessa forma) perfazem 71,49%. Por conseguinte, os dados do Censo confirmam, por um lado, que a grande maioria dos que frequentam religiões afro-brasileiras é formada por brancos e que, nestas mesmas casas, pretos e pardos participam em número que supera sua representatividade real na região; por outro lado, confirmam que as religiões afro-brasileiras não são religiões só de negros, mas também não confirmam a ideia de que sejam (absolutamente) brancas.
A propósito, o censo de 2010 anota que, em São Leopoldo, moram 10.334 “pretos” (que representam 4,83% da população) e 18.688 “pardos” (índice equivalente a 8,73% da população). Pretos e partos representam, portanto, 13,56% dos habitantes do município.
Religiões do Próximo Oriente: Judaísmo e Islamismo
Em São Leopoldo, segundo o Censo de 2010 (tabela 07), somente 09 pessoas se identificaram com a religião Judaica e 54 com a do Islã. Não há registros de pertença religiosa judaica ou islâmica no censo de 2000.
Historicamente, o Islamismo e o Judaísmo não fazem parte da tradição religiosa do município. Estas formas religiosas, não obstante, encontram maior representatividade em Porto Alegre e em algumas cidades da fronteira sul do Rio Grande do Sul.
Religiões Orientais
De acordo com o IBGE, as religiões orientais, em São Leopoldo (tabela 08), encontram bem poucos integrantes. Tanto o Budismo quanto o Zen-Budismo e Brahma Kumaris (não lembrada pelo censo), entre outras, embora estabelecidas já há alguns anos na região, ainda são objetivamente desconhecidas enquanto efetiva opção religiosa para a grande maioria da população. “O budismo, como prática religiosa, ainda é uma flor exótica”, conclui Monja Kokai, do Zen-Budismo Vale do Sinos .
Conforme o censo de 2000 havia então, em São Leopoldo, 199 pessoas (0,1%) identificadas como membros de religiões orientais: 72 (0,04%) declararam ser budistas e outras 127 (0,06%) declararam pertença a “Outras religiões orientais”. Já no censo de 2010 os integrantes de um credo de origem oriental diminuem um pouco: de 199 aderentes (0,1%), as religiões orientais passam a contar com somente 177 (0,09%). Destes, 58 (0,03%) pertencem ao Budismo, 54 (0,03%) são da Igreja Messiânica Mundial (que não teve registros no censo de 2000) e 65 (0,03%) dos entrevistados registram ser de “Outras religiões orientais”. O Hinduísmo não registrou adeptos em ambos os censos.
Religião não determinada e múltiplo pertencimento
O tema “religiosidade não determinada”, “mal definida”, “não sabe” ou “sem declaração” recebe do IBGE um tratamento diferenciado na década 2000-2010. No censo de 2000 o Instituto pesquisa, como podemos ver na tabela 09, somente o item “não sabe”, quando obteve 178 respostas. Portanto, 0,09% dos entrevistados não souberam definir se têm ou não, digamos, uma afinidade religiosa que possa ser identificada.
Já no censo de 2010 o IBGE remodela a busca por indivíduos nesse grupo. Pergunta, então, sobre “religiosidade não determinada ou mal definida”, que rendeu 802 respostas (0,37% da população); sobre “declaração de múltipla religiosidade”, que somou outras 127 respostas (0,06%); e sobre “sem declaração”, que proporcionou mais 176 respostas (0,08%). Somados os percentuais de 2010 observamos, então, que 0,51% da população de São Leopoldo se enquadra na definição religiosa desse grupo. Portanto, um número 0,42% maior que o do censo de 2000.
Chama atenção que somente 127 pessoas (0,06%) evidenciem uma opção de “múltipla religiosidade”. Não poucas vezes deparamos com indivíduos e grupos de pessoas que, embora católicos ou evangélicos, denotam frequência a outros credos como os da Umbanda, Religião Africana e Espiritismo, entre outros.
Tradições Esotéricas e Indígenas
Os dados do IBGE mostram que grupo religioso formado por tradições esotéricas e religiosidades indígenas vem a ser bastante exíguo em São Leopoldo. Conforme a tabela 10, as tradições esotéricas somam, em 2000, apenas 32 adeptos (0,02%), mas estas, em 2010, passam a contar com 135 adeptos (0,06% da população). As tradições indígenas, com 34 registros (0,02%), aparecem somente no censo de 2010.
Efetivamente, a terra dos “capilés” consegue apresentar apenas 34 pessoas que confessam ter um credo religioso identificado com a tradição indígena... De fato, em São Leopoldo encontramos um pequeno grupo de indígenas Kaingang, alojados numa reserva do bairro Feitoria. Atuantes, circulam pela cidade com suas roupas coloridas, rostos típicos, com grandes bolsas carregadas nas costas. Vendem bugigangas, ganham a vida com dignidade. E, como não, também devem ser dignos de sua tradição religiosa “índia”.
Mas vamos a alguns números emanados do censo de 2010. Pelo sim e pelo não, este informa que, das 34 pessoas que declaram pertença à religiosidade indígena, 25 são “brancos” e 09 são da cor “parda”. Nenhum dos 34 adeptos da tradição religiosa indígena é indígena.
O mesmo censo informa ainda que, em São Leopoldo, 171 pessoas declaram ser de ascendência indígena. Destas, 75 são católicos, 19 são da Assembleia de Deus, 27 afirmam pertença à opção Evangélica não determinada, 11 são da Igreja Testemunhas de Jeová e 39 se declaram sem religião.
Sem Religião, Ateus e Agnósticos
Quando verificamos quantos moradores de São Leopoldo se enquadram na opção “sem religião”, observamos que o censo de 2000 aponta que estes somam 4.876 indivíduos, que representam 2,52% da população do município. Já no censo de 2010 esta questão recebe um tratamento bem mais amplo. O IBGE passa, então, a perguntar sobre quantos são “sem religião-sem religião”, sobre quantos se consideram “sem religião-ateus” e sobre quantos subscrevem o termo “sem religião-agnósticos”. A soma dos três itens rende um total de 9.742 habitantes, ou seja, 4,44% da população do município. Destes, 9.054 (4,55%) se identificam como “sem religião”, 609 (0,28%) se declaram “ateus” e outros 79 (0,04%) indicam que são “agnósticos”.
Além dos números, é possível pensar que em São Leopoldo, assim como em outros locais do país, não é tarefa fácil declarar-se ateu. Aqui vigoram costumes e crenças avassaladoramente cristãos (89,66% dos leopoldenses se declararam pertencentes à fé religiosa católica ou evangélica), a palavra “ateu” evoca estranhamentos, quando não resulta em condenações e exclusão. Se, nesta região, por um lado, é bastante aceitável ser católico ou evangélico não praticante, ser manifestamente ateu, ou ateísta, ainda requer força e coragem. Talvez, por isso, tenhamos tão poucos ateus e agnósticos.
Conclusões
A título de conclusão apresento, a seguir, algumas considerações quanto ao desempenho das religiões e religiosidades em São Leopoldo durante a década 2000-2010. Primeiro aspecto que reavalio aqui trata do tema “Religiões Evangélicas”. Como anotei acima, vimos que na década passada as religiões “Evangélicas de Missão” (tabela 02) diminuíram 2,6% sobre o total de habitantes de São Leopoldo, enquanto as religiões “Evangélicas de origem pentecostal” (tabela 03) e os declarantes “Evangélicos sem vínculo institucional e Evangélica não determinada” (tabela 04) tiveram um acréscimo de adeptos que equivale, respectivamente, a 3,55% e 5,76% da população do município. A soma dos dados informa, pois, que o meio evangélico teve um incremento real de 6,71% na década, como podemos observar na tabela 12. Passou de 32.999 (17,04%) para 50.834 adeptos (23,75%).
Não obstante, quanto à significativa expansão evangélica em São Leopoldo durante a década 2000-2010, cabe alertar que esta deve ser entendida à luz do termo “evangélica não determinada”, que, como já assinalei na apresentação da tabela 04, contabiliza 6,38% da população do município. Ou seja, temos aqui um índice populacional relativamente constituído por pessoas que, possivelmente, não querem ou não sabem declinar o nome de sua religião, ou que então se enquadram numa espécie de “igreja evangélica genérica” , uma opção religiosa próxima ou similar a de um “católico não praticante”.
Outro aspecto do quadro religioso de São Leopoldo avalia o desempenho do conjunto das denominações cristãs. Estas, de acordo com a tabela 13, tiveram uma redução numérica de praticantes que alcança 4,13% da população, apesar do vertiginoso crescimento pentecostal neste município. Ou seja, o cristianismo está diminuindo em São Leopoldo. Ou ainda, o crescimento pentecostal não supre as deficiências do catolicismo e de algumas das Igrejas Evangélicas de Missão. Efetivamente cresceram as Evangélicas de origem pentecostal (3,55%), os Evangélicos sem vínculo institucional e não determinada (5,75%) e um pequeno grupo intitulado “outras cristãs” (0,27%). Mas a expansão destas não supre as perdas da Igreja Católica Apostólica Romana (com menos 10,88%), da Católica Brasileira e Ortodoxa (com menos 0,23%) e das Evangélicas de Missão (com menos 2,6%).
Contudo, apesar da redução numérica do cristianismo na ordem de 4,14%, este permanece absoluto em São Leopoldo. As diferentes denominações cristãs alcançam 90,15% da população. As demais formas de crer ou descrer somam, portanto, somente 9,85% desta mesma população.
O terceiro aspecto que chama a atenção no quadro do desenvolvimento das religiões no município de São Leopoldo diz respeito à diversidade e desempenho destas durante a década 2000-2010. Como podemos observar na tabela 14, a coluna percentual do ano de 2010 elenca, por ordem decrescente, o tamanho numérico de cada um dos segmentos que fazem parte da diversidade religiosa desta cidade. Desde logo observamos que (1) a Igreja Católica Apostólica Romana, embora 10,88% menor que em 2000, se mantém altamente majoritária no quadro religioso do município, porque continua sendo a opção religiosa de 65,92% de todos os declarantes do censo de 2010.
O segundo segmento religioso em grau de importância numérica pertence ao meio religioso evangélico. A prevalência cabe às (2) Igrejas Evangélicas de origem pentecostal, que reúnem 12,22% da população do município. Segue um grupo de praticantes formado por (3) Evangélicos pentecostais sem vínculo institucional e igreja não determinada, que soma 6,38% da população. O grupo formado pelas (4) Igrejas Evangélicas de Missão, embora menor que em 2000, mantém, em 2010, a preferência de 5,15% dos declarantes. Logo, em conformidade com a tabela 12, o conjunto das igrejas evangélicas soma 23,75% da população.
O quinto grupo em grau de importância numérica na diversidade religiosa do município de São Leopoldo, ao contrário dos demais grupos, é propriamente formado por “não religiosos”, visto que dele fazem parte os declarantes (5) “sem religião”, “ateus” e “agnósticos”, que representam 4,55% dos moradores da cidade. Seguem, por ordem de importância, os grupos religiosos: (6) Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias, Testemunhas de Jeová, Espiritualista e Espírita, com 3,45%; (7) religiões Afro-Brasileiras, com 1,15%; (8) religião não determinada e múltiplo pertencimento, com 0,51%; (9) Católica Apostólica Brasileira, Católica Ortodoxa e outras cristãs, com 0,48%; (10) Religiões Orientais, com 0,09%; (11) Tradições Esotéricas e Indígenas, com 0,08%; e (12) Judaísmo e Islamismo, com 0,03% da população.
Por último cabe ainda observar que os dados aqui analisados indicam que a diversidade religiosa no município de São Leopoldo deverá se manter em alta na próxima década e, quiçá, em outras décadas mais. E, neste sentido, um dos papéis centrais na diversificação religiosa envolve o catolicismo que, possivelmente, deverá manter sua tendência de queda nos próximos anos. Historicamente provém de um período em que, por séculos, reinou absoluto como religião de Estado. Desde a proclamação da república, em 1889, Igreja e Estado seguem oficialmente separados, mas somente a partir da segunda metade do século passado, com o advento das religiões neopentecostais, que o mercado da religião inicia um período realmente competitivo. Desde então o catolicismo romano vem cedendo, paulatinamente, aderentes a outros credos, sobretudo ao segmento pentecostal. Em um contexto de democracia religiosa, o catolicismo romano perde seus privilégios e, aos poucos, com os pés no chão, se insere em um meio religioso onde será percebido como uma das muitas denominações religiosas do município.
Mas, de acordo com os censos de 2000 e 2010, o catolicismo romano não é um único grupo religioso que vem perdendo espaço numérico entre a população local, Estado e País. Em São Leopoldo, além dos católicos, portanto, perderam adeptos algumas Igrejas integrantes do grupo religioso denominado Evangélicas de Missão (tabela02) e mesmo algumas igrejas que fazem parte do grupo denominado Evangélicas de origem pentecostal (tabela 03).
Não obstante, ainda que as Evangélicas de origem pentecostal, como observamos acima (tabelas 03, 04 e 12), tenham conquistado um significativo quinhão de novos adeptos, o cristianismo como um todo cedeu aderentes a credos fora de seu paradigma religioso, um contingente que corresponde a 4,13% dos entrevistados pelo censo de 2010, comparado ao do ano de 2000 (tabela 13). E se são estes os grupos religiosos que cedem adeptos, quais recebem, então, novos aderentes no município de São Leopoldo? De acordo com a tabela 14, o grupo que obteve mais novos adeptos fora da área cristã vem a ser, justamente, o grupo formado por declarantes sem religião, ateus e agnósticos. Estes, em 2000, detinham 2,52% da população, mas em 2010 passam a contar com 4,55% desta mesma população.
Além do grupo sem religião, existem ainda outros dois grupos religiosos que se beneficiam com adeptos oriundos da área do cristianismo. Este vem a ser o caso do Espiritismo e das religiões Afro-Brasileiras. O Espiritismo, como indica a tabela 05, praticamente dobrou seu número de participantes: passou de 1,18% dos habitantes de São Leopoldo para 2,57%, um índice que proporciona um acréscimo de 1,39% da população do município. Já as religiões de matriz africana (tabelas 06 e 14) tiveram um aumento um pouco mais modesto. Mesmo assim, na prática, dobram o número de seus participantes, passando de 0,66% para 1,15% dos adeptos religiosos do município de São Leopoldo.
Notas:
1 - http://www.ihu.unisinos.br/areas/trabalho/observa-sinos/520303-opcoes-religiosas-em-sao-leopoldo
2 - https://www.saoleopoldo.rs.gov.br/home/
3 - http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Leopoldo
4 - Conforme o Censo de 2010, os que declaram pertença à Igreja Católica Apostólica Romana na Região do Vale do Rio dos Sinos (14 municípios) somam 67,84% da população. No RS os católicos perfazem 68,82%, enquanto no Brasil a cifra católica romana é um pouco menor, pois alcança 64,63% de seus habitantes.
5 - O IBGE não distingue entre “evangélicas de origem pentecostal” e “evangélicas de origem neopentecostal”.
6 - A “Igreja Evangélica Renovada não determinada” não teve registros no censo de 2000.
7 - Note-se que os dados dos Censos não distinguem entre “casas confederadas” e casas espíritas independentes. Ambas as formas espíritas marcam presença em São Leopoldo.
8 - Assim como entre os adeptos das religiões africanistas, também no meio Espírita pode haver certa omissão identitária, visto que nem todos os que frequentam aquelas casas declaram-no de forma precisa. Dada a “característica cristã” da doutrina de Allan Kardec, um razoável contingente de integrantes do catolicismo e igrejas evangélicas costuma, rotineira ou esporadicamente, participar de eventos espíritas, sem que isso represente dúvidas sobre sua origem religiosa.
9 - A pesquisa “Religiões na Região Metropolitana de Porto Alegre (RS)”, do GDIREC, em uma de suas publicações intitulada “O mundo das religiões em São Leopoldo” (Caderno CEDOPE, ano 13, n. 16, 2001), destaca que o município de São Leopoldo, em 2001, mantinha 364 locais de culto (Afro e Umbanda 101, Católica 64, Pentecostais e Neopentecostais 137, Espíritas 17, Evangélicas Históricas 28 e diversas 17). O mesmo caderno também aponta que as religiões então cadastradas pela pesquisa apresentavam 53.520 frequências semanais a seus templos e casas de culto, o que representa 27,6% sobre um universo de 193.403 moradores. Destas 53.520 frequências semanais, as religiões Afro e Umbanda detinham 11,7%, a Católica 26,4%, os Pentecostais e Neopentecostais 44,6%, o Espiritismo 5,5%, as evangélicas históricas (o mesmo que evangélicas de missão) 5,4% e as Diversas 6,2%. 139.883 pessoas (72,4%) marcavam presença esporádica em cultos religiosos ou sem nenhuma participação.
10 - http://www.brahmakumaris.org/brazil/sedes/Regiao_Sul/Sao_Leopoldo
11 - http://zenvaledossinos.blogspot.com.br/
12 - No Estado do Rio Grande do Sul temos: 5,35% de moradores que se identificam como “sem religião”, 0,47% como “ateus” e 0,08% como agnósticos. A soma no RS corresponde a 5,9% da população. No Brasil os dados são respectivamente: 7,65% de moradores sem religião, 0,32% de ateus e 0,07% de agnósticos. Total no Brasil: 8,04%.
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Religiões e religiosidades em São Leopoldo - RS - Instituto Humanitas Unisinos - IHU