Por: Jonas | 29 Mai 2015
O cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, pronunciou apenas uma frase ao final do breve encontro com os jornalistas, por ocasião da Conferência Internacional da Fundação “Centesimus Annus”. Contudo, trata-se da primeira voz oficial vaticana sobre o caso do embaixador francês Laurent Stefanini, que Paris indicou como representante ante a Santa Sé, em janeiro deste ano, mas que não obteve a aprovação vaticana. O “primeiro-ministro” do Papa Francisco disse que “o diálogo ainda está aberto e esperamos que possa ser concluído positivamente”. Palavras que dão a entender uma possível saída para o placet.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 27-05-2015. A tradução é do Cepat.
Como se recordará, o caso do embaixador francês ante a Santa Sé teve um notável eco midiático, depois que alguns jornais parisienses consideraram a homossexualidade de Stefanini como o motivo principal da negativa do Vaticano.
O Conselho de ministros da França havia indicado o nome de Stefanini, no último 5 de janeiro, e sua nomeação se tornou pública semanas depois. O Vaticano normalmente utiliza, para a concessão do consenso diplomático, regras férreas e bem consolidadas: o embaixador que chega ante a Santa Sé não pode ter situações matrimoniais “irregulares” ou comportamentos que sejam contrários aos ensinamentos da Igreja. Nada de divorciados em segunda união, pessoas homossexuais que convivam com seus parceiros ou ativistas que lutam pelo matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. O caso de Stefanini se demonstrou muito mais complexo frente a outros que, em épocas recentes, também haviam provocado um “não” por parte da Secretaria de Estado vaticana.
Laurent Stefanini é, efetivamente, um crente; em seu caminho de fé foi acompanhado pelo cardeal arcebispo de Paris, André Vingt-Trois, que em certo sentido o “recomendou” e serviu como avalista em vista de uma possível nomeação na embaixada ante o Vaticano. Em março de 2005, quando deixou a sede diplomática ante a Santa Sé, recebeu a Ordem de São Gregório das mãos de João Paulo II. Sempre foi celibatário, nunca se casou (nem na Igreja, nem no civil). Nunca negou sua orientação sexual, que, explica aos amigos, “impediu-me de formar uma família e ter filhos”. É um católico praticante. O candidato para o posto do embaixador nunca fez “outing”, nunca foi um ativista gay, nunca participou em “lobbies” e sempre se distinguiu por sua discrição pessoal.
Então, a falta do placet vaticano não tem como origem a tendência homossexual do candidato francês, mas, ao contrário, o fato de que o presidente François Hollande teria desejado “torcer a mão” a Francisco, dando por certo o placet para seu candidato. Francisco quis enviar um sinal preciso a esse respeito, quando no último dia 7 de abril recebeu em audiência particular, na Casa Santa Marta, o próprio Stefanini, que se encontrava em Roma porque a Secretaria de Estado o havia convocado.
No final da audiência, pediu ao Papa para que rezassem juntos e Bergoglio aceitou. Diante da falta de consenso da Santa Sé, Paris respondeu, em diferentes momentos, que estava esperando uma resposta e que não havia mais candidatos disponíveis. Como interpretar, pois, as palavras pronunciadas pelo Secretário de Estado? Sobretudo, a frase sobre a possibilidade de uma solução positiva indicaria uma mão estendida para o governo francês. Há algumas semanas, no dia 24 de abril passado, o próprio cardeal Parolin, em um encontro com os jornalistas em Pádua, evitou se pronunciar sobre o caso Stefanini. A esperança de uma possível solução dá a entender que as autoridades vaticanas, para mudar a atitude que mantiveram até o momento, estejam esperando um passo do governo francês. Passo que não foi dado ainda. Um jornal francês havia falado sobre um encontro entre o Ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, e o Papa Francisco, que teria ocorrido no último dia 17 de maio, por ocasião da cerimônia de canonização. Na realidade, confirmam ao Vatican Insider fontes vaticanas, o Pontífice cumprimentou brevemente Cazeneuve e os demais responsáveis das delegações, antes da missa, na sacristia.
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Vaticano. Possíveis soluções para o caso do embaixador francês Stefanini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU