Por: Jonas | 26 Mai 2015
“A ampliação da precariedade, do trabalho sujo e da chantagem da má vida faz experimentar, principalmente entre as gerações jovens, que a falta de trabalho tira a dignidade, impede a plenitude da vida humana e reivindica uma resposta veloz e vigorosa”. “Considerar o estado social uma infraestrutura de desenvolvimento e não um custo é uma batalha cultural importante”. “A proposta de um apoio não apenas econômico às pessoas que estão abaixo da linha da pobreza absoluta, que também aumentaram na Itália, nos últimos anos, pode trazer benefícios para toda a sociedade”. São algumas das passagens chaves do discurso pronunciado pelo Papa Francisco, nesta manhã, para cerca de 7.000 delegados das ACLI (Associações Cristãs de Trabalhadores Italianos), que se reuniram na Aula Paulo VI para celebrar, com o Pontífice, o 70º aniversário de sua fundação.
A reportagem é de Mauro Pianta, publicada por Vatican Insider, 23-05-2015. A tradução é do Cepat.
Durante a audiência, o Papa pediu “uma resposta rápida e vigorosa contra este sistema econômico que coloca no centro não o homem e nem a mulher, mas, sim, o deus dinheiro: é um deus dinheiro o que manda”. “E este deus dinheiro – apontou Francisco – destrói e provoca a cultura do descarte: são descartadas as crianças que não se tem, são deflagradas ou mortas antes de nascer. São descartados os anciãos, que não possuem curas, nem remédios. E agora são descartados os jovens: imaginem, nesta terra tão generosa, 40% dos jovens não possuem trabalho”. “São material de descarte – acrescentou – e são o sacrifício que esta sociedade moderna e egoísta oferece ao deus dinheiro que domina esta sociedade”.
O Pontífice enfatizou os casos dos anciãos, “descartados, que recebem aposentadoria mínima”, e dos jovens “descartados, com o risco de caírem nas dependências ou na má vida, ou de buscarem horizontes de guerra como mercenários”.
Além disso, Bergoglio lançou um chamado: “Não podemos cortar as asas de todos os que, em especial os jovens, têm tanto a oferecer com suas inteligências e capacidades; eles devem ser libertados dos pesos que os oprimem e que os impedem de entrar com plenos direitos e o quanto antes no mundo do trabalho”.
O Papa também mencionou os jovens que se veem obrigados a abandonar a Itália para procurar um emprego. “Hoje, muitos jovens se deslocam para procurar um trabalho adequado aos seus estudos ou para viver uma experiência diferente de profissão: animo-lhes a acolhê-los, apoiá-los em suas trajetórias e a oferecer seu apoio para sua inserção”. “Em seus olhos podem encontrar um reflexo do olhar de seus pais ou de seus avós que foram longe para poder trabalhar – acrescentou. Que vocês possam ser para eles um bom ponto de referência”.
Citando uma passagem da “Evangelii Gaudium”, o Papa Bergoglio exortou: “Convido-lhes a realizar um sonho que voa mais alto. Devemos fazer com que, mediante o trabalho (o trabalho livre, criativo, participativo e solidário) o ser humano expresse e faça crescer a dignidade da própria vida”.
Em relação ao trabalho livre, o Papa destacou que “muitas vezes, ao contrário, o trabalho é vítima de opressões em diferentes níveis: do homem pelo homem, de novas organizações escravistas que oprimem os mais pobres; em particular, muitas crianças e muitas mulheres sofrem uma economia que obriga a um trabalho indigno, que contradiz a Criação em sua beleza e em sua harmonia. Devemos fazer com que o trabalho não seja um instrumento de alienação, mas, sim, de esperança e de vida nova”.
Em relação ao trabalho criativo, o Papa apontou que este pode encontrar espaço “quando se permite que o homem expresse, com liberdade e criatividade, algumas formas de empreendimento, de trabalho colaborativo em comunidades que permitam a ele e a outras pessoas um desenvolvimento pleno econômico e social”.
Com o trabalho participativo, o Pontífice convidou a “ver sempre no fim do trabalho o rosto do outro e a colaboração responsável com as demais pessoas”. “Ali onde, em razão de uma visão econômica, pensa-se no homem de forma egoísta e nos demais como meios e não como fins, o trabalho perde seu sentido primordial de continuação da obra de Deus, obra destinada a toda a humanidade, para que todos possam se beneficiar dela”, acrescentou.
Para concluir, falando sobre o trabalho solidário, o Papa recordou que “todos os dias vocês se encontram com pessoas que perderam o trabalho (isto faz chorar), ou que procuram emprego e que aceitam o que lhes oferecem, pessoas que querem levar para casa o pão para suas famílias”. “É preciso dar uma resposta para estas pessoas – concluiu. Em primeiro lugar, é preciso oferecer proximidade, a própria solidariedade”. Todos os círculos das “ACLI, que hoje estão aqui representados por vocês, podem ser lugares de acolhida e encontro, No entanto, em seguida, é necessário oferecer instrumentos e oportunidades adequadas. É necessário o compromisso de sua Associação e de seus Serviços para contribuir e oferecer estas oportunidades de trabalho e novos caminhos de emprego e de profissão”.
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O Papa: a falta de trabalho tira a dignidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU