14 Mai 2015
"Eu confesso que eu era contrário tanto ao diálogo do Vaticano com Cuba, quanto com os Estados Unidos. Mas agora começo a pensar que o Papa Francisco está fazendo com Castro uma operação semelhante a que João Paulo II conseguiu com Gorbachev." A comparação é muito forte, mas, se quem a faz é Michael Novak, isso significa que algo de histórico realmente está acontecendo.
A reportagem é de Paolo Mastrolilli, publicada no jornal La Stampa, 12-05-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Novak é um dos intelectuais católicos norte-americanos de maior peso, com um caminho pessoal muito claro: começara a fazer política com Robert Kennedy, mas, depois, seguiu o caminho do grupo dos democratas que se tornaram neoconservadores. Foi embaixador do governo estadunidense durante o governo Reagan, e as suas raízes da Europa Central o ajudaram a estabelecer uma amizade pessoal com Karol Wojtyla. Em suma, ele tem todos os títulos para fazer parte do grupo dos norte-americanos céticos em relação a Francisco.
Eis a entrevista.
Por que o senhor tinha suspeitas em relação ao diálogo com Cuba?
O debate entre aqueles que pensam que a abertura seria mais eficaz ao favorecer a liberdade e o respeito dos direitos humanos com aqueles que acreditam na funcionalidade do isolamento já se arrasta há décadas e foi conduzido por boas pessoas inteligentes em ambos os lados. Eu pensava que, com 55%, tinham razão os defensores do embargo, porque eu temia a instrumentalização do diálogo. Em outras palavras, Cuba poderia fingir que queria se abrir, para obter as vantagens econômicas e políticas disso, deixando intacta, porém, a opressão da liberdade e dos direitos humanos.
Agora o senhor mudou de ideia?
Digamos que estou mudando de ideia. Esse perigo da instrumentalização ainda existe e requer que as negociações sejam conduzidas com grande prudência. Em outras palavras, para toda concessão da nossa parte, devem corresponder concessões por parte do regime no plano da liberdade religiosa, da liberdade em geral e do respeito aos direitos humanos. Mas tenho a impressão de que, desta vez, Castro esteja falando muito a sério. Eu não era a favor do diálogo, mas, agora que ele começou, acho que seja justo continuá-lo, porque, se ele for bem-sucedido, levará a um resultado histórico.
A comparação com a relação entre João Paulo II e Gorbachev não é um pouco exagerada?
Não, porque, na época, havia o mesmo ceticismo, e, ao contrário, Wojtyla estava certo. Gorbachev sinceramente queria reformar a União Soviética, e dialogar com ele serviu para ajudá-lo a realizar o seu objetivo realmente. Na origem da disponibilidade mostrada por Castro, eu acredito que há a convicção de que o regime, assim, não pode durar por muito tempo, e, portanto, é melhor começar uma reforma gradual e não violenta, gerida pelos próprios irmãos Raúl e Fidel. Se esse é o objetivo e a mediação do papa pode servir para alcançá-lo, é bom tentar.
Raúl também disse que poderia voltar para a Igreja.
Eu espero que ele seja sincero: obviamente, a Igreja sempre tem os braços abertos para o filho pródigo. Ele e o irmão estudaram com os jesuítas, e não há dúvida de que isso teve um forte impacto na sua formação. Se eles decidissem voltar, é por fiéis como Raúl e Fidel que se festeja com o novilho gordo.
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''Bergoglio está se movendo como Wojtyla com Gorbachev.'' Entrevista com Michael Novak - Instituto Humanitas Unisinos - IHU