08 Mai 2015
"O povo (sobretudo os pobres), que conheceu e conviveu com Dom Celso Pereira de Almeida, tem uma verdadeira veneração por ele. Basta lembrar o clima de comoção que estava estampado no rosto de todos aqueles e aquelas que, com muito carinho e sincera gratidão, participaram das Celebrações de corpo presente em Goiânia e, de modo especial, em Porto Nacional", escreve Frei Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia (UFG), 06-05-2015.
Eis o artigo.
No dia 11 de maio (9 dias depois de Dom Tomás Balduino) faz um ano que outro irmão nosso muito querido, Dom Celso Pereira de Almeida (foto: Gleydsson Nunes/Arquivo Pessoal) “completou a sua Páscoa”, passando para “a vida além da morte” e mergulhando - para toda a eternidade - no mistério da Santíssima Trindade, que é o mistério do amor infinito de Deus para conosco.
À época, em maio de 2014, eu escrevia: “o nosso irmão Celso foi um homem autêntico, transparente, alegre, de extraordinária sensibilidade humana e radicalmente evangélico. Seu testemunho de humildade, simplicidade, proximidade e solidariedade para com os pobres renovou e fortaleceu a nossa esperança. Sua vida foi uma advertência aos poderosos e uma denúncia contra toda injustiça. Como profeta de Deus, Dom Celso tornou-se - quando necessário - defensor e advogado dos pobres, mesmo com risco de sua vida”.
Dizia também: “o nosso irmão Celso se relacionava com os pobres, não como objetos de assistência, ou mesmo de ação caritativa, mas como sujeitos e protagonistas de sua própria história. Ele frequentou a escola dos pobres, aprendeu e assimilou sua sabedoria, que é a sabedoria de Deus. Fez-se pobre com os pobres, como Jesus de Nazaré”.
Destacava, ainda, outras qualidades do nosso irmão Dom Celso. “Ele era uma pessoa sempre bem humorada. Interessava-se por tudo aquilo que os irmãos e as irmãs faziam. Elogiava e valorizava o seu trabalho, animando a todos e a todas. Ele se identificou com os últimos, que são os preferidos de Deus. Nunca se colocou numa posição de superioridade, nunca quis ser mais importante que os outros, sempre foi um irmão de caminhada, andando na frente, do lado ou atrás do seu povo, conforme a necessidade”.
E continuava afirmando: “o nosso irmão Celso não era um homem legalista, formal e preocupado com as exterioridades. Nos Encontros e nas Celebrações, ele sempre tinha um sincero e profundo respeito por tudo o que as Comunidades e seus Animadores preparavam. Quando tinha algo a sugerir, o fazia com amor e com carinho, sem humilhar ninguém. Ele encarnou e viveu a teologia da Igreja Povo de Deus e toda ministerial. Despojou-se de toda forma de autoritarismo clerical”.
A vida de Dom Celso “foi, toda ela, um testemunho evangélico de amor aos pobres. No seu ministério de padre e de bispo, ele foi um pastor irmão, amigo e companheiro de caminhada dos pobres, dos excluídos e de todos aqueles que não têm voz nem vez, que são os descartados da sociedade iníqua na qual vivemos”.
O povo (sobretudo os pobres), que conheceu e conviveu com Dom Celso, tem uma verdadeira veneração por ele. Basta lembrar o clima de comoção que estava estampado no rosto de todos aqueles e aquelas que, com muito carinho e sincera gratidão, participaram das Celebrações de corpo presente em Goiânia e, de modo especial, em Porto Nacional.
A Igreja, pela qual o nosso irmão Celso doou sua vida, é uma Igreja “em saída”, uma Igreja “com as portas abertas”, uma Igreja que sabe “olhar nos olhos e escutar”, uma Igreja que sabe “renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho”.
“Prefiro - diz o papa Francisco - uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada em ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos” (A Alegria do Evangelho - EG, 46 e 49). O nosso irmão Dom Celso viveu tudo isso em profundidade.
Fazer a memória de Dom Celso significa fazer a experiência de sua presença hoje. Dom Celso vive entre nós! Ele continua renovando e fortalecendo a nossa esperança e a nossa fé; o nosso compromisso com a Igreja pobre, para os pobres, com os pobres e dos pobres; e o nosso sonho (o mesmo de Jesus de Nazaré) de lutar pela sociedade do “bem-viver”, que - à luz da fé - é o Reino de Deus acontecendo na história do ser humano e do mundo. Irmão Celso, roga por nós!
Por fim, quero dizer com muita satisfação que, em nossa Comunidade religiosa, temos a alegria de morar e conviver com Frei Humberto, que é irmão de Dom Celso (alguns anos mais idoso que ele) e um homem de muita experiência e sabedoria de vida. Que Deus o conserve!
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Dom Celso: memória de um pastor irmão dos pobres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU