13 Abril 2015
Um massacre oculto. Uma hecatombe silenciosa que se consuma sob o sol do Qatar com 1.200 pessoas mortas na construção dos estádios para a Copa do Mundo de 2022.
A reportagem é de Massimiliano Castellani e Francesco Riccardi, publicada no jornal Avvenire, 11-04-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Essa é a denúncia dos sindicatos internacionais e italianos do setor da construção, que apontam o dedo contra as condições de substancial escravidão a que são forçados os trabalhadores imigrantes no emirado árabe.
Para ligar os holofotes sobre esse drama, eles escreveram uma carta ao governo italiano, além das lideranças italianas e internacionais do futebol, e se manifestarão nesta terça-feira em Roma, na Federação Italiana de Futebol (FIGC), e em Turim, durante a partida da Liga dos Campeões entre Juventus e Monaco.
A acusação dos sindicatos é especialmente contra o sistema da "kafala", o vínculo através do qual os empresários do Qatar vinculam às empresas os trabalhadores da Índia e do Nepal. Operários forçados a não poder deixar o empregador sem o seu consentimento, a não poder obter um visto de saída do país e não ter, praticamente, nenhuma margem de negociação das condições de trabalho, de horário e de salário.
"Nos emirado, estão empregados mais de um milhão de operários, obrigados a trabalhar até por 16 horas com temperaturas de 50 graus à sombra", denunciam os secretários da Feneal, Filca e Fillea, respectivamente, Vito Panzarella, Domenico Pesenti e Walter Schiavella. "Mais da metade dessas mortes se devem a infarto pelas duras condições de trabalho e ambientais, mas, se nada for feito até 2022, as mortes poderiam superar as quatro mil. Um rio de sangue inocente que corre o risco de transformar uma festa do esporte em um dos maiores massacres de pessoas inocentes."
O governo do Qatar sempre rejeitou as acusações e contesta os números sobre os mortos. Em dois anos, no entanto, foram notificadas 900 mortes às embaixadas da Índia, Nepal e Bangladesh, metade das quais classificadas como "repentinas", de "natureza desconhecida" ou por "parada cardíaca", e as federações sindicais mundiais (BWI) e europeia (FETBB) da construção suspeitam que, por trás desses números, escondam-se mortes por exaustão de trabalhadores explorados.
"Todo grande evento esportivo envolve, infelizmente, um 'sacrifício' humano. Certamento, daqui aos próximos sete anos, se os números de hoje são esses (1.200 mortes), surge o terror de que se possa acrescentar um zero a mais, e nesse ponto estaríamos diante de uma catástrofe epocal", comenta o porta-voz da Anistia Internacional Itália, Riccardo Noury.
"Nós, da Anistia, fomos os primeiros a denunciar esse massacre, as condições desumanas, ambientais e organizativas em que trabalham essas massas de migrantes, que muitas vezes se tornam ilegais desprovidos da menor assistência por parte dos seus consulados com sede em Doha. A nossa delegação pediu que o governo do Qatar reveja as normas vigentes em matéria de direito do trabalho. Resultado? Eles encarregaram um escritório legal que produziu às pressas um trabalho de meras recomendações, porém leves e ainda não implementadas". A Anistia registra apenas uma certa sensibilidade demonstrada pelo governo mundial do futebol, a Fifa.
"Mas agora – conclui Noury – precisamos entender qual é o grau de corresponsabilidade entre o Qatar e a Fifa, que se deixou encantar pela cortina de fumaça de um país moderno e de instalações de vanguarda, mas que, entretanto, continua não respeitando os direitos humanos. E será ainda mais interessante investigar, a respeito disso, as responsabilidades dos governos da Índia e do Nepal, que registram o maior número de vítimas entre os trabalhadores das obras da Copa do Mundo, sem que haja notícias de manifestações significativas."
Foto: Avvenire.it
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Qatar, a Copa dos massacres: 1.200 trabalhadores mortos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU