Por: Jonas | 09 Março 2015
“Um estado não pode pensar em lucrar com a medicina. Ao contrário, não há dever mais importante para uma sociedade que o de cuidar da pessoa humana”. Foi o que disse o Papa Francisco durante seu discurso na Pontifícia Academia para a Vida, reunida de hoje até sábado em sua XX Assembleia geral. Este ano, o encontro tem como tema “A assistência aos idosos e os cuidados paliativos”. Jorge Mario Bergoglio exortou este organismo a cuidar daqueles que “podem deixar morrer ou fazer com que morram”, e definiu o abandono como “a enfermidade mais grave do idoso e também a maior injustiça que possa padecer: aqueles que nos ajudaram a crescer não devem ser abandonados quando necessitam de nossa ajuda, nosso amor, nossa ternura”.
Fonte: http://goo.gl/Uny9Az |
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Religión Digital, 05-03-2015. A tradução é do Cepat.
“Os cuidados paliativos – explicou o Papa – expressam a atitude humana de cuidar uns dos outros, especialmente dos que sofrem e atestam que a pessoa é sempre preciosa, também quando é idosa ou está enferma. A pessoa, em qualquer circunstância , é um bem para si mesma e para os demais e Deus a ama. Por isso, quando sua vida se torna muito frágil e se aproxima o final da existência terrena, sentimos a responsabilidade de assisti-la e acompanhá-la da melhor maneira. O mandamento bíblico que nos pede que honremos a nossos pais, em sentido lato, recorda-nos a honra que devemos a todas as pessoas idosas. A este mandamento Deus associa uma dupla promessa: “Para que seus dias se alonguem na terra que o Senhor seu Deus te dará”. A fidelidade a este mandamento garante não apenas o dom da terra, como também, sobretudo, a possibilidade de desfrutá-la”.
E o Papa recordou que, “ao contrário, a Bíblia reserva uma severa admoestação aos que abandonam ou maltratam os pais”, no Êxodo e no Levítico, “e o mesmo julgamento vale quando os pais, que se tornaram idosos e menos úteis, permanecem marginalizados até o abandono. Temos exemplos. A Palavra de Deus sempre está viva e vemos bem que o mandamento é de inquietante atualidade para a sociedade contemporânea, na qual a lógica da utilidade se impõe sobre a da solidariedade e a da gratuidade, inclusive dentro das famílias. Escutemos, pois, com coração dócil, a Palavra de Deus que nos vem dos mandamentos, os mesmos que, recordemos sempre, não são vínculos que aprisionam, mas, sim, palavras de Vida”.
“Hoje honrar poderia se traduzir também como o dever de respeitar profundamente e cuidar dos que, por sua condição física ou social, podem se deixar morrer ou fazer com que morram – explicou o Papa Francisco. Toda a medicina tem um papel especial na sociedade como testemunho da honra que se deve à pessoa anciã e a cada ser humano. A evidência e a eficiência não podem ser os únicos critérios que governam a ação dos médicos, nem tampouco as regras dos sistemas de saúde, nem o benefício econômico. Um estado não pode pensar em obter lucro com a medicina”.
O Bispo de Roma, além disso, recordou que a assembleia da Academia para a Vida estudou novos setores de aplicação dos cuidados paliativos que, se até agora estavam destinadas especialmente aos pacientes oncológicos, na atualidade interessam também às pessoas, sobretudo idosos, com patologias caracterizadas por uma degeneração crônica progressiva. “Os idosos necessitam, em primeiro lugar, dos cuidados dos familiares, cujo afeto não pode ser substituído nem sequer pelas estruturas mais eficientes ou os agentes de saúde mais competentes e caritativos”, reiterou. Os cuidados paliativos são, pois, “uma ajuda importante, especialmente para os idosos, que com o pretexto de sua idade, recebem cada vez menos atenção por parte da medicina curativa e muitas vezes são abandonados. O abandono é a enfermidade mais grave do idoso e também a maior injustiça que possa padecer: os que nos ajudaram a crescer não devem ser abandonados quando necessitam de nossa ajuda, nosso amor, nossa ternura”.
Francisco finalizou seu discurso animando os profissionais e os estudantes de medicina a se especializarem neste tipo de assistência que não possui menos valor pelo fato de que “não salva a vida”. Os cuidados paliativos fazem algo igualmente importante: valorizam a pessoa. Por isso, exortou “a todos os que, de diversas formas, trabalham neste setor a manter este compromisso conservando íntegro o espírito de serviço e recordando que qualquer conhecimento médico é realmente ciência, em seu significado mais nobre, apenas se é considerado como uma ajuda para o bem do ser humano, um bem que não se alcança nunca “contra” a sua vida e sua dignidade”.
No início da audiência, o Papa agradeceu ao presidente da Pontifícia Academia para a vida, o bispo Ignacio Carrasco de Paula, espanhol do Opus Dei, e ao cardeal Elio Sgreccia, presidente emérito, a quem Bergoglio definiu como “pioneiro” na matéria. “O idoso – disse dom Carrasco de Paula aos microfones da Rádio Vaticano – não deve ser considerado uma opção nas sociedades, mas, sim, um sujeito até o final”.
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“Um estado não pode pensar em lucrar com a medicina”, afirma Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU