Por: André | 02 Março 2015
Quando Barack Obama e Raúl Castro anunciaram o início da normalização nas relações entre os seus países, ambos exaltaram a mediação da Igreja. “Para mim, a grande questão é como o Papa foi capaz de impactar o Obama”, revela sobre o processo o cardeal Jaime Ortega. Neste trabalho calado, que propiciou a libertação dos presos retidos por um e outro país, o arcebispo de Havana foi protagonista. Nesta entrevista realizada em Roma durante o último consistório, Ortega detalha para a revista Vida Nueva os passos que levaram ao fim do embargo e revela a conversa mantida entre Barack Obama e Francisco sobre Cuba.
Fonte: http://bit.ly/18doaPl |
A reportagem é de Darío Menor e publicada na revista espanhola Vida Nueva, 27-02-2015. A tradução é de André Langer.
“O Papa – narra o cardeal Ortega – falou sobre o embargo com Obama, e este comentou-lhe que se tratava de uma medida totalmente obsoleta, tomada antes que ele nascesse. O Santo Padre lhe perguntou se não podia acabar com o embargo. “Tenho obstáculos, esses prisioneiros”, respondeu Obama. O Papa lhe perguntou, então, se não podia libertá-los e depois haveria correspondência e seria possível resolver a questão. Obama respondeu-lhe que a Justiça norte-americana era muito difícil e que não podia fazer isso”.
“Então – prossegue –, o Papa lhe disse uma frase de grande importância: ‘Olhe, isto não é só bom para o povo de Cuba, que sofreu muito, mas para o seu Governo e para a sua pessoa, para a política do seu país para com a América Latina. A América Latina está unida e é contra o bloqueio. A política do seu país passa pela América Latina. Caso não houver uma solução, vocês continuarão muito distantes da América Latina’. Isso fez o Obama pensar muito, e a partir desse momento começou a se desenrolar todo esse processo”.
A conversa foi contada pelo próprio Francisco a Ortega no Vaticano. O que aconteceu, vem em apoio à postura adotada desde sempre pela Igreja em Cuba: “Sabem que a nossa atitude sempre foi a de favorecer um diálogo com o Estado cubano, a de encontrar caminhos para melhorar a situação do nosso povo. É uma constante de todos estes anos nos quais a Igreja sofreu, às vezes, ataques”.
Perguntado sobre se as pessoas comuns já estão notando alguma mudança, o cardeal é muito claro ao negá-lo: “É ainda muito cedo, não se pode notar nada além da grande alegria. Notou-se, isso sim, por exemplo, no desfile de secretários de Estado ou ministros de diferentes países. Houve visitas de senadores americanos dos dois partidos, buscando possíveis investimentos. Essas notícias aparecem na mídia e as pessoas se dão conta de que estão vivendo um momento histórico após 60 anos. Não obstante, as pessoas mais simples querem pensar que haverá produtos mais baratos nas lojas. O que não está acontecendo”. E aventura que as relações entre ambos os países demorarão “vários meses” para serem restabelecidas.
Moratinos: “A Igreja teve um papel crucial”
Também falou com Vida Nueva o ex-ministro espanhol Miguel Ángel Moratinos. De sua etapa como mediador, destaca a libertação de vários presos das prisões cubanas.
Sobre o papel da Igreja nas negociações para desbloquear as relações entre os dois países, qualifica-o como “crucial”.
E acrescenta: “Creio que Francisco é um homem próximo, assim como também o foi João Paulo II. É um homem do seu tempo e um humanista que conhece a sociedade de baixo para cima, ao mesmo tempo que vai impulsionar uma Igreja mais evangélica. Também é um homem preocupado com os problemas das pessoas e com os desafios globais”.
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Cuba-Estados Unidos: história de um desbloqueio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU