10 Fevereiro 2015
Dom Oscar Romero será, provavelmente, beatificado dentro de cinco meses e canonizado em 2017, segundo um ativista próximo da causa de santidade do prelado martirizado.
A reporatgem é de Abigail Frymann Rouch, publicada pela revista The Tablet, 05-02-2015 A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Julian Filochowski, presidente da organização inglesa “Archbishop Romero Trust”, disse achar provável que o Papa Francisco, conhecido como um apoiador da causa, aprove a canonização de Romero sem a exigência de milagres – normalmente necessários como prova de santidade.
Dom Vincenzo Paglia, postulador da causa de santidade do arcebispo, disse a jornalistas numa coletiva de imprensa na quarta-feira (04-02) que as duas décadas que se levou para obter o decreto foram o resultado de “mal-entendidos e preconceitos”.
Ele estava falando um dia depois que Francisco formalmente reconheceu que o arcebispo salvadorenho foi morto “por ódio à fé” e não por motivos puramente políticos.
Durante o tempo em que Dom Romero foi arcebispo de San Salvador – de 1977 a 1980 –, “quilos de cartas contra ele chegaram a Roma. As acusações eram simples: Ele é político; é um seguidor da Teologia da Libertação”.
A estas acusações de que ele apoiava a Teologia da Libertação, segundo Paglia, Dom Romero respondia: Sim, com certeza. Mas existem duas teologias da libertação: uma enxerga a libertação apenas como libertação material; a outra é aquela de Paulo VI. Eu estou com Paulo VI”, buscando a libertação material e espiritual de todas as pessoas, incluindo a libertação dos pecados da injustiça e opressão.
Todas estas queixas, disse Dom Vincenzo Paglia, atrasaram o processo de beatificação e “fortaleceram os seus inimigos” que, acrescentou, incluía o falecido cardeal colombiano Alfonso Lopez Trujillo. Este acreditava que o arcebispo salvadorenho tendia em direção ao marxismo e achava que a sua canonização seria interpretada como a canonização da forma materialista, política da Teologia da Libertação criticada pela Igreja.
“Esta montanha de papéis pesou, infelizmente, contra a causa”, disse o arcebispo. Mas a Congregação para a Doutrina da Fé – CDF examinou todas as suas homilias e escritos e as esclareceu.
Os promotores da causa, disse, coletaram “uma montanha de testemunhos tão grande quanto [as críticas]” para combater as acusações e provar que Dom Romero viveu, heroicamente, a fé cristã e foi morto por ódio de suas palavras e ações na qualidade de pastor católico.
No fim, falou Dom Vincenzo Paglia, tanto um painel de teólogos que trabalharam para a Congregação para as Causas dos Santos quanto os cardeais membros desta Congregação aprovaram, por unanimidade, recomendar que o Papa Francisco reconhecesse Dom Oscar Romero como mártir.
“Ele foi morto no altar”, disse Dom Vincenzo Paglia, e não em casa ou na rua, quando ele seria um alvo fácil. “Através dele, quiseram atacar a Igreja que decorre do Concílio Vaticano II”.
Atirar nele em 24 de março de 1980, enquanto celebrava uma missa na capela de um hospital em San Salvador, “não foi feito por motivos simplesmente políticos”, disse Dom Vincenzo Paglia, “mas por ódio a uma fé que, imbuída de caridade, não se silenciou diante das injustiças que abatiam, incansável e cruelmente, os pobres e seus defensores”.
O Mons. Jesus Delgado Acevedo, secretário e assessor de Dom Romero, disse: “Hoje é um dia de grande celebração em El Salvador. O reconhecimento do sacrifício de Dom Oscar Romero representa, para nós salvadorenhos, um outro apelo à unidade e à paz. Tenho certeza de que a beatificação que está por vir irá pôr em movimento a realização do grande milagre de um encontro fraternal de todos os salvadorenhos, superando qualquer divisão política, social e econômica”.
Roberto Morozzo della Rocca, historiador italiano que escreveu uma biografia de Romero e ajudou Dom Vincenzo Paglia com a causa, disse, depois de anos de pesquisa, que não pôde encontrar prova alguma de que o arcebispo teria dito uma famosa frase atribuída a ele por um jornalista guatemalteco: “Se me matarem, eu ressuscitarei no meu povo salvadorenho. Que meu sangue seja semente da liberdade, que minha morte seja para a libertação de meu povo”.
Dom Vincenzo Paglia disse que, em dezembro de 2012, durante a sua primeira e única audiência privada com o Papa Bento, este último o informou que havia decidido “desbloquear” a causa e permitir que fosse adiante.
“O martírio de Dom Romero deu significado e força a muitas famílias salvadorenhas que perderam parentes e amigos durante a guerra civil”, segundo Paglia, e a Igreja em El Salvador está começando a coletar informações e testemunhos sobre a fé destas pessoas com a ideia de propor mais causas de santos.
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Dom Oscar Romero “foi morto porque incorporou a Igreja do Vaticano II" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU