06 Fevereiro 2015
Autora de um best-seller e consultora empresarial, Rachel Botsman explica por que a economia da partilha deverá ter um crescimento enorme nos próximos anos.
A entrevista foi publicada por Access, 01-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O que está por vir aos prestadores de serviços como Ubers, Lyfts e Airbnbs [1], que hoje sacodem o ambiente competitivo? Segundo Rachel Botsman, a economia da partilha chegou para ficar – e promete trazer mudanças ainda mais profundas nos próximos anos.
Há uma década, a ideia de se alugar um quarto não usado em casa ou de usar um smartphone para marcar caronas a partir de um serviço não licenciado de carros estava longe no horizonte. Hoje, serviços como Airbnb e Uber são comuns ao redor do mundo. Rachel Botsman, coautora do best-seller empresarial “What’s Mine is Yours: How Collaborative Consumption Is Changing the Way We Live” [O que é meu é seu: Como o consumo colaborativo está mudando a forma como vivemos], diz que estes tipos de negócio – que envolvem partilha, comércio e aluguel – são apenas o início de uma revolução econômica muito maior e de um alcance muito mais extenso.
Eis a entrevista.
Pode descrever brevemente as ideias centrais do consumo colaborativo?
O consumo colaborativo tem a ver com pegar um ativo não utilizado – uma habilidade, um carro, uma casa – e colocá-lo dentro de um espaço de mercado colaborativo para permitir uma maior eficiência, um empoderamento e um maior acesso a ele. Então, as pessoas com carros e casas que não os usam criam mercados onde estes ativos podem ser partilhados, alugados ou vendidos sob novas formas.
Há indústrias que parecem particularmente maduras para entrar neste mercado?
Os serviços de assistência médica, de seguros em geral e financeiros são três exemplos. Todos eles têm sistemas complicados e, muitas vezes, ineficientes. Por exemplo, pesquisas mostram que o uso de equipamentos hospitalares está muito abaixo do que poderia ser. Esta carência de produtividade custa 14 bilhões de dólares ao ano [nos EUA]. Portanto, estamos vendo o surgimento de plataformas como a Cohealo que fornece aos hospitais acesso partilhado a alguns equipamentos.
As cidades de Nova York e Boston tomaram medidas para regular os serviços de partilha envolvendo carros e quartos. Isso ameaça o crescimento do consumo colaborativo?
Acho que uma regulamentação aconteceu porque empresas como a Airbnb e a Lyft se tornaram realmente muito grandes, e muito rapidamente. Penso que elas acolheram bem a regulamentação governamental, pois isto legitima o que estão fazendo.
Onde você vê um crescimento de investimentos na economia colaborativa?
O crescimento não estará somente nas empresas que tornarem os seus ativos partilháveis. Ele também estará nas empresas que fornecem mecanismos que tornam mais fácil o câmbio de serviços. A empresa Stripe, que oferece um sistema de pagamento, é um exemplo. Trulioo, um sistema de identificação de identidade, é outro.
Existem setores onde modelos colaborativos não funcionam?
Mercados colaborativos não funcionam bem em setores em que não há um incentivo suficiente em torno de um ativo para se mudar a forma como é usado. Uma outra área desafiadora é a das indústrias altamente reguladas tais como as de gás e eletricidade. Mas estas são onde também podemos encontrar as maiores oportunidades. Por exemplo, se pudéssemos combinar diretamente os prestadores de energia solar e eólica com os consumidores, teríamos um mercado muito interessante.
Como estará a economia colaborativa nos próximos 5 ou 10 anos?
Sequer iremos pensar sobre ela como algo separado. Será simplesmente parte de nossa vida diária. Veremos também que, para um monte de marcas grandes e tradicionais, esta nova economia vai se tornar a maneira como pensamos sobre a criação de valor, implementação de ativos e interação com as pessoas; existirão muitas outras empresas bilionárias neste espaço e que irão ajudar as pessoas a se darem conta de que esta ideia – de economia colaborativa – vai descontruir a forma como muitas destas indústrias operam.
Esta aceitação de produtos e serviços partilhados tem um elemento geracional?
O consumo colaborativo é mais intuitivo entre os nativos digitais porque eles cresceram em torno da partilha e têm um conceito muito diferente a respeito de propriedade. Mas não se trata de algo geracional. Quando observamos os mercados colaborativos, vemos que os prestadores de serviços e os consumidores têm, em geral, mais de 45 anos – e não menos que 25. Uma vez que se envolvem de fato, os membros das gerações mais velhas tendem a ser usuários mais ativos. Frequentemente ouço que, tão logo as pessoas confiam no funcionamento do Airbnb [serviço de aluguéis], elas em seguida testam o Lyft [serviço de carona]. Então, há uma transferência de confiança em mercados verticais.
Nota:
[1] “Uber, Lyft Airbnb” são serviços realizados via internet onde as pessoas podem anunciar, descobrir e reservar acomodações ou marcar caronas para viagens longas.
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Consumo colaborativo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU