30 Janeiro 2015
Em Auschwitz havia música. E Helena Dunicz Niwinska a tocava, tocava com o violino as melodias de Brahms, Puccini e Schuman, enquanto fantasmas de homens e mulheres, entre os quais as mães, eram enviados à câmera de gás. Helena era uma das moças da banda do campo, como o conta na auto-biografia publicada por enquanto somente pela casa editora do museu de Auschwitz e continua a contá-lo a quem em Cracóvia queira escutar esta moça de quase cem anos (que completará aos vinte e oito de junho) que, entre os filhos espinhados carregados de sangue perdeu tudo além da vontade de recordar.
A nota é de Francesca Paci, publicada por La Stampa, 28-01-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Sua história é inédita, como os milhares guardados no arquivo do Lager que a associação turinense Terra do Fogo e o Trem da Memória gostariam de levar ao Salão do Livro de 2015. “Por que escrevi agora, na minha alta idade? perguntava-se Helena do leito do hospital onde se recuperou de uma queda. “Porque, depois de ter perdido tudo, - diz – queria viver no presente”. Hoje é como ontem, eterno presente, quando, esperando aliviar sua sorte e a da mãe, entra na orquestra de Auschwitz coordenada por Alma Rose, neta de Gustav Mahler. As coisas não andarão como esperava: “Mamãe tinha 50 anos quando nos separaram e não a vi mais, soube de sua morte depois e, ao invés de rezar lhe disse com o coração que era feliz porque tinha deixado o inferno”. Helena, no entanto, internada com o número 64118, tocava para sobreviver. Levaram-na embora aos 18 de janeiro de 1945, “enquanto os russos estavam chegando”. Ela é uma das sobreviventes da longa marcha da morte para Bergen Belsen, viu a liberdade aos 2 de maio de 1945 em Ravensbruck, mas não tinha mais ninguém no mundo.
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"Estava na orquestra e me salvei tocando o violino" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU