29 Janeiro 2015
"Números que refletem o trabalho de gerações de estudiosos nos mais diversos locais do planeta. Os cálculos compartilhados e verificados atestam sobre um mínimo de um milhão e cem mil sem excluir a possibilidade de se chegar a um máximo de um milhão e meio de vítimas no sistema coordenado pelo campo de concentração de Auschwitz, um número que corresponde a ¼ dos judeus mortos pelos nazistas durante os anos da segunda guerra mundial", escreve Umberto Gentiloni, professor de História, na Sapienza – Universidade de Roma, em artigo publicado pelo jornal La Stampa, 27-01-2015. A tradução é de Ivan Pedro Lazzarotto.
Eis o artigo.
Há 70 anos atrás o dia 27 de janeiro foi num sábado. No final da tarde as tropas soviéticas atravessam os portões de Auschwitz. São os postos avançados do 60° exército de primeira frente ucraniano que chegam por primeiro. O impacto é perturbador: pilhas de cadáveres semicobertos pela neve e pela lama. Os prisioneiros são convidados a entrar novamente na caserna.
A chegada dos soviéticos
“Estávamos em silêncio, mudos e imóveis”, lembra Piero Terracina, que estava no campo de concentração desde maio de 1944. “Ainda está claro na minha cabeça o encontro com um soldado russo. Estava sozinho, em um pequeno beco, coberto por um grande casaco claro. Acenou-me e sorriu. Mas ninguém tinha vontade de se alegrar ou festejar. Estávamos exaustos, tínhamos perdido tudo e todos. Lembro o olhar do soldado e quando chegaram os seus companheiros alguns choravam vendo onde o destino os havia conduzido. Voltaram a caserna e falaram que os russos haviam chego e os nazistas tinham ido embora. Os meus companheiros do cárcere me olhavam em silêncio, incrédulos”. Uma libertação sofrida. Aproximadamente sete mil prisioneiros ainda estavam vivos, deixados no perímetro dos campos principais (Auschwitz I, Birkenau, Monowitz) em condições precárias, muitos deles não conseguiam caminhar e os mais fracos não tinham noção do que estavam vivendo.
Roupas, dentes, cabelos
Os libertadores não precisaram muito para compreender o que havia acontecido naquele grande local. Encontraram mais de 370 mil roupas de homem, 837 mil vestes femininas, enormes quantidades de roupas infantis, tapetes (mais que 14 mil), próteses, escovas de dentes, pilhas de óculos, quase 45 mil pares de sapatos e quase 8 toneladas de cabelos embalados e prontos para o transporte. Os últimos indícios do que havia acontecido naquele local. Números divergentes oscilaram por muito tempo entre um mínimo de meio milhão e um máximo de seis milhões de vitimas somente no campo de concentração de Auschwitz. Hoje sabemos, podemos explicar e documentar os aspectos consolidados de um pensamento sobre os efeitos da solução final.
Estimativas cada vez mais precisas
Números que refletem o trabalho de gerações de estudiosos nos mais diversos locais do planeta. Os cálculos compartilhados e verificados atestam sobre um mínimo de um milhão e cem mil sem excluir a possibilidade de se chegar a um máximo de um milhão e meio de vítimas no sistema coordenado pelo campo de concentração de Auschwitz, um número que corresponde a ¼ dos judeus mortos pelos nazistas durante os anos da segunda guerra mundial. E também sobre o total, o cálculo está consolidado em uma variável de oscilação entre cinco e seis milhões, entre 5 milhões e 300 mil como valor mínimo e 6 milhões e 100 mil como limite máximo.
As somas não são apenas um numero que indica uma estimativa, um ponto de referencia. São também a medida da dor, da falta de vida e história, da responsabilidade de ter cancelado uma parte da Europa, quebrado laços familiares, relações sociais, mundos culturalmente relevantes.
Oito mil judeus italianos
Deixamos que os números falem. 90% dos assassinados em Auschwitz eram judeus: 960 mil, uma grande cidade italiana. Da Hungria era o núcleo mais volumoso, 438 mil; 300 mil da Polônia, pouco menos de 70 mil da França, aproximadamente 60 mil dos Países Baixos, 55 mil da Grécia, 46 mil da Boêmia e Morávia, 27 mil da Eslováquia, 25 mil da Bélgica, 10 mil da Croácia, 8 mil da b (considerada a ilha de Rodes), 6 mil da Bielorrússia, 1,6 mil da Áustria, 700 da Noruega, 23 mil das antigas províncias de Reich.
Em menos de uma década entre 1983 e o início dos anos 90 do século passado os cálculos começaram a coincidir, as fontes permitiram que se consolidasse a hipótese de partida e de que se corrigisse a comunicação e as notícias que circularam ao término da guerra. A pedra do monumento em memória sobre o solo de Auschwitz manteve a cifra dos 4 milhões proposta por uma comissão no final do conflito. No último escorço do século XIX foi modificado para acolher o resultado da pesquisa histórica.
Provas contra os negadores
Esse também é um caminho precioso e difícil: oferecer ao mundo a dimensão do massacre, as provas também para os que tentavam minimizar ou negar as evidências. Como escreveu em 2004 uma historiadora alemã como Sybille Steinbacher (“Auschwitz. A cidade, o campo”) “a discussão sobre os números não implica minimante em relativizar os crimes cometidos, e confirma em todo caso a importância central que o complexo de Auschwitz-Birkenau teve na política nacional socialista de extermínio”.
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O mal absoluto foi mensurado dessa forma pelos historiadores - Instituto Humanitas Unisinos - IHU