27 Janeiro 2015
Um transgênero espanhol teve uma audiência privada com o Papa Francisco no Vaticano no último sábado, 24 de janeiro.
O jornal Hoy, da região de Extremadura, Espanha, informou que Diego Neria Lejárraga e sua parceira tiveram uma audiência privada com o pontífice ocorrida na residência papal oficial.
Numa carta, Neria disse a Francisco que seus companheiros paroquianos na comunidade em que participa na cidade espanhola de Plasencia o rejeitaram depois que ele se submeteu a uma cirurgia de redesignação sexual. Falou que um padre até mesmo o chamou de “a filha do demônio”.
Francisco chamou Neria na Véspera de Natal após receber a sua carta.
A reportagem é publicada por Washington Blade, 25-01-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A audiência privada aconteceu um mês depois.
“Depois de ouvi-lo em muitas ocasiões, senti que ele me escutaria”, disse Neria ao Hoy numa entrevista que o jornal publicou no sábado.
O encontro se realizou no contexto daquilo que muitos católicos LGBTs descrevem como o tom mais moderado do Vaticano a respeito dos direitos matrimoniais para casais homoafetivos e outras questões desde que Francisco se tornou papa há quase dois anos.
Em julho de 2013, Francisco – ex-arcebispo de Buenos Aires – disse a jornalistas que lhe perguntaram sobre a suposta homossexualidade de um homem nomeado para supervisionar o Banco Vaticano que gays e lésbicas não deveriam ser julgados nem marginalizados. Uma revista jesuíta italiana publicou, meses depois, uma entrevista com o pontífice argentino durante a qual ele disse que a Igreja “se tornou obcecada” em pregar contra o casamento homoafetivo, o aborto e o uso de métodos contraceptivos artificiais.
No último mês de novembro, Francisco removeu um cardeal americano de suas funções. Ele era um destacado crítico do aborto e dos direitos matrimoniais para pessoas do mesmo sexo.
Defensores dos direitos da comunidade LGBT criticaram o pontífice no começo deste mês com base em comentários que ele fez durante a viagem às Filipinas e que pareceram sugerir que o casamento homoafetivo ameaça a família.
Em 2010, Francisco descreveu a proposta de lei que regulamentava o casamento gay na Argentina como “trabalho do demônio” antes de a presidente Cristina Fernández de Kirchner sancioná-la em lei. Os bispos católicos que participaram de um encontro sobre a família no Vaticano no mês de outubro divulgaram um documento que dizia que as uniões homoafetivas não são “remotamente análogas” ao “plano de Deus para o casamento e a família”.
A audiência papal: uma boa notícia
No domingo, José María Núñez Blanco, presidente da Fundación Triángulo, grupo defesa espanhol, criticou em nota as posturas do Vaticano quanto a questões específicas da comunidade LGBT, ainda que descrevendo o encontro de Francisco com Neria como uma “boa notícia”.
“É absolutamente absurdo que um fiel seja proibido de viver suas crenças religiosas”, disse Núñez.
“Alguns proclamam uma religião do amor, mas se dedicam a difundir o ódio. Esperamos que a Igreja Católica cesse de ser uma máquina de ódio e sofrimento para o bem de fiéis e de não fiéis”.
No domingo, Marianne Duddy-Burke, diretora executiva da Dignity USA, grupo para católicos LGBTs, escreveu ao jornal Washington Blade que muitas autoridades católicas de alto escalão na Europa “falavam de maneira muito severa” contra transgêneros.
No entanto, Duddy-Burke descreveu o encontro de Francisco com Neria como “um evento muito significativo”.
“O fato de o papa se encontrar com um transgêneros prestes a se casar, e o fato de este encontro fazer com que esta pessoa se sinta mais esperançosa sobre o seu lugar na Igreja, mostra uma preocupação pelas pessoas que estão nas margens da instituição”, disse Duddy-Burke ao Blade.
“Espero que o papa tenha ouvido atentamente a experiência deste homem e que fale sobre o que ouviu”.
Lisbeth Meléndez Rivera, diretora da campanha pelos direitos humanos da “Latino and Catholic Initiatives”, descreveu o encontro como um “evento extraordinário”.
“Sabemos que a Igreja é capaz deste tipo de acompanhamento pastoral e inclusão dos marginalizados”, disse ela.
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Transgênero tem audiência privada com Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU