14 Janeiro 2015
"A Concilium tenta ser um radar, que prolonga a grande tradição teológica na mutação contemporânea. A teologia sempre está em busca. Isso é importante no momento em que somos agredidos por tantos problemas novos."
A reportagem é de Filippo Rizzi, publicada no jornal Avvenire, 13-01-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Essas palavras de sabor quase profético, mas também programático, de um dos nobres pais da Nouvelle théologie, o dominicano francês Yves-Marie Congar, retratam ainda hoje a atualidade da revista internacional de teologia Concilium, que, nesta quinta-feira, atravessará o 50º ano de vida.
De fato, foi no dia 15 de janeiro de 1965 (poucos meses antes do encerramento do Vaticano II, que ocorreu no dia 8 de dezembro daquele ano), que, depois de um longo trabalho redacional, apareceu o primeiro número – entregue, para a ocasião, a todos os padres conciliares – da publicação, que representaria uma bússola de orientação para a teologia pós-conciliar e não só.
Entre os colaboradores daquela estreia, também figurava o teólogo Joseph Ratzinger e futuro Papa Papa Bento XVI, autor do artigo "As implicações pastorais da doutrina da colegialidade dos bispos".
No entanto, no decorrer da sua longa vida, a Concilium sempre foi percebida dentro do complexo arquipélago da teológica católica como "de ruptura" em relação à publicação mais tradicional Communio, nascida em 1972. Para alguns, era até mesmo uma contrapartida em relação ao periódico conservador Renovatio, desejado pelo cardeal Giuseppe Siri, enquanto que, para outros, era a fiel herdeira dos ensinamentos do Vaticano II (como enunciava, aliás, o programático editorial de 1965, "Uma nova revista de teologia. Por que e para quem?", de Karl Rahner e Edward Schillebeeckx).
O marco de meio século é lido agora com grande esperança e gratidão pelo "nobre pai" da edição italiana, o teólogo Rosino Gibellini: "Os primeiros teólogos a se agregarem foram precisamente o dominicano Schillebeeckx, de Nijmegen, e o jesuíta Rahner, de Innsbruck – revela o estudioso piamartino – e dois jovens teólogos de língua alemã: Hans Küng, de Tübingen, e Johann Baptist Metz, de Münster. São esses os fundadores da Concilium, aos quais devem ser somados o editor, Paul Brand, e o administrador presidente, Anton von den Boogaard".
O padre Gibellini, no seu articulado raciocínio, evoca a importância dessa revista ("de cuja redação participam hoje um número igual de colaboradores e colaboradoras"), que sempre buscou dialogar com os distantes, "ler os sinais dos tempos", abordar questões prementes como a ecologia, o ecumenismo, o papel das mulheres dentro do catolicismo, o Terceiro Mundo e dar amplo espaço a tudo o que vem da teologia extraeuropeia.
Um olhar para a Ásia e para as Igrejas jovens confirmado pela escolha de transferir a sede central da Concilium de Nijmegen, na Holanda, para Madras, na Índia. "O próprio fato de que a revista tenha escolhido como sede de referência um país em desenvolvimento é uma clara mensagem da viagem realizada através das fronteiras e dos laços", explica, de Madras, o teólogo indiano e presidente da Fundação Concilium, Felix Wilfred. "Tratou-se de uma escolha estratégica, também à luz do fato de que o eixo da cristandade se deslocou para o Sul, onde ela é viva, mesmo em meio a tantas dificuldades, enquanto vemos uma situação completamente diferente na Europa e na América do Norte, onde as Igrejas estão se esvaziando."
E acrescenta um detalhe: "A revista quer permanecer fiel ao seu grande passado e aos pais fundadores, mas, ao mesmo tempo, deseja manter aberto um espaço de diálogo no campo do pluralismo religioso como sua instância principal, também através de uma visão teológica que vá além da sua chamada matriz de origem 'euroamericana'. Por isso, para nós, tornou-se de fundamental importância dar mais voz ao novo cristianismo presente na África, Ásia e Oceania. Uma estratégia editorial que nos parece alinhada com a marca pastoral do Papa Francisco e da sua visão sobre o mundo. Tudo isso se apresenta para nós como um desafio para construir uma nova identidade em resposta também aos novos tempos".
Uma revista teológica de vanguarda em que sempre foi vivo o debate, o confronto entre os saberes, mas que, talvez, tornou-se – por sua própria admissão e também pela força capilar do seu grupo de especialistas – "um movimento na Igreja?" (como se interrogava, em um famoso editorial de 1992, o teólogo dominicano Jean Pierre Jossua). "Certamente – destaca Elio Guerriero, diretor por muitos anos da edição italiana da Communio –, ela foi uma publicação que nos ajudou a entender a fermentação que estava por trás do Vaticano II. Ela nos ofereceu muitos instrumentos para entender o valor daquela cúpula ecumênica. Ajudou, por exemplo, muitos estudiosos a entenderem o valor da teologia negra ou os sinais de fecundidade que vinham da teologia estudada e interpretada pelas mulheres. Justamente por causa da sua diversidade da Communio, em um contexto de pluralismo, ela representou uma voz diferente dentro da Igreja; complementar, mas não rival, para celebrar com notas diferentes aquela 'verdade sinfônica' tão amada pelo teólogo suíço Hans Urs von Balthasar."
Guerriero retorna com a mente também para o nascimento da Communio, para o círculo de teólogos (muitos dos quais provinham da experiência da Concilium), como Joseph Ratzinger e Henri de Lubac, aos quais se somaram Hans Urs von Balthasar e Louis Bouyer, e para os motivos que levaram à gênese daquela publicação no distante 1972: "Sempre me chamaram a atenção as palavras que, nestes últimos anos, Joseph Ratzinger nos dirigiu, isto é, as exortações a se ter a 'coragem de seguir em frente' e de falar com clareza e sem fingimentos, pensando apenas no futuro e no bem da Igreja. E é a mesma coragem que eu sinto na Concilium, indo além dos pequenos provincianismos que nos dividem ou as polêmicas clericais, por exemplo, sobre qual papel atribuir às mulheres na Igreja".
E acrescenta um detalhe: "Acho que um dos aspectos para se investir mais, justamente à luz dos ensinamentos do Concílio, é a recuperação da vocação universal à santidade da Igreja: uma das características essenciais do Vaticano II e mais reiterada pelos padres conciliares. Mas esse aspecto desapareceu muito cedo dos debates teológicos".
Portanto, a Concilium tem um papel de ponta em relação à teologia contemporânea, projetado para o futuro, "sem se envergonhar do seu passado", como diria Karl Rahner, e continuando a "cumprir a sua tarefa oportune et importune"...
"Acredito e espero que esse aniversário – é a reflexão final de Gibellini – ajude a todos a voltar à raiz fundante da revista, católica com abertura ecumênica. A nossa publicação não pretende, como muitas vezes se pensa, ser 'de ruptura', mas expressão de uma 'nova catolicidade', que respeita as diferenças e as acolhe em um horizonte amplamente ecumênico. O fio de ouro do nosso projeto é o de sempre: continuar a conviver sem rivalidade e traços polêmicos com as outras revistas, sob a insígnia de uma 'responsabilidade recíproca e compartilhada' em relação à causa do Evangelho no mundo."
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Concilium, 50 anos na vanguarda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU