12 Janeiro 2015
Desde 2008, vive em São Paulo um padre defensor dos direitos dos homossexuais. Mas ele não está em uma igreja. James Alison, 55, faz "missas" em seu apartamento, próximo ao largo do Arouche.
Ali, reúne-se um grupo de católicos LGBT que acredita ser possível conciliar sexualidade e fé. "Chego a receber 30 pessoas", afirma o padre.
A reportagem é de Daniel Lisboa, publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 11-01-2015.
Ele não permitiu que a celebração fosse fotografada, porque seria "inapropriado" com os fiéis. "Eles vêm em busca de um lugar seguro."
Alison veio ao Brasil pela primeira vez em 1987 e já viveu em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro.
Homossexual, acabou rejeitado, em 1994, pela ordem religiosa da qual fazia parte por causa de suas opiniões. Tecnicamente, continua a ser padre, mas não é ligado a ordens religiosas ou arquidioceses.
Formado em teologia, Alison debate as interpretações da Bíblia, que, para ele, distorcem a maneira como o homossexual é visto. "Há passagens que são entendidas como menções aos gays, não tem nada a ver. Isso se deve a traduções equivocadas."
A atuação do britânico pela Ação Pastoral da Diversidade levou a Arquidiocese de SP a abrir um procedimento canônico contra ele por exercício irregular do ministério.
O padre diz acreditar que a ação não terá consequências concretas e que entende o cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo da cidade. "Ele teve que abrir o procedimento porque era sua obrigação."
Os encontros recebem muitos jovens gays que desejam professar sua fé, mas não se sentem à vontade em igrejas.
Vários deles, revela Alison, têm histórias de violência. "Inclusive jovens seminaristas que são perseguidos, como aconteceu comigo", conta.
O professor Edilson da Silva Cruz, 26, frequentador da Ação há dois anos, diz acreditar que a igreja ainda vai se abrir aos homossexuais, mas, enquanto isso não acontece, é preciso se organizar e criar iniciativas como a do grupo.
"Nunca achei que existisse incompatibilidade entre a minha fé e a minha sexualidade, mas queria um lugar onde eu pudesse falar sobre isso."
Alison vive com Luiz Felipe, 29, seu filho adotivo brasileiro, e o buldogue francês Nicolas, 2. O trio deve se mudar este mês para a Espanha, onde Luiz Felipe deseja estudar.
Além de dar palestras, o padre tem dois livros: "Fé Além do Ressentimento: Fragmentos Católicos em Voz Gay" e "O Pecado Original à Luz da Ressurreição: A Alegria de se Perceber Equivocado".
Como os encontros da Ação Pastoral não têm data fixa, a melhor maneira de acompanhá-la é participar de seu grupo no Facebook (www.facebook.com/Diver sidadePastoralSP).
O grupo vai continuar mesmo depois da mudança de Alison. "Já temos outros padres envolvidos com a Ação, e eles irão me substituir."
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Padre gay faz 'missas' para fiéis homossexuais em SP - Instituto Humanitas Unisinos - IHU