08 Janeiro 2015
O líder do principal grupo de franciscanos em nível mundial escreveu aos membros de sua ordem religiosa para informá-los que a estabilidade financeira deles está correndo um “sério risco” por causa das “atividades financeiras questionáveis” realizadas por funcionários administrativos da ordem que trabalham em Roma.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 19-01-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Por causa destas atividades questionáveis, o tesoureiro geral da ordem renunciou e autoridades eclesiásticas e civis foram chamadas a ajudar, escreveu o padre franciscano Michael Perry, ministro geral da ordem religiosa.
“A Cúria Geral encontra-se em uma séria – e destacarei ‘séria’ – dificuldade financeira, com uma dívida significativa”, escreveu Perry, líder da Ordem dos Frades Menores numa postagem no website do grupo.
“Os sistemas de supervisão financeira e controle para a gestão do patrimônio de nossa Ordem ou eram muito fracos, assim limitando sua eficácia em garantir uma administração responsável e transparente”, continuou.
“Parece ter ocorrido uma série de atividades financeiras questionáveis que foram conduzidas por frades responsáveis pelo cuidado do patrimônio da Ordem, sem o pleno conhecimento ou consenso do antigo e atual Definitorium Geral”, afirmou Perry, empregando o nome que a ordem usa para referir o seu conselho de governo.
“Estas atividades questionáveis também envolvem pessoas que não eram franciscanas mas que parecem ter desempenhado um papel central”, acrescenta o religioso. “Por estas razões, o Definitorium Geral, por unanimidade, decidiu pedir auxílio às autoridades civis para acompanhar este caso”.
A Ordem dos Frades Menores é uma das várias ordens que remontam suas origens diretamente a São Francisco de Assis, santo italiano do século XIII conhecido por sua austeridade. A ordem possui cerca de 15 mil frades ao redor do mundo em mais de 115 províncias. Nos Estados Unidos há sete delas.
Perry, natural dos EUA, foi eleito para liderar a ordem religiosa em maio de 2013, quando o então ministro geral foi nomeado pelo Papa Francisco como secretário da Congregação para a Vida Religiosa.
O secretário de Perry na sede romana da ordem confirmou a autenticidade da carta numa breve conversa ao telefone na semana passada, dizendo que ela fora enviada às províncias ao redor do mundo para “informá-las da situação”. O secretário disse que Perry não estava disponível no momento para comentar, pois se encontrava em reuniões no Vaticano.
A carta de Perry, datada de 17 de dezembro, começa informando os frades que a administração da ordem religiosa deu início a um processo de investigação interna em setembro de 2014 para analisar as “transações financeiras do Departamento da Tesouraria Geral”. O ministro geral afirmou que se buscaram conselhos de um “grupo altamente respeitado de advogados” e que “as autoridades eclesiásticas competentes também foram informadas das nossas preocupações, sendo atualizadas regularmente sobre o desenvolvimento da investigação”.
No intuito de “ajudar a resgatar o controle sobre as transações financeiras da Cúria Geral”, escreveu Perry, “o tesoureiro geral da ordem renunciou e abandonou os seus deveres como representante jurídico da ordem”.
O tesoureiro auxiliar da ordem, segundo a carta, assumiu o papel de tesoureiro e um outro frade foi nomeado como o representante legal. Em outubro, nomeou-se um terceiro frade, afirma Perry, para a “o papel recém-criado de Delegado Especial do Ministro Geral para Assuntos Econômicos da Cúria Geral”.
Estes três frades, lê-se na comunicação, deram início a um grupo de trabalho para “verificar a situação econômica atual” da ordem; “para analisar e avaliar os sistemas existentes de supervisão financeira”; e para “examinar as práticas do Departamento de Tesouraria Geral de 2003 até o momento presente, com atenção especial a toda e qualquer atividade que possa ser motivo de preocupação”.
Tal investigação, afirmou Perry, identificou o status financeiro grave da ordem e as “atividades financeiras questionáveis” que se realizaram.
A carta de Perry não especifica quais autoridades civis foram contatadas para investigar a situação. Ela também não especifica o que a causa das dívidas identificou nem quais iniciativas da ordem tal dívida iria comprometer.
Uma breve revista dos documentos disponíveis no website da ordem não revelou informações financeiras tais como o orçamento operacional de sua sede em Roma. Não se sabe também que tipo de propriedade o escritório local poderia possuir ou administrar.
Na maioria das ordens religiosas, as responsabilidades financeiras das províncias individuais são mantidas separadas entre si bem como da sede geral da ordem.
Embora a carta de Perry não nomeie nenhuma das autoridades franciscanas envolvidas na situação, os seus nomes estão disponíveis nas várias postagens anteriores no site oficial da ordem.
Segundo um comunicado de 10 de outubro publicado no website, o tesoureiro geral da ordem fora o padre franciscano Giancarlo Lati, quem, na época, teria renunciado por “motivos de saúde”. O padre franciscano Silvio Rogelio de la Fuente, então vice-tesoureiro geral, foi nomeado para o lugar de Lati.
De acordo com uma postagem do dia 5 de novembro no mesmo site, o novo delegado especial para assuntos econômicos é o padre franciscano Pasquale del Pezzo. Esta postagem afirma que o papel de del Pezzo deve incluir a apresentação de “sugestões válidas e adequadas” a Perry, para que assim a ordem “possa adotar um novo sistema de administração e gestão”.
O predecessor de Perry como ministro geral é José Rodríguez Carballo, hoje arcebispo e secretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. Carballo liderou a ordem franciscana de 2003 até a sua última nomeação, em abril de 2013.
Perry estava trabalhando como o segundo em comando antes de sua eleição como ministro geral. Até então, serviu como assessor da conferência episcopal dos EUA e trabalhou, durante uma década, em programas franciscanos na República Democrática do Congo.
Perry termina sua carta de 17 de dezembro prometendo aos frades da ordem que ele e seu conselho “irão fazer todo os esforços possíveis para garantir uma supervisão justa, transparente e ética das transações financeiras da Cúria Geral”.
“Nós também iremos nos esforçar para resolver diretamente a situação financeira séria na qual nos encontramos”, afirmou.
Ao afirmar perceber que muitos frades irão “ficar muito desapontados e desanimados com esta situação”, Perry diz esperar fornecer mais informações em breve e que fará “um relato completo de toda a situação” no próximo encontro mundial da ordem, a ocorrer em Assis, Itália, em maio e junho de 2015.
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Líder global franciscano revela improbidade; finanças em “sério risco” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU