24 Janeiro 2007
“Temos pouquíssimo tempo para desativar a bomba climática e não podemos nos dar ao luxo de errar. Estamos frente a um desafio epocal e para vencê-lo é necessário deixar de lado as falsas promessas: o nuclear e o carbono limpo”, constata Jeremy Rifkin, o guru da nova energia, em entrevista concedida ao jornal La Repubblica, 21-1-2007.
Jeremy Rifkin é autor de vários livros que grande repercussão internacional como, entre outors, A era do acesso. São Paulo: Makron Books, 2005, A economia do Hidrogênio. São Paulo: Makron Books, 2003 e O fim dos empregos. São Paulo: Makron Books, 2004.
Confira a entrevista.
O senhor não risca de fazer uma batalha ideológica no momento em que há necessidade de coisas concretas?
É quem fala de energia nuclear e de carbono limpo que não é concreto. E explico porquê. A energia nuclear é custosa, tanto que nenhuma empresa privada investe nela. Lento, porque para construir centenas de centrais nucleares seriam necessárias décadas. Perigoso, porque não resolvemos ainda o problema do lixo nuclear e porque ela oferece um alvo ideal para os terroristas. Portanto, concentrar todas as energias no nuclear significa somente perder tempo”.
O carbono é uma via mais praticável.
Mas é a fonte com conteúdo de carbônico mais alto: é paradoxal que seja proposto como saída para o efeito estufa. O único modo para sustentar esta opção seria o seqüestro do carbônico para ser preso em lugares perfeitamente isolados sob a terra ou sob o mar. Mas é uma tecnologia futurível e custosa. Talvez aí teríamos um cenário para depois de 2020. Necessitamos de outra coisa. Precisamos reagir imediatamente.
O que o senhor propõe?
Uma estratégia fundada em cinco pilastras. Primeira: aumentar a eficiência energética em 20% até o ano 2020. Segunda: cortar as emissões de gás carbônico em 30% até o ano 2020. Terceira: obter um terço da eletricidade de fontes renováveis até o ano 2020. Quarta: realizar até 2025 uma infra-estrutura baseada no hidrogênio. Quinto: construir uma rede inteligente, como a web.
Mas a web necessita de energia, não a produz.
Certamente, mas toda grande revolução econômica é acompanhada por uma revolução da informação. Quando foi inventada a agricultura apareceu a escritura cuneiforme porque havia a necessidade de registrar os excedentes alimentares com uma eficiência que a tradição oral não podia garantir. A primeira revolução industrial teve a necessidade da imprensa, das notícias que viajavam sobre os jornais. A passagem do vapor ao petróleo acompanhou o desenvolvimento do telégrafo e do telefone. Agora estamos no meio da terceira revolução industrial, na era da internet e da democracia da informação onde cada um pode buscar na rede o que quer. Parece-lhe possível que este sistema tão elástico, fundado na demanda que vem de baixo, possa coexistir com um modelo elétrico hipercentralizado, sustentado por poucas grandes centrais?
Estas centrais, no entanto, garantem a alimentação da rede.
Com os efeitos colaterais que estão sob os nossos olhos. Um outro cenário é possível. Um cenário onde, por meio do uso do hidrogênio e de milhões de células a combustível, a energia será produzida comunidade por comunidade, casa por casa, computador por computador. Uma energia que gira livremente em rede, que é passada de um usuário a outro como a informação, de tal modo que o menor produtor possa ceder a sua quota de excedente à coletividade.
Não é um sistema muito complexo?
É fluido, flexível e inteligente, isto é, capaz de se adaptar às necessidades. É também a ocasião para fazer nascer milhões de postos de trabalho porque se trata de tecnologias de baixa intensidade de capital. A comunidade européia nasceu em torno do desenvolvimento do carvão e do aço e agora pode se relançar casando-se com a terceira revolução industrial como base de um crescimento onde economia, democracia e cuidado do ambiente viajam juntos.
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A terceira revolução industrial necessita de energia casa por casa, computador por computador. Entrevista com Jeremy Rifkin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU