04 Janeiro 2009
“Sejamos todos apoiadores das lutas de São Sepé, dos 1500 mártires e de todos os pobres de hoje: índios, quilombolas, trabalhadores sem terra para plantar, ou sem terra para morar.” É esta a mensagem que Antonio Cechin nos deixa para que possamos refletir nessa data tão emblemática e tão importante para os cristãos. A IHU On-Line conversou, por e-mail, com Irmão Cechin sobre o natal e a figura de Sepé Tiaraju e, principalmente, sobre as lições que esse índio guerreiro guarani nos deixou de herança na luta que empenhou em São Gabriel, no Rio Grande do Sul. Esse lugar foi, durante muito tempo, dominado pelos latifundiários da região e, desde o dia 18 de dezembro de 2008 abriga 270 famílias até então sem terras. “Neste Natal de 2008, uma estrela muito parecida com a de Belém brilha em nosso céu rio-grandense. É lá pelas bandas de São Gabriel. É na ex-‘Estância do Céu’ hoje Terra ‘Conquista do Caiboaté’ que o Menino-Deus nasce junto das mais de trezentas famílias assentadas, particularmente suas crianças”, nos conta Cechin.
Antonio Cechin formou-se em Letras Clássicas e em Direito, pela PUCRS, onde também foi professor. Fez sua pós-graduação no Centro de Economia e Humanismo, em Paris. Iniciou na Instituição Católica de Paris a especialização em catequese, quando foi chamado para o Vaticano, na Sagrada Congregação dos Ritos, no início da década de 1960. Depois, retornou ao Brasil e iniciou a luta junto aos movimentos sociais. Sua obra está centrada no seu ativismo mais do que na sua elaboração intelectual, e voltada para manuscritos e artigos.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Muitos consideram o Natal uma data de renovação, de esperança. Nesse sentido, como a figura de Sepé Tiaraju pode inspirar um Natal e um ano mais humano para a sociedade?
Antonio Cechin – A festa do Natal é a festa do mistério da Encarnação: Deus que se torna pessoa humana para que as pessoas humanas se tornem Deus. É simplesmente sensacional. O inimaginável se tornou realidade. A partir do Natal do Menino Jesus, a Esperança não morre nunca mais, porque seremos imortais, viveremos para todo o sempre.
Na pessoa do índio Sepé Tiaraju, personalidade-chave do povo guarani das Missões Jesuíticas, acontece o Natal do Rio Grande do Sul. A luta de Sepé e dos mil e quinhentos companheiros mártires se constituiu em “ato fundante” não só das Sete cidades missioneiras, mas de todo o Rio Grande do Sul. Nosso Estado, com as Missões, nasceu direito. Os Guarani, ao conhecerem a mensagem cristã, abraçaram-na e defenderam-na com o próprio sangue. Não quiseram ser escravos. Enfrentaram de peito aberto os dois maiores impérios do mundo que eram, na ocasião, Espanha e Portugal. Foi uma luta em prol de Justiça e Paz, os valores básicos que o Menino de Belém veio trazer. Não foi sem razão que os Anjos cantaram naquela noite: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados!”.
O sinal dado pelos anjos aos pastores a fim de encontrar o Menino, foi uma criança deitada numa manjedoura de animais, envolta em trapos. Foi para os pobres, para os últimos, que Jesus trocou o céu de Deus pela terra dos humanos. Os índios, no Brasil, são o povo-raiz e hoje, o povo mais pobre do Brasil, esbulhado até da própria terra, por isso Jesus renasce sempre de novo, em primeiro lugar, como índio. No Rio Grande como índio guarani.
IHU On-Line – Para o senhor, qual é a mística que transcende a imagem de Sepé Tiaraju? Por que ele deve ser relembrado nesse período?
Antonio Cechin – A mística missioneira que envolve Sepé e o povo guarani, desde que foram constituídas as fronteiras deste chão rio-grandense, é a mística de um socialismo primitivo. Viviam uma economia eminentemente solidária. Entre eles, na República Guarani dos Sete Povos, um mundo novo, um mundo diferente foi possível durante 150 anos de Paz, Justiça e Prosperidade. Esse mundo apregoado pelo Fórum Social Mundial de hoje, era bem concreto a trezentos anos atrás em nossa terra. Aqui já se trabalhava “para Deus”. O lavourão comunitário chamava-se Tubãpaê (trabalho de Deus).
Não é por acaso que o MST nasceu em 1978-1979, princípio e fim do Ano dos Mártires Indígenas de toda a América Latina, com a primeira e a segunda Romaria da Terra, exatamente na cidade de São Gabriel, município banhado pelo sangue de São Sepé Tiaraju junto à Sanga da Bica, e o sangue dos 1500 companheiros, junto à coxilha do Caiboaté. Presente de aniversário dessa Mística que embebeu o MST desde a fundação é a Estância do Céu, conquistada no Natal deste ano e batizada pelos felizes assentados com o significativo nome de “Conquista do Caiaboaté”. A batalha perdida no Caiaboaté em 1756 pela chacina dos 1500 mártires, por intercessão milagrosa de São Sepé, se transformou em batalha vitoriosa contra os latifundiários de hoje, sucessores dos imperialistas de ontem.
IHU On-Line – Como essa mística de Sepé Tiaraju reflete em seus descendentes?
Antonio Cechin – Os descendentes da Mística de Sepé Tiaraju são hoje, os Movimentos Populares, particularmente as Comunidades Eclesiais de Base, denominadas “Oitavo Povo das Missões” pelo escritor Alcy Cheuiche [1], um dos biógrafos de São Sepé Tiaraju. O Mestre Jesus de Nazaré em seu trabalho eminentemente comunitário de organização do povo, trabalhava em dois níveis: o nível da pequena comunidade dos 12 discípulos e em nível das multidões; melhor, trabalhava os 12 em função do trabalho de massa.
Sempre ouvimos aqui e ali, de pessoas que comentam os Evangelhos, a afirmação, talvez até para consolo de agentes pastorais mal sucedidos, que o Mestre Jesus fracassou em sua missão. A prova seria que morreu pregado na cruz pelo mesmo povo judeu ao qual “só tinha feito o bem” segundo a letra do Evangelho.
Esse tipo de comentário nos parece infeliz. Em nosso modesto entender, calcado na experiência que temos em educação popular, à semelhança dos líderes populares de hoje, o público de Jesus como ressaltam os próprios evangelhos, era duplo: o dos amigos e o dos inimigos. O público do domingo de Ramos que arrancava galhos de árvores e desvestia suas túnicas para atapetar o caminho em que Jesus passaria montado no burriquinho, era um público formado pela massa de seus amigos. Na sexta-feira-santa, o público era formado em sua quase totalidade, por inimigos. Fácil de compreender. Para as festas pascais vinha muita gente de fora e de longe. A maioria, certamente não conhecia Jesus. Além do mais, esses que gritavam “crucifica-o”, eram incitados pelos chefões do templo, falsas lideranças que só desejavam a morte do Nazareno.
Sepé Tiaraju tinha sido forjado na pequena comunidade de sua tribo guarani que, segundo o costume, era sempre coordenada por um cacique. Sabemos que os padres jesuítas missioneiros, respeitaram essa organização de base do povo. Nas próprias cidades, os caciques estavam também nos cabildos.
Índio guarani que fosse mais prendado recebia uma educação toda especial. Foi isso que aconteceu com Sepé. Devido às suas qualidades de liderança acabou sendo eleito prefeito da cidade de São Miguel e comandou, no final de seus dias, o exército missioneiro, na luta contra os imperialistas.
Hoje, nossas Comunidades de Base, levam esse nome exatamente porque são pequenas comunidades de pobres, base da nova sociedade e da nova Igreja. No “jeito novo de ser Igreja” temos também nossas ferramentas de massa que são, entre outras, a Romaria da Terra e a Romaria das Águas.
IHU On-Line – Em que sentido os ensinamentos de Sepé Tiaraju são uma fonte de inspiração numa época de individualismo?
Antonio Cechin – A grande luta de São Sepé Tiaraju pela qual derramou o sangue, junto com o sangue dos mil e quinhentos comandados, foi em defesa de um projeto sócio-político-econômico-cultural-religioso de nação, que podemos denominar de socialismo primitivo porque se trata de socialismo antes do nome ter surgido. A propósito, o escritor europeu Clóvis Lugon [2], a seu livro sobre as Missões Jesuíticas da América Latina, dá como título A república “comunista” cristã dos Guaranis.
Por ocasião do Natal-2008, os sem-terra descendentes de Sepé entram na ex-“Estância do Céu” do individualista-egoísta Southall, legítimo descendente dos impérios ibéricos do século 18. O MST brinda 368 famílias com um presentão de natal. Numa tacada só as torna comunitariamente proprietárias, bem ao jeito de Sepé e de seu povo guarani que nunca aceitaram a propriedade individual da terra, como queria o rei de Espanha. Entre o Abãbaê (trabalho para si) e o Tupãbaê (trabalho para Deus ou comunitário) optaram sempre por este último. Quando forçados ao trabalho individual, criaram o mutirão em guarani potyron que deu, no Rio Grande do Sul, corruptelas como “puxirão”, “pexiru”.
O projeto missioneiro é hoje o projeto não só de índios, mas também dos quilombolas, dos sem terra de todos os matizes, cognominados simplesmente com o termo pobres. Esse projeto popular está nas antípodas do projeto capitalista que ainda impera no Brasil e que veio do outro lado do Atlântico, trazido pelos europeus na esteira de Pedro Álvares Cabral. Com o possível colapso desse projeto egoísta, neste momento em crise total, aumenta a esperança dos pobres de ver seu projeto solidário avançar sobre o Brasil e sobre o universo.
IHU On-Line – Em que sentido a imagem de Sepé e a celebração do Natal, renovam e estimulam a luta pela terra, a partilha, a solidariedade e nos ajudam a pensar um mundo diferente?
Antonio Cechin – Jesus, Filho de Deus, para vir ao mundo em seu Natal, para poder nascer, teve que “invadir” uma gruta. Ele vinha de junto de Deus, seu Pai Criador, que criou a Terra e não saiu por aí a vender lotes pra ninguém individualmente. A Terra segundo Deus e de todos e para todos.
Sepé no fragor das lutas berrava aos quatro ventos como um animal ferido, num assomo de indignação ética: “Esta Terra tem dono! Ela nos foi dada por Deus e pelo arcanjo Miguel! Só eles nos podem deserdar!”. Preferiu a morte à desonra de ceder à pretensão dos impérios egoístas.
Hoje, os Sem Terra sabem correr os mesmos riscos de vida, dentro de sua estratégia de luta em prol de “Terra para quem nela trabalha”, de “Reforma Agrária já!” Gaúchos a pé, não temem enfrentar fazendeiros e brigadianos a cavalo com armas de fogo, assim como Sepé enfrentou os imperialistas com companheiros armados apenas de lanças.
Latifundismo é sinônimo de individualismo. Participante de Movimento Popular é sinônimo de comunitarismo. A Comunidade é o Reino de Deus anunciado por Jesus aqui e agora. Não é por nada que as CEBs cantam: “Queremos terra na Terra / Já temos terra nos céus!” Esse é o projeto de mundo diferente que os pobres estão construindo a duras penas, mas que avança sempre. É um projeto de alargamento sempre maior do espaço democrático da nação.
IHU On-Line – De que maneira o Natal estimula a luta pela justiça e pela igualdade? De que maneira esses sentimentos devem ser encarados nessa época do ano?
Antonio Cechin – Ano novo, Vida nova.
Em se tratando de fim de ano, costuma-se fazer um balanço sobre o tempo que passou com vistas a um planejamento para o ano que começa. Jesus, o Filho de Deus, vem e coloca sua tenda no meio de nós. Ele nos ensina a chamar a Deus de Pai Nosso. Se Deus é Pai de todos, nós, os humanos somos todos irmãos.
Num mundo com tanta injustiça e tão desigual, impossível celebrar o Natal com dignidade. Como é que podemos nos banquetear à meia-noite, no horário em que Jesus nasce, se pensamos nos milhões que passam fome, sede, nudez, sem casa para morar, doentes etc.
Dar um rancho para uma pessoa, em dia de Natal, só para poder comer em paz o peru? É simplesmente uma piada, já que imediatamente essa pessoa assistida, terá imediatamente fome de novo e não vai ter como saciá-la. Só somos verdadeiramente humanos se nos engajamos na luta pela transformação social. Daí a opção pelos pobres que é o caminho urgido pela Igreja Latino-Americana, ou da Libertação. Num primeiro momento dessa opção, partimos para a organização dos Movimentos Populares, especialmente das Comunidades Eclesiais de Base.
Hoje, tudo se tornou mais fácil. O MST é a locomotiva que caminha à frente do movimento indígena, do movimento dos quilombolas, e de todos os demais movimentos populares. Basta a classe média fazer suas, as lutas dos movimentos populares. De maneira muito concreta apoiar a Reforma Agrária, a luta pelo emprego, pela habitação, péla saúde etc. fazendo frente única com os movimentos populares. Isso não se vê, infelizmente.
Anos atrás, no apogeu das CEBs, os Sem Terra vinham do interior em marcha até Porto Alegre, para acampar diante do palácio do governador, ou da Assembléia Legislativa, ou do INCRA etc. e muitas pessoas das CEBs da capital, mesmo de Paróquias, ou de colégios, iam até o local em que acampavam e faziam como os pastores e os magos do presépio, que levaram comidas, roupas, presentes etc.
Em tempo de criminalização dos movimentos populares, por parte da polícia, da brigada, do ministério público e até de juízes, por onde é que andam nossas pessoas de fé ou nossos profissionais de classe média? Para uma luta de transformação, que é uma luta eminentemente política, é necessário povo na rua, é necessário um sem-número de pessoas, é necessário “fazer monte” como dizia alguém. Ouso afirmar que quem não participa da luta de massa não pode rezar o creio na Missa, particularmente aquela passagem “Creio na Ressurreição da Carne”. Pela nossa Fé, cremos que nossos corpos (matéria) um dia ressuscitarão, junto com nossa alma (espírito). Porém não acredito que quem não colocou seu corpo de 50, 60 ou mais quilos de matéria, a serviço da luta pela transformação do mundo, fazendo uma unidade a mais na multidão, não merece ser ressuscitado para a vida eterna.
IHU On-Line – De que forma o senhor avalia que o mundo hoje se prepara para o Natal no sentido da preocupação ecológica? Que relações podemos estabelecer entre o espírito natalino e a questão climática do nosso planeta?
Antonio Cechin – Jesus, o Filho de Deus, nasce como pessoa humana dentro de uma situação que até nos escandaliza. Nas vilas populares, em grupos de catadores, nesta época costumamos perguntar: quem de vocês nasceu numa estrebaria? Até hoje nunca tivemos alguém que respondesse afirmativamente.
Apesar das circunstâncias que envolve a nascença de Jesus que se parece mais com o nascimento de um marginal, o acontecimento se apresenta em sua simplicidade com o caráter de uma verdadeira chegança, em que natureza e pessoas humanas se revestem de um tom de extraordinária solenidade misturada de imensa alegria. Senão vejamos:
1) As pessoas. Há um movimento de uma visitação geral no contexto da Encarnação. Primeiro o Anjo Gabriel visita Zacarias anunciando o nascimento de João Batista, o precursor, aquele que vem à frente para abrir caminhos. Depois o Anjo visita Maria a mãe de Jesus e anuncia que vai conceber o Emanuel (Deus conosco). Alertada pelo Anjo que a prima Isabel, mãe de João, já está no sexto mês de gravidez, Maria visita a prima e juntas certamente, preparam o enxoval das crianças a que darão à luz. De volta para Nazaré, José e Maria, por decreto do imperador César, tem que partir para Belém a fim de fazer o recenseamento. Em Belém, batem-que-batem em tudo que é casa, visitando todos os que podem, a fim de conseguirem um pouso para o nascimento que está iminente. Acabam tendo que ir para a periferia da cidade, junto a uma gruta que funcionava como cocheira. O Menino nasce e os anjos cantantes visitam os pastores para dar-lhes a grande notícia. Os pastores, na corrida, vão até Belém, visitam a sagrada família a fim de prestar socorro. Em seguida os magos chegam do Oriente. Não sabendo em que lugar nasceu o rei dos judeus, mobilizam céus e terra. Indicado o lugar, visitam José, Maria e o Menino com seus presentes.
2) A natureza. Santo Agostinho diz que Deus se nos revelou através de duas linguagens. A primeira delas foi a natureza. Assim como o artista se revela a si mesmo através do quadro que pinta, assim o divino artista que é Deus, se revelou através de sua obra de arte que é a natureza. Fauna, flora e toda a natureza envolvem o Natal. São Francisco entendeu muito bem isso quando decidiu inventar o presépio com magos, pastores, animais, plantas etc. O cosmos através da estrela-guia aparece orientando os magos, os anjos irrompem com seus cantos maviosos nos céus da cidade de Belém, envolta na quietude de um mundo que vivia uma excepcional “pax romana”.
O Evangelho de João nos diz que “foi por meio de Jesus – o Verbo – que o mundo foi feito e nada do que existe foi feito sem Ele”.
Jesus, de uma certa maneira, num primeiro momento, através do Pai, cria a natureza, como primeira linguagem que dele fala. Quando adulto então Ele vem e diz: “Eu sou a Água Viva”, ”Eu sou a videira e vós sois os ramos”, “Eu trouxe o fogo do céu” etc. significando que quem não entende de água não pode entender de Deus, a natureza toda é uma espécie de porta de entrada para se conhecer a Deus.
A ecologia nada mais é do que a ciência das leis da natureza. A propósito, o mesmo Santo Agostinho, bispo de Hipona, já no século terceiro dizia: “Deus perdoa sempre, o homem perdoa de vez em quando, mas a natureza não perdoa nunca”.
Quem deixaria de se condoer com a tragédia visualizada durante tanto tempo, acontecida no vizinho estado de Santa Catarina? Depois de tudo que vimos e ouvimos, estamos convencidos de que as leis da natureza estão aí, para conhecimento de todos. E é absolutamente necessário que as conheçamos devidamente a fim de respeitá-las. É a única atitude correta que nos convém como seres humanos. Hoje, com o Planeta doente pelo excesso de poluição, temos que virar também os médicos do Planeta.
Uma sensacional Boa Notícia Ecológica Preservacionista nos vem, neste Natal, do MST. Não fosse a teimosia do Movimento em insistir com a luta em prol da Reforma Agrária, com meta estabelecida de conquista da “jóia da coroa” dos latifundiários em São Gabriel, hoje, a Terra “Conquista do Caiboaté” de cinco mil hectares, estaria vendida à Aracruz Celulose que a transformaria numa imensa plantação de eucaliptos. Só nessa imensa gleba onde serão assentadas mais de 360 famílias, há mais de 80 nascentes do Rio Vacacaí. O melhor balneário do município agora faz parte da grande propriedade comunitária. Em vez do arvoredo exótico que secaria todos os mananciais, agora será uma terra abençoada que produzirá alimentos orgânicos para alimentar a cidade de mais de duzentos mil habitantes, onde 90% dos alimentos vem de fora do município. Quem diria? Além de agricultores, os Sem Terra com um título a mais: Preservacionistas e Médicos do Planeta, cuidando da prevenção contra enfermidades.
IHU On-Line – O senhor gostaria de deixar uma mensagem para todos que acompanham nosso sítio, nesta semana?
Antonio Cechin – Neste Natal de 2008, uma estrela muito parecida com a de Belém brilha em nosso céu rio-grandense. É lá pelas bandas de São Gabriel. É na ex-“Estância do Céu” hoje Terra “Conquista do Caiboaté” que o Menino-Deus nasce junto das mais de trezentas famílias assentadas, particularmente suas crianças. Os riscos que souberam correr as tornaram construtoras de paz e justiça, por isso entraram de posse da Terra. Um dos pontos da plataforma do Projeto de Jesus, no Sermão da Montanha é exatamente este: “Felizes os que constroem a Paz porque possuirão a Terra!”
Sejamos todos apoiadores das lutas de São Sepé, dos mil e quinhentos mártires e de todos os pobres de hoje: índios, quilombolas, trabalhadores sem terra para plantar, ou sem terra para morar.
Fomos todos juntos derrotados no dia 10 de fevereiro de 1756 na batalha do Caiboaté, mas hoje, no dia 18 de dezembro de 2008, somos vencedores na Terra “Conquista do Caiboaté”.
Notas:
[1] Alcy José de Vargas Cheuiche é um escritor brasileiro, autor de romances históricos, poesias, crônicas e teatro.
[2] Clóvis Lugon é um jesuíta e historiador suíço.
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"A partir do Natal do Menino Jesus, a Esperança não morre nunca mais, porque seremos imortais". Entrevista especial com Antonio Cechin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU