15 Setembro 2017
“A escolha do Senado [italiano] é equivocada também sob o perfil político, porque parece dar razão àqueles que querem equiparar o ius soli às políticas de fronteira.”
Nadia Urbinati, acadêmica, cientista política e jornalista, é titular da cátedra de ciências políticas da Columbia University de Nova York e professora visitante da Bocconi de Milão. Como pesquisadora, aborda o pensamento democrático e liberal contemporâneo e as teorias da soberania e da representação política.
Após a decisão dos líderes do Senado [italiano] de não agendar o “ius soli”, o sítio Riforma entrou em contato com ela por telefone, em Nova York, para lhe fazer algumas perguntas.
A reportagem é de Gian Mario Gillio, publicada por Riforma, 14-09-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No apelo que vocês lançaram há alguns dias e, infelizmente, não recebido pelos senadores da República, pedia-se que o mundo da política, as instituições e a sociedade civil fossem sábios e apoiassem a lei que concede a cidadania por “ius soli” e que fizessem isso em um momento em que “somos todos filhos da confusão entre pátria e exílio”. Interessa-nos a sua opinião, também pelo fato de você residir nos Estados Unidos há tantos anos já.
Como emigrante, devo dizer que o mais importante para pessoas como eu é sentir que se é aceito, ter a possibilidade de se integrar no novo país de residência. Isso vale principalmente para quem nasceu no país de emigração escolhido pelos pais. As crianças nascidas na Itália não podem pagar por uma escolha que não fizeram, não podem ser consideradas não italianas, embora falando perfeitamente a língua, frequentando as escolas e tendo uma única vida civil e afetiva, a que têm na Itália. Isso é simplesmente cruel, além de injusto.
Porém, aqueles que “jogam” a política nas salas parlamentares não parecem pensar como você e muitos outros italianos. Na prova dos fatos, não sabemos se e quando a lei será agendada e aprovada.
Infelizmente, é assim. E é também pouco clarividente, porque alimenta nos imigrantes e também nas crianças um ressentimento que será difícil de morrer. Parece-me que, na onda de uma audiência que a cada dia que passa se mostra mais sensível a questões de exclusão e digamos, também, “fascista”, essa escolha do Senado em particular é equivocada também sob o perfil político, porque parece dar razão àqueles que querem equiparar o “ius soli” às políticas de fronteira.
O que vem à sua mente quando ouve palavras como “exílio”, “cidadania”, “pátria”, várias vezes utilizadas no apelo de sensibilização que você lançaram?
Que os países ocidentais terão que se adaptar para se tornarem multiétnicos, até porque são os verdadeiros responsáveis por aquilo que lamentam hoje. Eles colonizaram e exploraram os recursos dos países dos quais muitos agora fogem por causa de guerras e miséria. E se, até algumas décadas atrás, os ocidentais atravessavam com os seus exércitos as suas fronteiras para colonizar e escravizar, hoje, a direção do movimento se inverteu. E essa inversão tem sentido, porque, se não são os bens que vão aos países pobres, os pobres irão buscar esses bens de que precisam aonde eles estiverem, bens como a paz, a liberdade da dominação e a oportunidade de uma vida melhor. A Terra é redonda, e, mais cedo ou mais tarde, nos encontramos. A Terra é de todos, e as fronteiras criadas pelos Estados não possuem nenhum direito de propriedade.
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A Terra é redonda e, mais cedo ou mais tarde, nos encontramos. Entrevista com Nadia Urbinati - Instituto Humanitas Unisinos - IHU