19 Novembro 2015
O Papa Francisco repetiu o seu convite para que a Igreja Católica abra as portas a todos, sem exceção, dizendo que até mesmo a Igreja, às vezes, mantém Jesus “prisioneiro” em suas próprias instituições e não o deixa sair ao mundo.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 18-11-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O pontífice também falou que a Igreja não deve ceder a uma tendência crescente na sociedade em que “há tantos [lugares] onde as portas blindadas se tornaram normais”, mas sim que deve manter em mente a Sagrada Família, que “sabe bem o que significa uma porta aberta ou fechada (…), para quem espera um filho, para quem não tem morada, para quem deve escapar do perigo”.
Em sua audiência semanal na Praça de São Pedro nesta quarta-feira, Francisco focou-se na abertura vindoura do ano jubilar da misericórdia para fazer uma reflexão apaixonada, na maior parte proferida de improviso, sobre a necessidade de a Igreja se abrir a todos e a tentar não se tornar numa “patroa”:
“A casa de Deus é uma morada, não uma prisão!”, clamou o papa a certa altura de seu discurso. “E se a porta está fechada, dizemos: ‘Senhor, abre a porta!’ Jesus é a porta e nos faz entrar e sair”.
“Se o guardião ouve a voz do pastor, então abre e faz entrar todas as ovelhas que o pastor traz, todas, incluindo aquelas perdidas nos bosques, que o bom pastor foi resgatar”, disse Francisco.
“As ovelhas não são escolhidas pelo guardião, pelo secretário paroquial ou pela secretaria da paróquia”, continuou. “As ovelhas são todas enviadas, são escolhidas pelo bom pastor”.
“O guardião – também ele – obedece à voz do pastor”, disse o papa. “Aqui bem poderíamos dizer que nós devemos ser como aquele guardião”.
“A Igreja é a porteira da casa da casa do Senhor, não é a patroa da casa do Senhor”.
Francisco estava falando sobre o ano jubilar especial, que irá começar no dia 8 de dezembro e irá até o dia 20 de novembro de 2016. Aos fiéis presentes na Praça de São Pedro nesta quarta-feira ele disse que “a grande porta da misericórdia de Deus” está sendo aberta a todos.
“Cada um de nós tem dentro de si coisas que pesam”, disse o pontífice. “Todos somos pecadores! Aproveitemos este momento que vem e cruzemos o limiar dessa misericórdia de Deus que nunca se cansa de perdoar, nunca se cansa de nos esperar! Ele nos olha, está sempre próximo a nós. Coragem! Entremos por esta porta”.
Em seguida, o papa falou do encontro mundial de outubro que reuniu prelados católicos do mundo inteiro conhecido como Sínodo dos Bispos.
“Do Sínodo dos Bispos (...) todas as famílias e toda a Igreja receberam um grande encorajamento para se encontrarem no limiar dessa porta aberta”, disse. “A Igreja foi encorajada a abrir as suas portas, para sair com o Senhor ao encontro dos filhos e filhas em caminho, às vezes incertos, às vezes perdidos, nestes tempos difíceis”.
“E a porta da misericórdia de Deus está sempre aberta, também as portas das nossas igrejas, das nossas comunidades, das nossas paróquias, das nossas instituições, das nossas dioceses, devem estar abertas, para que assim todos possam sair e levar essa misericórdia de Deus”, continuou.
“O Jubileu significa a grande porta da misericórdia de Deus, mas também as pequenas portas das nossas igrejas abertas para deixar o Senhor entrar ou, tantas vezes, sair o Senhor prisioneiro das nossas estruturas, do nosso egoísmo e de tantas coisas”.
Então, falando de uma tendência crescente em direção a uma segurança hipersensitiva no mundo, Francisco afirmou: “Há tantos [lugares] onde as portas blindadas se tornaram normais”.
“Não devemos nos render à ideia de dever aplicar esse sistema a toda a nossa vida, à vida da família, da cidade, da sociedade”, completou ele. “E tão menos à vida da Igreja. Seria terrível! Uma Igreja inospitaleira, assim como uma família fechada em si mesma mortifica o Evangelho e seca o mundo”.
“Nada de portas blindadas na Igreja!”, exortou a multidão. “Tudo aberto!”.
Francisco também disse que, embora as portas devam ser guardadas, os guardas devem também abri-las para ver quem está do lado de fora.
A porta se abre frequentemente para ver se do lado de fora há alguém que espera e, talvez, não tem a coragem, talvez nem mesmo força, de bater”, aconselhou o pontífice.
“Quanta gente perdeu a confiança, não tem a coragem de bater à porta do nosso coração cristão, às portas das nossas igrejas?”, perguntou-se. “E estão ali, não têm coragem, tiramos a confiança delas”.
O pontífice disse ainda que o verdadeiro guarda da porta de Deus é Jesus. “Nós devemos passar pela porta e ouvir a voz de Jesus”, disse Francisco. “Se ouvimos o seu tom de voz, estamos seguros, estamos salvos. Podemos entrar sem medo e sair sem perigo”.
Terminando a audiência com uma reflexão sobre a Sagrada Família, o papa disse que a família de Nazaré “sabe bem o que significa uma porta aberta ou fechada, para quem espera um filho, para quem não tem morada, para quem deve escapar do perigo”.
“Que as famílias cristãs façam de sua porta de casa um pequeno grande sinal da porta da misericórdia e do acolhimento de Deus”, pediu Francisco.
“É justamente assim que a Igreja deverá ser reconhecida, em todo canto da terra: como a guardiã de um Deus que bate, como o acolhimento de um Deus que não te fecha a porta na cara, com a desculpa de que tu não és de casa”, disse.
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Francisco clama por Igreja acolhedora: “A casa de Deus é uma morada, não uma prisão” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU