08 Setembro 2014
Isto nunca tinha acontecido na história recente: um bispo em pleno cargo se posiciona decisivamente contra o magistério eclesiástico e as diretrizes dos papas sobre as questões de matrimônio e família.
A reportagem é de Daniel Deckers, publicada no sítio do Frankfurter Allgemeine Zeitung, 03-09-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A poucas semanas do início do Sínodo sobre matrimônio e família, um bispo em pleno cargo fez um balanço muito negativo dos textos do magistério eclesiástico e das indicações morais relativas. Em um livro de memórias, Johan Bonny, bispo de Antuérpia, critica os papas Paulo VI e João Paulo II por terem rompido com a colegialidade do papa e do colégio dos bispos praticada no Concílio Vaticano II (1962-1965) sobre questões relacionadas a matrimônio, sexualidade, família e relacionamentos: "Tal divisão não deve existir mais".
No início dessa evolução, houve a proibição de todas as formas de contracepção artificial pelo Papa Paulo VI na encíclica Humanae vitae (1968) – em contraste com o voto da comissão de especialistas nomeada por ele mesmo, da comissão de cardeais e bispos que tinham se ocupado da questão, do Congresso Mundial dos Leigos (1967), da grande maioria dos teólogos morais, dos médicos e dos cientistas, bem como da maioria dos católicos comprometidos".
A "queda" foi ainda maior com a encíclica Familiaris consortio, de João Paulo II (1981), defende o bispo belga de 59 anos, que assumiu o cargo à frente da diocese de Antuérpia em 2009 e que anteriormente tinha sido por muitos anos um colaborador próximo do cardeal alemão Walter Kasper, no Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
Tendo o magistério ignorado a convicção já difundida nos últimos séculos da dignidade de uma decisão assumida em consciência, cresceu a brecha entre o ensino moral da Igreja e as convicções éticas dos fiéis. A consequência: "Um documento depois do outro do supremo magistério sobre as questões da sexualidade, da família ou da bioética se chocam com uma crescente incompreensão e com uma ampla indiferença".
Ao Sínodo dos Bispos, que vai começar seus trabalhos no dia 5 de outubro, Bonny pede que busque, em nível tanto teológico quanto prático, "bases novas e mais sólidas para a consulta e a tomada de decisões de maneira colegial".
Várias citações da encíclica Evangelii gaudium demonstram que o bispo belga acredita que o Papa Francisco está do seu lado.
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Bispo belga questiona diretrizes dos papas recentes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU