01 Março 2013
Proteger a Amazônia ou produzir carne para um mundo cada vez mais carnívoro? Este é um dos grandes dilemas do Brasil, que para o engenheiro Carlos Nobre, doutor em Meteorologia e secretário para políticas e programas de pesquisa e desenvolvimento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), tem solução: uma pecuária mais eficiente.
Segue um resumo da entrevista que Nobre concedeu à AFP à margem da conferência internacional de Academias de Ciências (IAP), realizada esta semana no Rio de Janeiro.
A entrevista é reproduzida por Amazônia.org.br, 01-03-2013.
Eis a entrevista.
O Brasil é um dos principais emissores de gases-estufa, devido ao desmatamento. Nos últimos anos, o governo tem anunciado reduções recorde no corte ilegal. Em sua opinião, as autoridades brasileiras têm sido eficientes no combate ao desmatamento?
Nos últimos 3 a 4 anos, a Amazônia reduziu o desmatamento em cerca de 75% e o cerrado, em cerca de 50%. Manter essas baixas taxas é um esforço permanente. Tem muito a ver com políticas públicas, de fiscalização e controle, mas também com o fato de que a agricultura brasileira começou a se convencer de que o caminho de qualquer agricultura no mundo – e o Brasil é uma potência agrícola – é a eficiência. O desmatamento não tinha nada a ver com eficiência. No Brasil, a média de ocupação de cabeças de gado ainda é muito baixa. São 200 milhões de hectares com 200 milhões de cabeças de gado. Uma cabeça de gado por hectare, quando o potencial econômico de ocupação é de 3 ou 4 por hectare numa pecuária moderna. A Embrapa tem feito estudos mostrando que o Brasil poderia produzir 20% mais com 35% menos área até 2022. A palavra-chave é eficiência: a pecuária brasileira é muito pouco eficiente.
O Brasil assumiu recentemente metas ambiciosas de redução de emissões, de até 39% até 2020. Isso é factível?
As metas são factíveis, em grande parte pela redução do desmatamento ilegal nos grandes biomas, Amazônia e cerrado (…) Como os desmatamentos diminuíram rapidamente, as estimativas de emissões em 2010 indicam uma redução de 40% com relação em 2005. O Brasil está fazendo o seu papel, mas o esforço é permanente. Após 2020, quando teremos uma matriz de emissões muito parecida com a de países industrializados, com a maior parte das emissões de energia e agricultura e não de desmatamento, o desafio ainda é maior porque o caminho é o das energias renováveis, onde o Brasil tem enorme potencial. A agricultura brasileira também tem enorme potencial de reduzir emissões e avançamos muito nessa área. Em 2010 foi lançado o programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) e os agricultores finalmente começaram, em 2012, a acessar este crédito, subsidiado para atividades agrícolas. Todas as atividades previstas no programa ABC são de aumento da eficiência, o que eleva a produtividade e diminui as emissões. Com um programa ABC forte, as emissões da agricultura brasileira em 10 a 15 anos vão ser muito menores.
Em janeiro de 2011, grandes deslizamentos provocados por fortes chuvas na região serrana do Rio de Janeiro mataram mais de 500 pessoas. Considerando que nos próximos anos o Brasil vai sediar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, o senhor acredita que o país está preparado para reagir rapidamente a um desastre natural?
Até o evento da região serrana do Rio, com raríssimas exceções, não se via o desastre natural como algo que pudesse ser prevenido. Aquele que foi o maior desastre natural da história do Brasil foi um divisor de águas. A partir dali, rapidamente se desenhou no Brasil o Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres naturais, lançado pelo governo em agosto de 2012, com prevenção de longo prazo, remoção de populações que vivem em áreas de altíssimo risco, diminuição de riscos com obras. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação lidera o sistema Alerta, que consiste em passar informação precisa para a Defesa Civil de que há riscos de deslizamentos maciços em algumas horas. Hoje são cerca de 300 municípios monitorados, com mais de 10 mil áreas de risco (mapeadas). Até 2014 serão 800 municípios. Esse novo centro tem 110 profissionais, funciona 24 hora por dia e já lançou mais de 300 alertas.
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Amazônia ou mais carne para o mundo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU