13 Julho 2011
"O prestígio e o poder sacerdotais estão em declínio em países onde existem bons níveis de saneamento, educação, alimentação, água e longa expectativa de vida, e as mudanças da liturgia tem a ver com a recuperação desse prestígio e poder perdidos."
A opinião é de Melanie Lately, colaboradora leiga convidada, de New South Wales, na Austrália, em artigo na revista católica britânica The Tablet, 01-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Na Missa, temos folhetos nos bancos para que possamos acompanhar a tradução revisada da missa. As opções para as diferentes partes estão lá. Nesta semana, o nosso pároco usou a homilia para falar sobre isso. Quando ele leu as palavras do Confiteor, com as alterações em negrito, ele foi saudado com muitas gargalhadas, e até ele teve que sorrir.
Ninguém hoje em sã consciência – a menos talvez que tenha recém assassinado alguém – vai ficar falando "minha culpa, minha culpa, minha tão grande culpa", enquanto bate em seu peito, especialmente se estiver refletindo sobre seus pensamentos ou palavras cotidianas comuns que se espera que a maioria dos participantes da missa tenham.
A imagem que as palavras dão é a de camponeses analfabetos, com boinas de pano e botas sujas de lama, que batem em seus peitos, algo ao estilo Monty Python.
Entre adultos, isso pouco importa na missa. Mas é completamente diferente quando se trata de crianças. Como educadora de crianças em escolas católicas, eu me pergunto se o grupo Vox Clara que chegou com essa tradução pensou em seu lado educacional.
Imagine o que aconteceria se o governo da Grã-Bretanha ou dos EUA, do Canadá ou da Austrália trouxesse algo semelhante para as escolas estatais com pouca ou nenhuma consulta pública, e fizesse com que as crianças aprendessem essas palavras de cor, fazendo com que as repetissem continuamente por 12 anos – haveria um clamor público. E, no entanto, o equivalente disso está sendo impingido às crianças católicas em terras de língua inglesa.
Certamente, se as crianças católicas são induzidas pelos professores sob o comando da hierarquia católica a bater sobre seus peitos em ocasiões solenes regulares e a se pronunciarem internamente imundas, deveríamos ver o estudo de impacto psicológico que eles realizaram. Ou eles não o fizeram?
Com todo o tumulto em torno dos abusos infantis na Igreja Católica, você poderia pensar que isso levaria a alguma conscientização entre os padres e bispos, e alguém do Vox Clara ou entre os seus apologistas poderia perguntar: "Você acha que a solene repetição formal de palavras como essa por 12 anos é boa para as crianças? Isso não poderia ser visto como uma forma de abuso infantil psicológico?". Certamente, em nossas escolas católicas publicamente financiadas, isso poderia ser visto dessa forma.
O prestígio e o poder sacerdotais estão em declínio em países onde existem bons níveis de saneamento, educação, alimentação, água e longa expectativa de vida, e as mudanças da liturgia têm a ver com a recuperação desse prestígio e poder perdidos. Mas é uma forma muito desleal de fazer isso. O verdadeiro pecado grave, se devemos falar nessa linguagem, é na verdade essa manipulação desleal do povo católico, com total desrespeito pelos seus filhos.
Notas:
1 – Na versão atual do Missal em inglês, o trecho em itálico não consta, e a oração segue diretamente para "e peço à Virgem Maria, aos anjos e santos...".
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A nova tradução do Confiteor e a recuperação do prestígio perdido - Instituto Humanitas Unisinos - IHU