17 Junho 2016
Faltam poucos dias para o início do Santo e Grande Concílio da Igreja Ortodoxa. O seu presidente, o Patriarca Ecumênico, programou a sua chegada em Kolymbari Chania, sede do Concílio, para esta quarta-feira, 15 de junho.
A reportagem é de Ioannis Maragós, publicada no sítio Settimana News, 15-06-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ele estava sendo preparado há cerca de 60 anos, e, finalmente, se saberá qual será o seu fim. Um Concílio deveria restaurar vigor e presença concreta àquilo que a Igreja Ortodoxa entende por "sinodalidade" (unidade na pluralidade) e chamaria a Igreja a dar o seu testemunho e o seu carisma ao mundo contemporâneo, poliédrico sob todos os pontos de vista.
A aspiração – como declarou o Metropolita Ignazio di Volo – é "dar testemunho da unidade e celebrá-la no Concílio. O Santo Concílio é realizado para afirmar e confirmar a existência da unidade no sacramento da Eucaristia, a fé comum, os sagrados cânones e a tradição teológica". Mas o metropolita está bem ciente dos problemas existentes, por isso acrescentou: "Na Ortodoxia, não temos questões de primados. Não devemos nos deixar vencer pelas divisões dos nacionalismos".
Todo esse empenho e esse esforço agora correm o risco de se revelar um espinho doloroso no flanco e uma fratura profunda na unidade da Igreja Ortodoxa.
À espera de ver o resultado definitivo, fazemos uma breve resenha das diversas posições – assim ousarei chamá-las – de política eclesiástica.
O Patriarcado da Rússia está à frente das Igrejas que esperam que se adie tudo a tempos mais propícios.
O Patriarcado russo pediu que o Patriarcado Ecumênico adie o Concílio, se, enquanto isso, não tiverem sido removidos os obstáculos que já dividem algumas Igrejas locais, como, por exemplo, a Igreja de Antioquia e a Igreja de Jerusalém; não se encontrando em comunhão, isso vai impedi-las de copartecipar da Eucaristia durante os trabalhos do Concílio.
Depois, foram levantadas algumas reservas também pelas Igrejas da Geórgia, Bulgária e Sérvia, chegando à conclusão de que, mesmo que tal Concílio se realize, será ilegítimo, por ser contrário ao estatuto, que prevê o comum acordo na convocação.
Quando o Metropolita Hilarion, encarregado das Relações Exteriores do Patriarcado russo, foi questionado sobre por que, depois de ter assinado tudo na fase preparatória, se retratavam agora, ele respondeu que, ainda na fase preparatória, emergiram divisões que se esperava que fossem superadas ao longo do tempo.
Quando a Igreja de Antioquia declarou de modo claro o distinto as suas razões para não participar, somaram-se as renúncias das outras Igrejas, Geórgia, Bulgária, Sérvia. Naquele ponto, a Igreja russa reunida em Sínodo pediu que o Patriarca Ecumênico convocasse uma reunião preliminar para enfrentar os problemas que surgiram, a fim de continuar em comum acordo. Se isso não fosse possível, ele pedia para adiar tudo a um momento mais propício.
Enquanto isso, se buscará aplainar as divergências. Para o metropolita Hilarion, o problema não é do Patriarcado Ecumênico, mas de toda a Igreja Ortodoxa. Concluindo, apelou à prudência, à calma e à humildade que caracterizam o patriarca ecumênico ao tomar a devida decisão.
As renúncias a participar começaram com o Patriarcado de Antioquia, que não encontrou na ordem do dia a sua disputa com o Patriarcado de Jerusalém, que, há três anos, havia instituído uma metropolia no Qatar, tradicionalmente considerado território de Antioquia. Antioquia declarou a ruptura da sua comunhão com o Patriarcado de Jerusalém.
Por trás dessa contenda, alguns não duvidam em ver uma questão de política internacional no tabuleiro médio-oriental mais amplo. Sabe-se que Antioquia se deixa influenciar de boa vontade por Moscou; também se lembra que o patriarca, historicamente, passou para a influência e o "domínio" da língua árabe pelo impulso e o apoio da política czarista no Oriente Médio no fim do século XIX.
Sabe-se que o patriarca de Jerusalém é um grande amigo dos emires do Qatar, que construiu, às suas próprias custas, a catedral ortodoxa no Qatar. Todos os dois estão no lado pró-EUA.
O Patriarcado búlgaro é considerado como um satélite fiel da Rússia e não só na política – por assim dizer – eclesial. Ele contesta que as suas reservas não foram recebidas nos vários documentos. Os custos são exorbitantes, e ele se declara impossibilitado de fazer a sua contribuição. Estão presentes problemas processuais, na sua opinião ainda não levados a sério, por exemplo: como estarão sentados ao redor da mesa, o procedimento dos debates etc., que tutelam a sinodalidade.
É uma Igreja ultraconservadora, fechada a toda abertura ao mundo. Ela não participa do diálogo ecumênico nem com a Igreja Católica, nem com o Conselho Mundial de Igrejas (CMI). É recente o seu reconhecimento como Igreja autônoma. A sua autonomia do Patriarcado Ecumênico foi reconhecida em 1945. Depois da queda do regime comunista, correu o risco do cisma interno entre colaboracionistas e não colaboracionistas, contencioso ainda não totalmente absorvido.
O Patriarcado de Geórgia também é um satélite russo. Uma Igreja estreitamente fechada em si mesma. O patriarca, antigamente um membro muito ativo do CMI, agora rejeita todo discurso ecumênico. Do patriarcado, contesta-se e se repudia o documento sobre as relações com o resto do mundo cristão. Velhos calendaristas extremistas, para eles, é uma questão de fé. O documento sobre os matrimônios é considerado muito liberal, especialmente quando aborda os matrimônios mistos etc.
O Patriarcado da Sérvia é autônomo desde 1920. O problema com a sua autocefalia é a modalidade da sua concessão e do seu reconhecimento. Ele tem sérios problemas com a Igreja da ex-República Iugoslava da Macedônia, que se declarou independente e, portanto, é considerada cismática. Tradicionalmente, tem boas relações com o Patriarcado Ecumênico e, agora, também com Moscou.
Mas tem problemas com o Patriarcado da Romênia, porque este, recentemente, nomeou bispos para o cuidado pastoral do povo de língua romena (vlacho) e reside nos territórios sérvios fronteiriços com a Romênia.
O Patriarcado da Romênia se propõe como terceiro polo, já que não é nem de língua grega, nem de língua eslava, mas neolatina. Com Moscou, ele está em constante atrito, porque um território seu, a Yperdnisteria, se separou da obediência romena para se aproximar de Moscou.
O bloco pró-Concílio junto com o Patriarcado Ecumênico
O Patriarcado de Alexandria, o segundo em ordem de honra, tenta se manter equidistante entre Constantinopla e Moscou. É fortalecido pelos seu prestígio de missionariedade em terras africanas.
A Igreja do Chipre tem boas relações com todos, mas se considera o abre-alas do Patriarcado Ecumênico e o principal defensor das missões na África do Patriarcado de Alexandria, tanto em termos de pessoal, quanto em termos quantitativos de ajudas. Ele teria alguns lamentos sobre o Concílio, mas não protesta muito. Embora seja de origem apostólica, na linha de honra, precedem-no outras Igrejas muito mais jovens. É uma Igreja extrovertida e participa de todas as manifestações ecumênicas.
O seu arcebispo se comporta como alguém igual ao presidente da República: ele se expressa em tudo e por tudo, até sobre temas de política interna e externa. Na sua mensagem para o iminente Concílio, ele escreveu: "Participar (do Concílio) é uma declaração de unidade e de comum acordo. Por isso, consideramos toda outra tomada de posição ou proposta de último momento como uma ameaça à unidade (da Igreja), e a responsabilidade será de todos aqueles que, mesmo não querendo, contribuirão para a sua ruptura".
A Igreja da Grécia se considera como a guardiã da nação grega, da Ortodoxia e do Patriarcado Ecumênico. É verdade que as suas relações com o Patriarcado às vezes parecem ser tempestuosas, mas continuam sendo substancialmente bons irmãos. Nos momentos difíceis para o Patriarcado Ecumênico, ela está sempre ao seu lado. Os problemas se concentram em torno das chamadas "novas terras", ou seja, o norte da Grécia que, em 1912, foi anexada ao Estado grego, na época existente apenas no sul, depois das guerras balcânicas contra o então Império Otomano, mas não à Igreja da Grécia. Só mais tarde, encontrou-se um compromisso. As metropolitas do norte foram confiadas ao cuidado pastoral da Igreja da Grécia, mas não juridicamente a ela. Outros problemas são a presença e a função do Escritório de Representação do Patriarcado em Atenas. Para muitos gregos, é um grande problema o fato de que o Patriarca Ecumênico deve ser necessariamente um cidadão turco. Nos ambientes conservadores, não são bem vistas as aberturas ecumênicas do Patriarcado. Quanto ao Concílio, ela contesta o uso dos termos "Igreja", "Igrejas", "comunidades cristãs" e "confissões" e se reservou a tarefa de levantar a questão na assembleia.
A Igreja da Albânia é uma Igreja pequena mas dinâmica, apesar das pressões e dos assédios que ela sofre a cada movimento por parte do Estado albanês. É muito ativa em todos os fóruns interortodoxos, intercristãos, inter-religiosos.
O arcebispo da Albânia, Anastasios, escreve: "É evidente que os problemas são muitos. Justamente por isso, devemos celebrar o Grande e Santo Concílio. Caso contrário, os problemas não serão resolvidos. O adiamento ferirá profundamente a autoridade internacional da Igreja Ortodoxa".
A Igreja autocéfala da Polônia já está em Creta. Os bispos da República Tcheca, que, em um primeiro momento, mostraram perplexidade em participar, se retrataram dos seus posicionamentos anteriores contra o Patriarcado, declarando-se arrependidos, e vão participar.
O que será essa reunião, se for feita
Para os russos e aliados, será uma assembleia ilegítima, se os trabalhos ocorrerem sem cinco Igrejas, mesmo que se autoproclame Grande e Santo Concílio da Igreja Ortodoxa.
Outros, os mais otimistas, defendem que, sim, a falta de algumas Igrejas será um erro, mas a natureza da assembleia será esclarecida pelo peso que ela assumirá na consciência eclesial. O Concílio posterior ao da ilha de Creta irá decidir o seu caráter eclesial. Não é um grande mal que todos os convocados não vão estar presentes, já que nem mesmo nos grandes Concílios Ecumênicos do passado estavam todos presentes. Se for ou não considerado como verdadeiro Concílio, ou qualquer outra coisa, isso vai depender da recepção na consciência do santo povo fiel.
Certamente, confrontam-se duas linhas, a ecumênica, com a sua ânsia de mostrar e testemunhar a presença da Igreja no mundo contemporâneo, e a linha do particularismo nacional que cultive o sentir-se bem nos próprios territórios e a custódia de um estilo de vida tradicional, buscando no máximo revigorá-lo de alguma forma, porque se sabe o que foi o passado, mas não o futuro, e isso dá medo.
Seguramente, um certo tipo de nacionalismo religioso – da nação santa protegida por Deus – presente na parte oriental da Europa não está ausente nem mesmo de algumas Igrejas católicas. A teoria da "Terceira Roma" e o mito de Roma Cidade Eterna sobrevivem, e como. Há aqui um grande problema a ser resolvido de uma vez por todas, ao menos na Igreja Ortodoxa: a Igreja nacional, a sua natureza, o seu território, o seu governo; um Concílio inteiro não seria suficiente para resolver isso.
Outro conceito, tanto teológico quanto prático, é ilustrar, descrever e regulamentar, de algum modo, a chamada sinodalidade de que todos falam. Todos a anunciam como se fosse o remédio para todos os males. Seria uma ótima oportunidade para que a Igreja Ortodoxa desse uma boa lição para todos os outros – católicos, protestantes, Igrejas livres etc. –, mas parece que, entre o dizer e o fazer, há um oceano inteiro.
Certamente, criou-se o caso da não convergência entre as Igrejas sobre o que deve ser feito. A questão é: fazer com que ele seja resolvido ou aproveitar para convidar o interessado – o primus inter pares – a não tentar aumentar o seu próprio prestígio – queira-se ou não, ele estará na primeira fila – e lembrá-lo de que "nós também existimos"? A sinodalidade deverá ser vivida de acordo com formas paritárias. O problema é criado e alimentado para forçar o primus a interpelá-los e resolvê-lo.
Em conclusão, tendo diante dos olhos tanta violência que serpenteia no mundo, o niilismo dominante, o domínio da economia, a desagregação da família, o hedonismo que degrada e anula a pessoa humana, com o que nos ocupamos nós – católicos, ortodoxos, protestantes, Igrejas livres – que honramos o nome de cristãos? A quem nos assemelhamos: ao Imperador Constantino ou ao Nazareno peregrino que recomendava aos seus discípulos nômades: "Aquele que quiser ser o primeiro seja o servo de todos"?
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Concílio pan-ortodoxo: um mapa eclesial - Instituto Humanitas Unisinos - IHU