13 Junho 2016
“O mundo não será melhor enquanto estiver composto somente por pessoas aparentemente ‘perfeitas’, advertiu o Papa Francisco. Na atualidade há os que querem desfazer-se dos enfermos “o quanto antes, porque são uma carga econômica insustentável em tempos de crise”, e, embora não exista um medicamento eficaz para tudo, “a resposta sempre é o amor”. Por isso, insistiu Francisco, não convém encerrar os enfermos “em algum ‘recinto’ (talvez dourado) ou nas “reservas’ do pietismo e do assistencialismo”.
Na homilia da missa que celebrou em São Pedro por ocasião do jubileu dos enfermos e das pessoas com deficiência física, o Papa Francisco assegurou que “a enfermidade encontra em Cristo seu sentido último”. Para a cultura do prazer, “o enfermo não pode ser feliz”, mas contra a “patologia da tristeza” a solução é “amar apesar de tudo”.
O Papa descreveu uma época na qual “o cuidado do corpo se converteu num negócio no qual o que é imperfeito deve ser ocultado porque vai contra a felicidade e tranquilidade dos privilegiados e põe em crise o modelo imperante”. Uma época na qual é melhor “manter estas pessoas separadas, em algum ‘recinto’ – talvez dourado – ou nas ‘reservas’ do pietismo e do assistencialismo, para que não obstaculizem o ritmo de um falso bem-estar”. Em alguns casos, inclusive, se sustenta que é melhor “desfazer-se” das pessoas incapacitadas “o quanto antes, porque são uma carga econômica insustentável em tempos de crise”.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, jornalista, publicada por Vatican Insider, 12-06-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
Imagem: paulosuess.blogspot.com
Mas, na realidade, denunciou Jorge Mario Bergoglio, “com que falsidade vive o homem de hoje ao fechar os olhos ante a enfermidade e a incapacidade. Não compreende o verdadeiro sentido da vida, que inclui também a aceitação do sofrimento e da limitação”. De fato, “o mundo não será melhor quando esteja composto somente por pessoas aparentemente “perfeitas”, para não dizer senão quando cresça a solidariedade entre os seres humanos, a aceitação e o respeito mútuo”.
E depois sublinhou: “O modo em que vivemos a enfermidade e a incapacidade é sinal do amor que estamos dispostos a oferecer. O modo em que enfrentamos o sofrimento e a limitação é o critério de nossa liberdade de dar sentido às experiências da vida, também quando nos pareçam absurdas e imerecidas”.
Por isso, o Papa Francisco fez uma chamada no sentido de não nos deixarmos “perturbar por estas tribulações”, pois devemos saber que “na debilidade podemos ser fortes, e receberemos a graça de completar o que falta em nós ao sofrimento de Cristo, em favor da Igreja, seu corpo; um corpo que, à imagem daquele do Senhor ressuscitado, conserva as feridas, sinal do duro combate, mas são feridas transfiguradas para sempre pelo amor”. A natureza humana, “ferida pelo pecado, leva inscrita em si a realidade do limite. Conhecemos a objeção de que, sobretudo nestes tempos, ela se coloca ante uma existência marcada por grandes limitações físicas”.
Então, “considera-se que uma pessoa enferma ou incapacitada não pode ser feliz, porque é incapaz de realizar o estilo de vida imposto pela cultura do prazer e da diversão”. E “não existe somente o sofrimento físico; hoje, uma das patologias mais frequentes é a que afeta o espírito”. O Papa evocou o espectro da depressão, um sofrimento que “afeta o ânimo e faz que esteja triste porque está privado de amor”. Quando “se experimenta a desilusão ou a traição nas relações importantes, então descobrimos nossa vulnerabilidade, debilidade e desamparo. A tentação de fechar-se sobre si mesmo chega a ser muito forte, e se pode até perder a oportunidade da vida: amar apesar de tudo. Amar apesar de tudo!”.
O Papa recordou que é preciso ter cuidado frente a uma atitude que concebe o limite como algo que sempre se pode superar: “em nosso ânimo se pode dar inclusive uma atitude cínica, como se tudo se pudesse resolver suportando ou contando somente com as próprias forças”. Mas, na realidade, “todos, cedo ou tarde, estamos chamados a enfrentar-nos, e às vezes a combater, com a fragilidade e a enfermidade nossa e a dos demais”. E “esta experiência tão típica e dramaticamente humana assume uma grande variedade de rostos. Em qualquer caso, ela nos coloca de maneira aguda e urgente a pergunta pelo sentido da existência”.
As leituras da Missa foram proclamadas por pessoas com diferentes deficiências físicas e foram também traduzidas à língua de sinais internacional. Uma garota cega leu em braile e o rito foi transmitido ao vivo a nível mundial com um intérprete para surdo-mudos. As orações dos fiéis, em diferentes línguas, foram pronunciadas por pessoas enfermas e com incapacidades de diferentes nacionalidades. Por primeira vez na Praça São Pedro a leitura do Evangelho foi “encenada” por um grupo que tinha alguma incapacidade mental ou intelectiva.
Concelebrou com o Sumo Pontífice o padre Cyril Axelrod, redentorista surdo e cego, conhecido por seu compromisso a favor das pessoas incapacitadas. “Para catequizar se podem usar movimentos, emoções, expressões do rosto, a linguagem do corpo, o tato. Há vários métodos que ajudam as pessoas cegas, surdas, surdo-cegas e as pessoas com graves incapacidades mentais a abrir o coração a Cristo, para que Ele possa entrar em suas vidas”, explicou Axelrod ao periódico “Avvenire”, que se comunica utilizando a linguagem de senhas tácteis.
“Minha vocação é a de ajudar a todos a ver quão poderoso é o Senhor em nossas vidas – insistiu o religioso que sempre é acompanhado por uma pessoa que transforma em frases os signos que traça na palma de sua mão. A catequese não é só de palavras, palavras, palavras. É preciso compreender quais são as possiblidades que têm as pessoas incapacitadas para compreender e qual é a melhor maneira para ajudar a todos, inclusive as crianças, a receberem Jesus, e a experimentarem sua alegria”.
Depois da celebração, durante o Angelus, o Pontífice recordou que hoje se festeja a Jornada contra o trabalho infantil. “Renovemos todos unidos o esforço para remover as causas da escravidão, que priva milhões de crianças de alguns direitos fundamentais e os expõe a graves perigos”, disse o Papa.
“Unamo-nos à alegria e à ação de graças da diocese de Vercelli” e “de Montreal”, pediu Francisco recordando a beatificação de ontem do sacerdote Giacomo Abbondo, e hoje, em Montreal, da Irmã Carolina Santocanale, fundadora das Irmãs Capuchinhas da Imaculada de Lourdes. Antes da oração mariana, Francisco também expressou o desejo de “um frutuoso empenho na luta contra a lepra”, e agradeceu aos organizadores e aos participantes no Congresso internacional dedicado à cura das pessoas afetadas por esta enfermidade, que teve lugar em Roma nos dias passados. Para concluir, agradeceu de maneira particular aos peregrinos presentes com “sua condição de enfermidade ou incapacidade”, que chegaram a Roma por ocasião do Jubileu dos Enfermos, e também aos médicos e aos operadores sanitários.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Francisco: o modo em que vivemos a enfermidade demonstra a nossa maneira de amar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU