19 Abril 2016
Publicamos os desenhos que foram consignados sábado passado a Francisco pelas crianças do Mória Refugee Camp em Lesbos.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 18-04-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
Foto: Francesco Sforza/L’Osservatore Romano
“Querem a paz!”
“Saudamos em torno de 300 destes refugiados, um a um. Muitos deles eram crianças; alguns deles – destas crianças – assistiram à morte dos pais e dos companheiros, alguns mortos afogados no mar. Vi tanta dor!”. O Papa Francisco afasta os olhos do texto do discurso preparado, no termo da prece dominical. Ainda retêm nos olhos os vultos, as lágrimas, o desespero que encontrou vinte e quatro horas antes, no campo de refugiados de Mòria, na ilha grega de Lesbos. Aos muitos fiéis que lotam a Praça São Pedro Bergoglio conta o caso de um jovem pai que ficou viúvo: “Quero contar um caso particular, de um homem jovem que não tem 40 anos.
Encontrei-o ontem, com os seus dois filhos. Ele é muçulmano e me contou que era casado com uma jovem cristã, que se amavam muito e se respeitavam reciprocamente. Mas infelizmente esta jovem foi degolada pelos terroristas, porque não quis renegar Cristo e abandonar a sua fé. É uma mártir! E aquele homem chorava tanto...” É o homem que não deixava de soluçar ajoelhado aos pés de Francisco junto às suas crianças.
Dos muitos encontros no campo de refugiados, aonde se dirigiu sábado junto ao Patriarca Bartolomeo e ao arcebispo Ieronymos, os que mais atingiram o Pontífice foram aqueles menores. Crianças que ficaram sós no mundo, que viveram sob as bombas e não dormem à noite devido ao medo. Crianças que quiseram fixar em seus desenhos o que viram, os seus sofrimentos e as suas esperanças.
Sob a tenda branca, a Mòria, um garotinho com a regata azul e branca, alcançou a Francisco uma folha com o desenho de alguns coetâneos por trás da tela metálica. “Isto é para mim? O fizeste tu? E quais destes és tu?” pergunta o Papa ajudado pelo intérprete.
Azadi, o menino, mostra com o dedo a pessoa que o representa, com um lenço na cabeça e uma bandeira que traz o escrito “Help”, ajudem. “Sou eu com os meus amigos no campo”, explica. O papai está junto dele. Pega a mão de Francisco e diz: “É lindo que tu estejas aqui”.
A não muita distância outro menino, com um macacão azul, oferece ao Papa um desenho. Aqui se vê o sol chorar lágrimas cor de sangue, e se veem adultos e crianças que se afogam. O Papa Bergoglio o olha e fica impressionado. “Este desenho é um símbolo”, diz ao Patriarca Bartolomeo. Agradece ao menino e passa a folha a um dos seus colaboradores dizendo: “Que não se perca! Quero-o sobre minha escrivaninha”.
Aqueles desenhos, [que reproduzimos nesta página], não foram perdidos. Francisco ficou impressionado, se vê que os valoriza muito e quando aparece no setor do avião Alitalia que traz de volta a ele, a comitiva e os jornalistas a Roma, faz que levem também aquelas folhas coloridas. Talvez se espere uma pergunta sobre a emoção provocada pelos encontros da jornada. E visto que não chega, a certa altura fala ele tomando a iniciativa. “Quero dizê-lo hoje, aquilo que vi e que vocês viram, naquele campo de refugiados... era de chorar!
As crianças... Trouxe comigo, para que vejam: as crianças me presentearam tantos desenhos”. Francisco mostra as folhas uma a uma.
“Que coisa querem as crianças? Paz, porque sofrem... Mas o que viram, aquelas crianças! Vejam isto: viram também um menino se afogando. Isto as crianças têm a peito! Realmente, hoje era de se chorar. O mesmo tema o fez este menino: vê-se que a barca que vem do Afeganistão volta à Grécia. Estas crianças têm isto na memória! E será preciso tempo para elaborá-lo. Vejam isto: O sol que vê e chora. Mas, se o sol é capaz de chorar, também a nós uma lágrima fará bem”.
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E o Papa disse: “Quero aqueles desenhos sobre a escrivaninha” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU