15 Fevereiro 2016
"Nós vimos a sua estrela surgir no Oriente." Quando chegaram a Jerusalém para adorar o Menino, de acordo com o Evangelho de Mateus, os três Reis Magos disseram isso a Herodes. Mas esses reis sábios não poderiam imaginar que, depois de dois milênios cristãos, aquela estrela brilharia no Oriente, em cima da China. Um país que, muito antes de meados deste século (provavelmente em 2030), será o país com mais católicos no mundo.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada no jornal Il Foglio, 12-02-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A star in the East. The Rise of Christianity in China, publicado pela Templeton, ainda sem tradução ao italiano [nem ao português], é um livro extraordinário. Ele descreve o que aconteceu nos últimos 60 anos nessa grande nação.
O autor é Rodney Stark, máximo sociólogo das religiões, hoje professor de Ciências Sociais na Baylor Univesity do Texas, depois de ter estado por duas décadas em Washington. Codiretor do Instituto para os Estudos sobre as Religiões, ele também é professor honorário de Sociologia na Universidade de Pequim.
Quem são os católicos chineses? A China será cristã? Como e por que católicos e outros cristãos sobreviveram às perseguição? Parte-se dos números: tomando como base 1980, ano em que terminou oficialmente a perseguição contra os cristãos, e avaliando em cerca de 10 milhões os cristãos presentes na China na época, esse número se sextuplicou em menos de 30 anos, fazendo com que, em 2007, houvesse o mesmo número de inscritos no Partido Comunista, isto é, 60 milhões.
Projetando tal taxa de crescimento (de cerca de 7%) para os próximos 15 anos, Stark defende que, com toda a probabilidade, em Pequim, haverá 294,6 milhões de cristãos em 2030. As estimativas para 2040, depois, chegam a 579,5 milhões.
Mas como os chineses se convertem ao cristianismo justamente quando o desenvolvimento econômico e o bem-estar se espalharam por todo o país? Segundo o autor, essa é a prova de que a religião – ao contrário do que defendiam os fundadores do marxismo científico – não é o ópio dos povos, isto é, o consolo dos pobres, dos abjetos, daqueles que não têm nada, mas ela encontra um terreno natural de acolhida no momento em que a população sofre no mínimo de uma "privação cultural" típica de um desenvolvimento econômico que cortou os laços com a cultura do passado (ou seja, incapaz de "responder" às novas exigências).
Paradoxalmente, a partir desse ponto de vista, se poderia tirar a consequência de que o Estado e o Partido Comunista teriam interesse em compreender que o país não pode sustentar as taxas de crescimento econômico alcançados até agora sem permitir que o povo alimente as suas raízes ideais.
A contraprova está no fato de que o cristianismo está em crescimento exponencial em toda a Ásia, não só e nem tanto por motivos de expansão demográfica. Em apoio a essa interpretação, há também outro indicador destacado por Stark, isto é, que o percentual de cristãos é maior nas camadas populacionais com maior nível de educação, porque o cristianismo é percebido como "uma chave" para entrar na modernidade por causa da valorização da razão, isto é, do elemento racional de compreensão do ser humano, do mundo e da história.
Mas de que tipo de cristianismo se trata? Os cristãos, tanto católicos quanto protestantes, defende o sociólogo da Baylor Univesity, são muito conservadores. Os católicos são muito identitários, alguns poderiam dizer até "fundamentalistas". Isto é, eles têm pouco a ver, escreve Stark, com o Concílio Vaticano II.
Décadas de repressão brutal fizeram com que apenas aqueles que estavam fortemente convencidos permaneceram cristãos e foram capazes, portanto, de expandir a fé, não com os discursos, mas através dos seus laços sociais e comunitários: a sua rede familiar e de amizades. Isso fez com que, mesmo na ausência de bispos e de padres, a fé sobreviveu, se propagando.
O Papa Francisco dirigiu as suas saudações ao povo chinês e ao seu presidente, Xi Jinping, para o Ano Novo chinês, que cai no dia 8 de fevereiro, em uma recente entrevista publicada pelo jornal Asia Times. Por uma singular coincidência da história, o pontífice e Xi Jinping começaram o seu mandato a poucas horas de distância um do outro, em março de 2013.
Se Bergoglio conseguir coroar o sonho de uma viagem à China, a luz daquela estrela que surgiu no Oriente vai surpreender até mesmo ele, porque poderia acontecer que a China, em um futuro determinado, desempenhe para o cristianismo o papel que Roma teve nos primórdios da cristandade.
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Francisco e Pequim: a estrela que surge no Oriente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU