“Em nosso diálogo, ainda permanecem algumas diferenças na doutrina e na prática”. Isso porém “não deve nos desencorajar, mas nos impulsionar a prosseguir juntos no caminho de uma maior unidade, superando antigas concepções e reticências”, disse o Papa Francisco a uma delegação ecumênica da Igreja Luterana da Finlândia no início da Semana de Oração para Unidade dos Cristãos. 

A reportagem é de Iacopo Scramuzzi, publicada por Vatican Insider, 18-01-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

“De maneira especial, podemos agradecer ao Senhor pelos frutos do diálogo entre luteranos e católicos. Aqui eu penso em particular no documento comum sobre a Justificação da Vida da Igreja”, disse o papa, referindo-se à declaração conjunta sobre a doutrina da justificação assinada em August, Alemanha, em 31 de outubro de 1999. Edificando-se sobre estas bases, “tal diálogo prossegue em seu caminho promissor rumo a uma interpretação comum, no âmbito sacramental, eclesial, eucarístico e ministerial. Os passos importantes realizados juntos estão construindo um fundamento sólido de comunhão de vida na fé e na espiritualidade e as relações são cada vez mais imbuídas de um espírito de confronto sereno e partilha fraterna. (…) Em nosso diálogo, ainda permanecem algumas diferenças na doutrina e na prática. Isso porém não deve nos desencorajar, mas nos impulsionar a prosseguir juntos no caminho de uma maior unidade, superando antigas concepções e reticências. Num mundo muitas vezes dilacerado por conflitos e marcado pelo secularismo e indiferença, todos unidos somos chamados a proclamar Jesus Cristo, tornando cada vez mais testemunhas críveis da unidade e artífices da paz e reconciliação. Queridos irmãos e irmãs, eu também sou grato pelo compromisso compartilhado de vocês em cuidar da criação, e lhes agradeço pelo sinal simbólico de hospitalidade, que recebi em nome do povo finlandês. Na esperança de que esta visita vai fortalecer ainda mais a cooperação entre as suas respectivas comunidades, invoco sobre todos vocês as graças abundantes de Deus e cordialmente ofereço-lhes a minha bênção”.

Durante a visita à comunidade luterana de Roma em dezembro passado, Jorge Mario Bergoglio fez um comentário significativo sobre a intercomunhão em uma fala proferida de improviso. O seu discurso de hoje começou com uma palavra de agradecimento endereçada ao bispo luterano de Helsinki, Irja Asola, quem estava presidindo a delegação. O papa enfatizou que a peregrinação ecumênica anual a Roma para a Festa de Santo Henrique, santo padroeiro do país, “é um sinal eloquente do fato de que, como luteranos, ortodoxos e católicos, vocês reconhecem o que os une e, juntos, desejam dar um testemunho de Jesus Cristo, que é o fundamento da unidade”.

A Semana de Oração para a pela Unidade dos Cristãos começou dia 18 de janeiro sob o tema “Chamados para proclamar os atos poderosos do Senhor” (cf. Pedro 2,9). Os textos propostos para este ano foram preparados pela Lituânia. “A Reforma não só levou a uma redescoberta da Bíblia e da Doutrina da Justificação, por exemplo, mas também a uma separação e desencadeou horríveis guerras religiosas nos séculos XVI e XVII”, disse o Cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, à Rádio Vaticano. 

Recentemente, o Papa Francisco declarou: “Ao vermos as batalhas sangrentas entre sunitas e xiitas, devemos lembrar que luteranos e católicos fizeram a mesma coisa. Como tal, precisamos pedir perdão. Mas isso é apenas um aspecto. Não estamos apenas celebrando o aniversário de 500 anos do início da Reforma; estamos também celebrando 50 anos de diálogo ecumênico entre católicos e luteranos: devemos ser gratos pelo fato de que, ao longo das últimas décadas, nós redescobrimos muitas coisas que temos em comum. O terceiro aspecto é a esperança. A esperança de que esta celebração comum da comemoração da Reforma irá nos ajudar a encontrar uma nova confiança no futuro”.

No dia 25 de janeiro, como todo ano, o papa concluirá a Semana Ecumênica com uma celebração na Basílica de São Paulo Fora dos Muros.