18 Dezembro 2015
Neste último domingo do Advento, a liturgia nos convida a voltar à fonte da nossa vida de cristãos. O dia do nascimento de Cristo ainda não chegou, mas já podemos contemplá-lo, fazendo Isabel ficar repleta do Espírito Santo, e já podemos também nos alegrar com a sua mãe, que acreditou nas palavras do Senhor.
A reflexão é de Marcel Domergue (+1922-2015), sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do 4º Domingo do Advento, do Ciclo C. A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.
Eis o texto.
Referências bíblicas:
1ª leitura: «De ti haverá de sair aquele que dominará em Israel» (Miqueias 5,1-4)
Salmo: Sl 79(80) R/ Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos para que sejamos salvos!
2ª leitura: «Eu vim para fazer a tua vontade» (Hebreus 10,5-10)
Evangelho: «Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar» (Lucas 1,39-45)
Duas mulheres
Por que vai Maria com tanta pressa, visitar a sua prima Isabel? Não ousaria responder que quisesse verificar a palavra do anjo (1,36, fora da leitura). Prefiro pensar que desejasse compartilhar a sua alegria. Por que não? O que estava acontecendo com estas duas mulheres era algo extraordinário! Através delas, Lucas, com certeza, quer que tomemos consciência da maravilha que representa toda maternidade. Aliás, esta é uma página totalmente feminina: dela, os homens estão ausentes. Outros textos vão nos falar da paternidade humana. O que por ora temos de saber é que toda paternidade vem de Deus "de quem toma o nome toda a família no céu e na terra" (Efésios 3,15). Mas a maternidade de alguma forma é um segredo entre a mulher e Deus, pois Deus é quem age em toda fecundidade. Este é o significado de todos os nascimentos milagrosos que estão na Bíblia. No nascimento de seu primeiro filho (Gn 4,1), Eva exclama: "Adquiri um homem com a ajuda de Yahweh". O macho permanece exterior ao mistério da gestação e do parto. Maria e Isabel compartilham a alegria da vida que lhes foi dada e recebida como participação na fecundidade divina. De todos os homens, em certo sentido pode-se dizer "que não foram gerados nem do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1,13). Toda maternidade é maternidade divina, porque proveniente de Deus e porque gera os filhos de Deus.
Da parte do Senhor
"Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido", disse Isabel. Vamos, por ora, nos deter neste "da parte do Senhor" que tantas vezes tem passado desapercebido. De fato, mesmo sendo Deus a origem de tudo, em geral é por intermédio de mensageiros que a sua palavra e a sua ação nos atingem. Através de uns e de outros, Deus encontra-se conosco e a sua paternidade passa pela paternidade humana. Todos, desta forma, podemos ser caminho de Deus. Em nossas celebrações, muitas vezes proclamamos a "palavra de Deus". Sim, mas esta palavra foi-nos dada através de um livro que é obra de autores humanos. Deus falou conosco através do seu "Filho" e o que nos disse, enfim, nos foi relatado segundo Mateus ou Marcos ou Lucas ou, então, segundo João. Maria acolheu a palavra que lhe foi dita da parte de Deus: por meio de um "anjo"! A dificuldade que temos em compreender o que esta palavra significa é grande, mas ela sinaliza a presença de um mensageiro, de um mediador. E esta "função angelical" somos todos chamados a exercer, ainda que sem saber, na maior parte do tempo. O salmo 19 (1-7) nos mostra a Palavra de Deus; Palavra para a qual “não há termos, não há palavras”, mas que se manifesta no dia e na noite, nos céus e na terra... E assim é que Deus nos fala através de todas as coisas, numa "linguagem" somente perceptível à fé. No início do evangelho, só se vê e se ouve a saudação de Maria a Isabel, mas foi o bastante para que a criança estremecesse de alegria no ventre da sua mãe e para que, "repleta do Espírito Santo", pudesse identificar a visita de Deus.
"Feliz aquela que acreditou"
O primeiro capítulo de João diz que o Verbo veio para os seus, mas os seus não o receberam. Exceto alguns, porém. Estes, por isso, conheceram um novo nascimento, para se tornarem filhos de Deus. De novo: as figuras bíblicas superam os seus pontos de partida humanos. Maria recapitula e ultrapassa todos os que receberam a Deus. E, por aí, torna-se a uma só vez sua filha, semelhante, e sua mãe em humanidade. Este é o efeito da fé. O que Maria vive em plenitude, vivemos também nós, à nossa medida. A nossa fé nos faz acolher a Deus e, por meio dela, O colocamos no mundo; damos-Lhe acesso ao nosso universo. Assim, pois, Deus se põe nas mãos dos homens, e sabemos bem até onde irá chegar... Filha de Deus, mãe de Deus, deste Deus que se fez pequenininho, Maria conhece a alegria do cumprimento: ela é a humanidade perfeita, elevada ao cume, porque se fez a escrava, na humildade da sua fé. É o que nos repete o Magnificat, que se segue imediatamente ao nosso evangelho. Notemos que o Magnificat passa sem nenhuma transição do que acontece com Maria ao que acontece com todos os humildes, com todos os que acolhem a Deus, com todos os famintos. Ainda uma vez, podemos constatar que o que acontece com Maria é uma figura do que acontece com todos nós, quando dizemos «sim» para Deus. Sem dúvida, é por isso que o Magnificat é feito de citações escriturais (ao menos 17). Maria coroa a Aliança de Deus com o seu povo e inaugura o povo novo: é a figura da humanidade perfeita.
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No Espírito Santo, esperemos com Maria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU