04 Dezembro 2015
Quando alunas de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) decidiram denunciar abusos sexuais nos ambientes universitários, no final do ano passado, não estavam apenas rompendo anos de silêncio, mas escancarando ao país que a cultura do estupro também impera no Ensino Superior. Em uma pesquisa inédita divulgada ontem, quase 70% das universitárias afirmaram já terem sofrido algum tipo de violência em espaços acadêmicos.
A reportagem é de Fernanda da Costa, publicada por Zero Hora, 04-12-2015.
Encomendado pelo Instituto Avon ao Data Popular, o levantamento ouviu 1.823 universitários das cinco regiões de todo o país, sendo 60% mulheres. Das entrevistadas, 67% já sofreram algum tipo de violência (sexual, psicológica, moral ou física) no ambiente universitário. Entre os homens, 38% dos estudantes admitiram já ter praticado pessoalmente algum tipo de violência contra mulheres em espaços acadêmicos.
Diferentemente da violência doméstica, em que a Lei Maria da Penha tipifica todos os casos, o grande problema da violência de gênero nas universidades é que ela não está clara nem para quem sofre nem para quem comete, segundo a presidente do Conselho do Instituto Avon, Alessandra Ginante.
Na pesquisa, apenas 10% das mulheres afirmaram espontaneamente ter sofrido algum tipo de violência no ambiente acadêmico. No entanto, quando foram questionadas se sofreram algum dos itens de uma lista de violências, o número saltou para 67%. No caso dos homens, apenas 2% admitiram de forma espontânea ter cometido algum ato de violência. Questionados a partir de uma lista de situações violentas, 38% deles reconheceram ter praticado as ações.
– Um dos valores que a pesquisa tem é classificar esses tipos de violência, que precisam ser combatidos – completou Alessandra.
O presidente do Data Popular, Renato Meirelles, acrescenta que o levantamento mostrou que a desigualdade de gênero não está ligada à desigualdade social:
– Os muros da universidade não são impermeáveis ao machismo da sociedade brasileira. A violência contra a mulher não está ligada à desigualdade social, não ocorre apenas em meios de menor escolaridade – explica.
Medo e abandono da academia
Casos frequentes de violência fizeram com que 42% das alunas sentissem medo nos ambientes universitários e 36% delas já deixaram de fazer alguma atividade acadêmica por isso. O levantamento mostrou que 49% das alunas já foram desqualificadas intelectualmente no ambiente universitário por serem mulheres, com piadas ou sátiras de gênero.
Embora dois terços das alunas tenham sofrido violência, 63% não reagiram, diz a pesquisa. A maioria delas, por medo de ser exposta (61%). Das que contaram, um terço sofreu represálias, como ser hostilizada, ficar isolada ou ser exposta na universidade.
– É preciso pensar uma solução para esse problema que passe pela responsabilização de todos os componentes da comunidade acadêmica – afirmou o presidente do Data Popular, Renato Meirelles.
A pesquisa foi apresentada no Fórum Fale sem Medo, em SP. Criado pelo Instituto Avon, ocorre há três anos e integra agenda nacional da campanha mundial 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres.
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Violência na rotina da universidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU